
Railson Silva (acadêmico do 8º semestre de RI da UNAMA)
Os Estudos de Segurança Internacional (ESI) são uma área considerada central no campo das Relações Internacionais (RI), preocupada com a análise e a gestão de ameaças à paz e à segurança global. Tradicionalmente, esta subdisciplina foi dominada pelo paradigma realista, que enfatiza principalmente a segurança estatal e o equilíbrio de poder. Autores realistas como Hans Morgenthau e Kenneth Waltz enaltecem a natureza anárquica do sistema internacional e a inevitabilidade dos conflitos devido à constante busca por poder e segurança (Waltz, 1979).
Contudo, com o fim da Guerra Fria, as abordagens sobre a segurança se diversificaram, incorporando no meio acadêmico perspectivas mais críticas e construtivistas. Assim, Barry Buzan e Ole Waever, por meio da Escola de Copenhague, ampliaram o conceito de segurança para além das ameaças militares, introduzindo a ideia de securitização, onde questões sociais, econômicas e ambientais também são vistas como ameaças existenciais (Buzan, Waever & de Wilde, 1998). Essa nova ótica desafia a visão convencional de segurança e expande seu escopo para incluir novas dimensões de análise.
Além disso, o conceito de segurança humana emergiu como uma abordagem de extrema relevância, deslocando o foco da segurança do Estado para a segurança dos indivíduos, desafiando, assim, a visão tradicional centrada no Estado. Kofi Annan, ex-Secretário-Geral da ONU, salientou que a verdadeira segurança só pode ser alcançada quando as pessoas são protegidas de ameaças econômicas, sociais e ambientais, além das militares. Annan argumenta que nenhum tipo de instituição, por mais poderosa que seja, pode ser segura em um mundo cada vez mais inseguro, destacando a interdependência global (Annan, 2000).
De maneira complementar a essa abordagem, a interseção entre segurança e desenvolvimento nas análises teve um desenvolvimento significativo nos Estudos de Segurança Internacional, tendo o teórico Mary Kaldor, que defende a noção de “novas guerras”. Kaldor, em “New and Old Wars: Organized Violence in a Global Era“, discute a emergência das “novas guerras”, caracterizadas por conflitos internos, violência contra civis e intervenções humanitárias, refletindo as complexidades das dinâmicas de segurança no mundo contemporâneo (Kaldor, 2012). Essas guerras são frequentemente alimentadas por fatores econômicos e sociais, demonstrando a necessidade de abordagens integradas de segurança e desenvolvimento.
Em suma, os Estudos de Segurança Internacional evoluíram significativamente, passando de uma abordagem centrada no Estado e no poder militar para uma compreensão mais ampla e integrada das ameaças à segurança global. Essa evolução reflete as complexidades das dinâmicas de um mundo cada vez mais interconectado, no qual a segurança é vista de maneira multidimensional, incorporando aspectos humanos, econômicos e ambientais.
Referências:
ANNAN, kofi. Human Development Report. 2000
Buzan B, Waever O, Wilde Jd. Security: A New Framework for Analysis. Lynne Rienner Pub, 1998.
KALDOR, Mary. New and Old Wars: Organized Violence in a Global Era. Stanford University Press, 2012.
WALTZ, Kenneth Neal. Theory of international politics. Boston: McGraw, 1979.
