Rebecca Brito – acadêmica do 8° semestre de Relações Internacionais da Unama

De acordo com a teoria marxista, a economia, o modo de produção, ou seja, a forma como a sociedade produz seus bens e os seus objetivos relacionados à produção destes bens determina a forma como a sociedade se organiza (PECEQUILLO; 2004, p.159). Em outras palavras, o modo de produção define a maneira como a sociedade organiza suas atividades produtivas, incluindo também nesse meio as relações sociais (SARFATI; 2005, p. 112).

Eventualmente, é através da abordagem marxista do materialismo histórico que é possível identificar que a produção econômica de uma sociedade desempenha um papel crucial na compreensão das construções sociais, sendo o a história do capitalismo então, um método para compreender o sistema internacional (GUIMARÃES; 2021, p.67-68).

Consolidado durante a Revolução Industrial como modo de produção dominante na contemporaneidade, o capitalismo promoveu um redimensionamento do tecido social para obtenção de mais-valia, no qual integrou-se ao Estado moderno e com isso também em todos os aspectos da vida social, onde as atividades humanas foram progressivamente transformadas em práticas sociais capitalistas voltadas para a produção de valor e nesse meio a natureza foi incorporada num processo de expropriação-apropriação-mercadorização (AGUIAR; BASTOS; 2012, p.2)

A natureza então se torna parte dos meios de produção no processo de domínio e de transformação dos recursos pelo homem, através do trabalho dos quais o capital se beneficia (DE OLIVERA; 2022, p.5). Nesse sentido, o capitalismo concebe a natureza como um recurso exógeno, de objetificação, a ser apropriado e controlado num processo de mercantilização do meio ambiente como instrumento para o desenvolvimento. Eventualmente, as relações humanas com a natureza irão efetivar um modo operandos de caráter predatório e de exploração que conduz a problemas ambientais de escassez e desastres.

Problemas esses que constituem uma crise ambiental que ultrapassa as fronteiras dos Estados nacionais e demandam a necessidade de uma gestão coletiva de todos os atores envolvidos para trata-la (BARROS-PLATIAU; VARELLA E SCHLEICHER; 2004, p.102). Assim sendo, a temática ambiental adentrou o cotidiano da agenda política internacional a partir das décadas de 1960 e 1970 impulsionando as grandes conferências no âmbito da ONU (SANT’ANA; MOREIRA, 2016, p.210).

Em 1972 com a divulgação do relatório do Clube de Roma denominado “the limits to growth e a realização da Conferência da ONU sobre o meio ambiente humano que se torna evidente que o problema ambiental perpassa duas principais temáticas, o crescimento econômico ininterrupto e a exaustão dos recursos naturais, no qual põem-se em questão a não convergência entre o bem estar humano e a conservação e utilização racional dos recursos naturais (BARROS-PLATIAU; VARELLA E SCHLEICHER; 2004, p.103-104).

Analogamente, Marx já abordava que o meio e a humanidade interagem como num processo metabólico guiado pelo trabalho, no qual o sistema capitalista degrada os recursos naturais a um mero instrumento em vista do lucro, enxergando a natureza como somente existente para satisfazer as necessidades humanas, o que causou uma desconexão do metabolismo entre ser humano e natureza (GLAESER, 2024, p.2).

Sob esse contexto, fica claro que a problemática ambiental gira em torno do modo de produção, da economia internacional, que sustenta um modelo de desenvolvimento insustentável com o meio ambiente. Não à toa, o capitalismo tenta se moldar em suas diversas crises para se adaptar as novas realidades, no qual nessa dinâmica inaugurou-se o termo “desenvolvimento sustentável”, que apesar dos esforços não passa de uma concepção de objetificação, quantificação e certificação do meio ambiente à mercê de um capital a ser protegido para o futuro.

Referências:

AGUIAR, João Valente; BASTOS, Nádia. Uma reflexão teórica sobre as relações entre natureza e capitalismo. Revista Katálysis, v. 15, p. 84-94, 2012.

BARROS-PLATIAU, Ana Flávia; VARELLA, Marcelo Dias; SCHLEICHER, Rafael T. Meio ambiente e relações internacionais: perspectivas teóricas, respostas institucionais e novas dimensões de debate. Revista brasileira de Política internacional, v. 47, p. 100-130, 2004.

DE OLIVEIRA, Ana Maria Soares. Relação homem/natureza no modo de produção capitalista. PEGADA-A Revista da Geografia do Trabalho, v. 3, 2002.

GUIMARÃES, Feliciano de Sá. Teoria das relações internacionais. São Paulo: Contexto, 2021.

GLAESER, Leina Maria. Ruptura metabólica: a visão de Marx sobre a desconexão do ser humano com a natureza pelo capitalismo. Alamedas, v. 12, n. 3, p. 256-262.

PECEQUILO, Cristina Soreanu. Introdução às Relações Internacionais: temas. Revista Brasileira de Política Internacional, v. 47, n. 1, p. 0, 2004.

SANT’ANNA, Fernanda Mello; MOREIRA, Helena Margarido. Ecologia política e relações internacionais: os desafios da Ecopolítica Crítica Internacional. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 20, p. 205-248, 2016.

SARFATI, Gilberto. Teorias de relações internacionais. Editora Saraiva, 2000.