Larissa Schoemberger – Internacionalista formada pela Unama

O Mar Mediterrâneo, que já foi sinônimo de comércio próspero e de intercâmbio cultural, hoje é tragicamente conhecido como “o cemitério de refugiados”. Milhares de pessoas arriscam suas vidas atravessando este mar em pequenos botes infláveis em busca de uma vida melhor, fugindo de conflitos armados, pobreza extrema e perseguições. De acordo com a Organização Marítima Internacional (OMI), desde 2014, mais de 20 mil pessoas perderam a vida ou desapareceram nas águas do Mediterrâneo.

[…], o secretário-geral da Organização Marítima Internacional (OMI) declarou que o fluxo de migrantes ilegais pelo mar atinge “proporções epidêmicas”. Em 2014, mais de 200 mil pessoas foram resgatadas e outras cerca de 3 mil teriam morrido em viagens marítimas inseguras, irregulares e ilegais no Mediterrâneo. No começo deste ano, uma nova prática foi identificada: navios começaram a ser abandonados à deriva para escapar das operações de patrulhamento, aumentando ainda mais o risco de acidentes e mortes para os passageiros (INPACTO, 2015, online).

Relatos pessoais de sobreviventes do Mediterrâneo descrevem a travessia como um inferno, com semanas em alto-mar sem comida ou água suficiente, enfrentando o medo constante de naufrágios e violência. Histórias de mães que perderam seus filhos durante a travessia e de jovens que viram amigos morrerem diante de seus olhos ilustram o desespero e a coragem dessas pessoas.

As rotas migratórias mais utilizadas incluem o mediterrâneo central sendo essa a travessia da Líbia para a Itália e a ocidental sendo do Marrocos para a Espanha. Essas jornadas são extremamente perigosas devido principalmente às condições precárias das embarcações, além da falta de suprimentos e às condições climáticas. Muitos refugiados também são vítimas dos traficantes e contrabandistas de seres humanos, os famosos smuggles, que lucram com o desespero dos refugiados, cobrando quantias exorbitantes para a travessia.

Todos os anos, milhares de pessoas são forçadas a realizar viagens pelo Mediterrâneo para fugir de guerras, perseguições e situações de vulnerabilidade em seus lugares de origem. O Mar Mediterrâneo Central é uma das rotas de migração mais mortais do mundo. A falta de trajetos seguros e legais para que as pessoas cheguem à Europa as força a enfrentar essa rota e as expõe ainda mais a redes de tráfico humano. Na Líbia, a detenção de migrantes e refugiados interceptados no Mediterrâneo é um mecanismo usado para promover sequestros e extorsões (MSF, 2023, online).

A crise migratória no Mediterrâneo é resultado de múltiplos fatores, incluindo conflitos prolongados no Norte da África e no Médio Oriente, mudanças climáticas que agravam a escassez de recursos e políticas de migração restritivas da União Europeia. A guerra civil na Síria, por exemplo, é uma das principais causas do êxodo em massa que se iniciou em 2014. Além disso, a instabilidade política na Líbia facilita o tráfico de pessoas, tornando o país um ponto de partida comum para os refugiados.

A resposta da União Europeia à crise migratória tem sido amplamente criticada. Muitas nações adotaram políticas rigorosas para limitar a entrada de refugiados, incluindo o fortalecimento das fronteiras e a cooperação com países de trânsito como a Turquia e a Líbia para conter o fluxo migratório. Essas medidas, no entanto, têm sido acusadas de violar os direitos humanos e de aumentar o risco de vida para os migrantes. “Chefe de agência da ONU diz que mortes de migrantes que tentam chegar à Europa são “intoleráveis””. E que o “número de travessias aumentou mais de 300% em relação ao primeiro trimestre de 2022” (DEUTSCHE WELLE, 2023, online).

Organizações não governamentais (ONGs) e agências internacionais têm trabalhado incansavelmente para resgatar os refugiados no Mediterrâneo. Missões de busca e salvamento, como as realizadas pela Médicos Sem Fronteiras (MSF) já salvaram milhares de vidas. No entanto, essas operações enfrentam desafios constantes, como restrições impostas por governos europeus, falta de recursos e milícias que queimam seus botes para inibir o resgate dos refugiados (PROFISSÃO REPÓRTER, 2024, online).

Além das vidas perdidas, a crise migratória no Mediterrâneo também tem consequências socioeconômicas e políticas de longo alcance. A chegada de um grande número de refugiados coloca pressão sobre os sistemas de saúde, educação e habitação dos países de destino. Ao mesmo tempo, o debate sobre a imigração tem polarizado sociedades e influenciado eleições e políticas públicas principalmente em países europeus.

A tragédia no Mediterrâneo trouxe à tona a necessidade de soluções globais para a crise dos refugiados. É defendido a criação de rotas seguras e legais para a migração e a cooperação internacional para combater o tráfico e o contrabando de pessoas. A luta para transformar o Mediterrâneo de um cemitério de refugiados em um caminho seguro e digno para aqueles que buscam uma nova vida tem de ser  contínua. É essencial que a comunidade internacional se una para enfrentar as causas profundas da migração forçada e para proteger os direitos e a dignidade dos refugiados. Somente com uma abordagem humanitária e coordenada será possível evitar mais tragédias e construir um futuro de esperança para todos.

REFERÊNCIAS

DEUTSCHE WELLE. Mais de 400 morreram ao tentar atravessar Mediterrâneo desde o início de 2023. G1, 13 abr 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/04/13/mais-de-400-morreram-ao-tentar-atravessar-mediterraneo-desde-o-inicio-de-2023.ghtml. Acesso em: 29 jul 2024.

INPACTO. Entenda a diferença entre tráfico de pessoas e contrabando de migrantes. InPACTO, 16 abr 2015. Disponível em: https://inpacto.org.br/entenda-a-diferenca-entre-trafico-de-pessoas-e-contrabando-de-migrantes/.  Acesso em: 29 jul 2024.

MÉDICOS SEM FRONTEIRAS (MSF). Migração no Mar Mediterrâneo: seis histórias de sobrevivência. MSF, 3 mar 2023. Disponível em: https://www.msf.org.br/noticias/migracao-no-mar-mediterraneo-seis-historias-de-sobrevivencia/. Acesso em: 29 jul 2024.

PROFISSÃO REPÓRTER. Bote com refugiados é incendiado por milícia líbia no Mar Mediterrâneo. G1, 31 jul 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2024/07/31/bote-com-refugiados-e-incendiado-pela-milicia-no-mar-mediterraneo-veja-video.ghtml. Acesso em: 31 jul 2024.