Alciane Carvalho Dias, acadêmica do 6° semestre de Relações Internacionais

O Passaporte Musical dessa semana é sobre a Cantora, Compositora e Drag Queen, Chappell Roan, cujo nome verdadeiro é Kayleigh Rose Amstutz, é uma cantora e compositora estadunidense. Ela ganhou destaque por suas músicas que combinam influências do synth-pop dos anos 80 e do “pop sombrio com tons de balada” dos anos 2000. Seu estilo musical é caracterizado por colaborações com o produtor Dan Nigro, e sua estética é fortemente inspirada por drag queens.

Aos 17 anos, Chappell Roan lançou a música original “Die Young” no YouTube e, posteriormente, assinou contrato com a Atlantic Records. Em 2023, a cantora lançou o seu álbum de estreia, intitulado “The Rise and Fall of a Midwest Princess”, que inicialmente teve um sucesso moderado, mas ganhou popularidade após apresentações em festivais e sua turnê com a artista norte-americana Olivia Rodrigo. Atualmente, Chappell Roan é considerada uma das estrelas emergentes do cenário pop, atraindo multidões com seu estilo descontraído e vocais poderosos (Rolling Stones, 2022).

A trajetória de vida e carreira de Chappell Roan pode ser compreendida à luz da Teoria Queer, inicialmente teorizada pela autora italiana Teresa de Lauretis em “Technologies of Gender” (1987), que oferece uma perspectiva crítica e disruptiva sobre as normas sociais relacionadas a gênero, sexualidade e identidade. Como uma artista lésbica norte-americana que encontrou na comunidade queer de West Hollywood o espaço para explorar e expressar sua verdadeira identidade, Roan exemplifica vários aspectos centrais dessa teoria.

Assim, segundo Louro (2001), a Teoria Queer enfatiza a fluidez das identidades de gênero e sexualidade, desafiando a ideia de que essas categorias são fixas ou biologicamente determinadas. Por isso, após Roan se mudar para Los Angeles e se envolver com a comunidade de drag queens, iniciou um processo de autodescoberta que lhe permitiu abraçar plenamente sua identidade queer. E é nesse sentido que o processo de exploração torna-se uma manifestação direta do conceito de identidade fluida, central à teoria. Ao encontrar apoio e aceitação em um ambiente que celebra a diversidade, Chappell foi capaz de se libertar das restrições impostas pelas normas tradicionais, algo essencial para a autenticação da identidade individual.

Além disso, a Teoria Queer critica a rigidez das categorias tradicionais de gênero e sexualidade, propondo uma abordagem mais inclusiva e flexível. Através de sua arte e escolha de nome artístico, a artista desafia essas categorias e normas. O nome “Chappell Roan” foi escolhido em homenagem ao avô e a uma canção de Marty Robbins, unindo elementos de sua história pessoal de maneira não convencional. Sua música, especialmente “Pink Pony Club”, celebra a liberdade de expressar desejos e identidades que não se conformam com as expectativas normativas, reforçando a ideia de que as identidades são construções sociais que podem e devem ser questionadas e redefinidas.

Outro ponto central na relação entre a Teoria Queer e a carreira de Chappell é o conceito de performatividade de gênero, proposto pela teórica norte-americana Judith Butler em “Gender Trouble: Feminism And the Subversion of Identity” (1990). Butler argumenta que o gênero não é uma essência fixa, mas uma série de atos performativos que criam a ilusão de uma identidade estável. Inspirada pelas drag queens, ícones da performatividade na cultura queer, a cantora adota em sua arte uma atitude performativa que desafia as normas sobre como uma mulher lésbica deveria se comportar ou se apresentar. Ao fazer isso, ela não apenas expressa sua identidade, mas também questiona as expectativas sociais, exemplificando a teoria queer na prática.

Por isso, a carreira da musicista também pode ser vista como uma contribuição para a criação de espaços inclusivos, onde a diversidade e a não conformidade são celebradas. A Teoria Queer busca resistir às opressões sistêmicas que marginalizam identidades dissidentes, promovendo a liberdade de expressão e a desconstrução das estruturas de poder. Roan, através de sua música e presença pública, participa ativamente dessa resistência, dando voz a experiências e identidades queer que muitas vezes são silenciadas ou marginalizadas.

Portanto, a vida e a carreira da Drag Queen Chappell Roan são um reflexo concreto dos princípios da teoria Queer. Sua trajetória de autodescoberta, expressão de identidade e desafio às normas sociais exemplifica como a teoria queer pode ser vivida e incorporada na prática artística e pessoal. Roan não apenas explora sua própria identidade, mas também contribui para a criação de um mundo onde a diversidade e a não conformidade são não apenas aceitas, mas celebradas.

Referências:

SPANOS, Brittany. Chappell Roan Is the Independent ‘Thrift Store Pop Star’ Ready to Take Over the World. Rolling Stones, 2022. Disponível em: https://www.rollingstone.com/music/music-features/chappell-roan-casual-release-1234618237/ . Acesso em: 18 ago. de 2024.

VIEIRA, Helena. Afinal, o que é teoria Queer? O que fala Judith Butler. UOL – Diálogos do Sul, 2015. Disponível em: https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/afinal-o-que-e-a-teoria-queer-o-que-fala-judith-butler/?gad_source=1&gclid=CjwKCAjw_ZC2BhAQEiwAXSgClhnnBf-6PBEuzGtbnMlyKwYpGvhhylf2ViO7Uz3B6wWWgqS75uCdRhoCZ3cQAvD_BwE . Acesso em: 18 ago. de 2024.

LOURO, Guacira. Teoria Queer – uma política pós-identitária para a educação. Revista Estudos Feministas, 2001. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/64NPxWpgVkT9BXvLXvTvHMr/?lang=pt. Acesso em 17 de agosto de 2024.

DE LAURETIS, Teresa. Technologies of Gender, 1987. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5673685/mod_resource/content/4/DE%20LAURETIS%2C%20Teresa.%20A%20Tecnologia%20do%20G%C3%AAnero%20%281987%29.pdf . Acesso em: 20 ago. de 2024