Railson Silva (acadêmico do 8º semestre de RI da UNAMA)

A Escola de Copenhague emergiu no final dos anos 80 e início dos anos 90, principalmente com o trabalho do Copenhagen Peace Research Institute (COPRI), e é considerado um importante marco teórico nas Relações Internacionais (RI). Esta escola teórica é associada aos conceitos de securitização e segurança societal, que fornece uma nova ótica para compreender como os Estados e outras entidades definem e lidam com ameaças à segurança. A teoria da securitização, central para a Escola de Copenhague, foi desenvolvida por autores como Ole waever e Barry Buzan, que através da introdução de novos conceitos, redefiniram o que significa segurança no contexto global contemporâneo (BUZAN, WAEVER & WILDE,1998).

O conceito de securitização, central na teoria da Escola de Copenhague, foi desenvolvido principalmente por Ole Waever. Segundo ele, a securitização descreve o processo pelo qual atores políticos transformam questões em ameaças existenciais por meio do discurso, justificando, assim, a adoção de medidas excepcionais para lidar com essas ameaças. Essa abordagem enfatiza que a segurança não é uma condição objetiva, mas uma construção social, onde a linguagem desempenha um papel crucial na definição do que é considerado uma ameaça (WAEVER, 1995). Dessa forma, ao focar no discurso, a Escola de Copenhague oferece uma nova perspectiva sobre como as questões de segurança são politicamente moldadas e manipuladas.

O grande diferencial da Escola de Copenhague é que ela não se limita a pensar em segurança apenas no contexto militar. Ela amplia o conceito para incluir outras áreas, como economia, meio ambiente, sociedade e política. Por exemplo, a segurança societal, uma das ideias centrais dessa escola, está ligada à capacidade de uma comunidade de manter sua identidade, mesmo diante de desafios como a globalização ou a imigração, que podem ameaçar a coesão social (WAEVER, 1993). Nesse viés, o discurso de securitização não é algo exclusivo de governos; ele pode ser utilizado por diferentes atores, como grupos dentro de um país ou organizações internacionais, refletindo dessa maneira a complexidade das atuais ameaças que existem no mundo.

Ademais, a Escola de Copenhague introduz uma forma desassociada de pensar sobre a segurança, onde diferentes setores, como militar, econômico, ambiental e societal, são analisados de formas separadas. Esse fato permitiu uma visão mais detalhada das ameaças que enfrentamos. Buzan, por exemplo, argumenta que uma crise econômica pode ser tão destrutiva quanto um conflito armado, especialmente em um mundo cada vez mais interconectado, no qual problemas financeiros podem se espalhar rapidamente, afetando vários países ao mesmo tempo (BUZAN e HANSE, 2009). Ao adotar essa visão mais ampla e inclusiva, a Escola ajudou a transformar o debate sobre segurança, tornando-o mais adequado às complexidades do mundo moderno, no qual questões como mudanças climáticas e terrorismo também precisam ser consideradas.

Ao ampliar o escopo da segurança para incluir essas diferentes dimensões, a Escola de Copenhague também introduziu uma abordagem mais inclusiva e crítica ao estudo de RI. Isso inclui uma análise das dinâmicas de poder subjacentes à securitização, como os interesses políticos e econômicos que podem estar por trás da construção de uma determinada questão como ameaça. Assim, a Escola de Copenhague desafia as abordagens mainstream de segurança, que frequentemente ignoram o papel do discurso e da construção social na formulação de políticas de segurança (BALZACQ, 2011).

Em suma, a Escola de Copenhague contribuiu significativamente para o campo das Relações Internacionais ao desafiar e expandir o conceito de segurança, tornando-o mais inclusivo e relevante para as complexidades do mundo moderno. Ao enaltecer o papel do discurso na construção de ameaças, ela oferece uma ferramenta teórica robusta para analisar como os diferentes atores sociais e políticos modificam a agenda de segurança global. Essa perspectiva crítica continua a influenciar debates contemporâneos em RI, especialmente em contextos de crescente interconexão global e novas formas de ameaças transnacionais.

Referências:

Buzan B, Waever O, Wilde Jd. Security: A New Framework for Analysis. Lynne Rienner Pub, 1998.

Buzan, B. and Hansen, L. The Evolution of International Security Studies. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.

Balzacq, T. Securitization Theory: How Security Problems Emerge and Dissolve (1st ed.). Routledge, 2010. Disponível em:< https://doi.org/10.4324/9780203868508&gt;