Eduardo Oliveira – internacionalista formado em Relações Internacionais pela Unama

Dentre as teorias mais importantes encontradas no escopo epistemológico das Relações Internacionais, a Teoria Construtivista representou um importante movimento de contestação de ideias fundantes desta área de conhecimento científico. 

Ademais, é importante salientar que o Construtivismo busca, de forma geral, questionar as epistemologias e ontologias de seus modelos teóricos predecessores, inserido assim, uma noção de que a realidade é socialmente construída. Dessa forma, a incorporação de elementos e variáveis intangíveis, num modelo reflexivista de investigação científica, potencializou a capacidade de analisar uma realidade global cada vez mais complexa e intangível. 

Embora o termo “Construtivismo” tenha sido introduzido na por Nicholas Onuf através do livro World of our Making (1989), foi popularizado graças ao artigo Anarchy is What States Make of It, de Alexander Wendt, publicado em 1992. Essas obras concordam que a premissa básica da abordagem construtivista é a que os agentes vivem em um mundo construído por eles próprios, o qual é produto de ideias, escolhas, normas e identidades. 

No Construtivismo está posta a lógica de co-construção, a qual concebe que os agentes moldam a estrutura enquanto esta molda estes mesmos agentes, tudo ao mesmo tempo e ao tempo todo. Assim, entende-se que nada é fixo ou manietado, tudo está sendo construído e reconstruído através de crenças intersubjetivas, as quais se apresentam como componentes comuns nas relações humanas. 

Para a área das Relações Internacionais, os resultados dos processos eleitorais ao redor do mundo demandam atenção criteriosa, sobretudo quando a eventual mudança da chefia de um estado pode representar uma brusca reformulação de sua política externa. Esta mudança político-ideológica não impacta apenas a organização interna do estado em questão, mas também pode alterar a forma como este se relaciona com os outros atores/agentes do Sistema Internacional. 

Nesse momento, a atenção dos principais atores/agentes, governamentais e não-governamentais, está voltada para a 60ª eleição presidencial quadrienal nos Estados Unidos, a qual está marcada para novembro de 2024. Nela, a histórica bipolaridade entre Republicanos e Democratas está ainda mais fervorosa, tendo em vista recentes acontecimentos impactantes, tais como a desistência à reeleição do atual mandatário democrata, Joe Biden, e a tentativa de assassinato do ex-presidente e atual candidato republicano Donald Trump

O processo eleitoral nos EUA é a prova da premissa construtivista que nada é fixo, e que posicionamentos e tendências internas podem ser reformuladas rapidamente. Isso foi percebido através da comparação de dados eleitorais de 2020 e pré eleitorais de 2024, os quais denotaram que Trump se saiu melhor em Estados decisivos que votaram em Biden em 2020, como Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin

A queda brusca na popularidade de Biden, mesmo entre os seus eleitores, aliado às suas gafes em rede nacional e internacional, demonstram a volatilidade e instabilidade de uma comunidade de eleitores que retirou Donald Trump, com todas as suas ideias, da Casa Branca em 2020, e que agora podem estar ajudando o ex mandatário na sua corrida para retornar à presidência.  

Outro ponto passível de análise através da ótica construtivista é como as eleições estadunidenses refletem a identidade nacional, valores e ideias concebidas pelos eleitores. As narrativas divulgadas por Trump desde 2016 são comuns em extremas direitas ao redor do mundo e que servem para disseminar um estado de alerta comunitário e promover bipolaridades. 

Um exemplo disso é a noção de Nativismo, a qual foi definida pela Enciclopédia Britannica como uma política governamental ou postura política “que prioriza os interesses e o bem-estar dos nativos ou residentes de longa data de um determinado país em detrimento daqueles dos imigrantes, normalmente defendendo ou decretando restrições à imigração.”

Apesar de não ter sido reeleito, é importante ressaltar que mais de 72 milhões de pessoas seguiram, entre outras ideias, o Nativismo e Trump, e que essas mesmas pessoas ainda estão no país, acreditando numa ideia infundada e que promove a reificação humana, principalmente quando se trata de refugiados.

Em suma, não é possível afirmar com precisão quem ocupará o maior cargo da nação estadunidense até 2028, no entanto, precisaremos estar preparados para o reordenamento internacional, tal qual afirmaram os construtivistas, tendo em vista que mentores da guerra estejam retornando ao poder num mundo sedento pela paz. 

REFERÊNCIAS: 

Atentado contra Trump: o que se sabe sobre a tentativa de assassinato em comício. Portal de Notícias CNN. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/veja-o-que-se-sabe-sobre-a-tentativa-de-assassinato-de-donald-trump-nos-eua/ . Acesso em: 15 ago. 2024.

BRAUN, J. O que é o nativismo, que está no cerne das propostas de Trump e da direita radical na Europa. BBC, 13 ago. 2024.

CARDOSO, J. Trump se sai melhor em Estados decisivos que votaram em Biden em 2020. Disponível em: https://www.poder360.com.br/poder-internacional/internacional/trump-se-sai-melhor-em-estados-decisivos-que-votaram-em-biden-em-2020/ . Acesso em: 15 ago. 2024.

EL PAÍS, E. Resultados das eleições nos Estados Unidos 2020 no EL PAÍS Brasil. Disponível em: <https://elpais.com/especiales/2020/elecciones-estados-unidos/resultados-eleitorais/&gt;. Acesso em: 15 ago. 2024.

Joe Biden desiste de tentar reeleição nos EUA e apoia Kamala HarrisBBC, 21 jul. 2024. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/clwyx9831wno Acesso em: 14 ago.2024

ONUF, N. G. World of our Making: Rules and rule in social theory and international relations. Londres, England: Routledge, 2013.

WENDT, A. Anarchy is what states make of it: the social construction of power politics. International organization, v. 46, n. 2, p. 391–425, 1992.