Por Pedro Paes, acadêmico do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA. 

A líder indígena do povo Kayapó, Tuíre Kayapó nasceu em 1970 no Pará. Tuíre ficou reconhecida internacionalmente em 1989 após o Encontro das Nações Indígenas do Xingu, onde a mesma pressionou um facão no rosto do presidente da Eletronort José Antônio Muniz, em protesto contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Sua ação se tornou um símbolo que marcou a luta dos povos indígenas contra grandes projetos que ameaçam seus territórios e modos de vida. Então Tuíre dedicou a sua vida á luta e defesa dos direitos indígenas e do meio ambiente, combatendo o garimpo ilegal e se posicionando contra o marco atemporal. (BESSA, 2024)

Além do mais, Tuíre participou de várias marchas e protestos em Brasília, destacando-se como uma das primeiras mulheres a assumir um papel de liderança entre os Kayapó. Sua presença e voz foram essenciais para destacar as questões indígenas tanto a nível nacional quanto internacional. Além disso, ela coordenou projetos comunitários, incluindo um programa de costura para mulheres de sua aldeia, promovendo a autonomia e o empoderamento feminino. (BESSA, 2024)

Além de seu ativismo, Tuíre Kayapó foi uma figura inspiradora para muitas gerações. Ela era a líder de diversos projetos que ensinavam mulheres de sua aldeia a costurar, promovendo a autonomia e a preservação cultural. E mesmo estando enfrentando um câncer de colo de útero na época, Tuíre continuou sua luta até o fim, falecendo em 2024 aos 57 anos. Sua coragem e determinação deixaram um precioso legado, sendo lembrada como uma guerreira incansável na defesa dos direitos dos povos indígenas e da preservação da Amazônia. (CAMARGOS, 2024)

Tendo em vista as ações de Tuire, é possível relaciona-la com a teoria Decolonial de Aníbal Quijano nas Relações Internacionais, onde ele desenvolveu o conceito de Colonialidade do Poder que descreve como as estruturas coloniais de poder e conhecimento persistem mesmo após o fim do colonialismo formal. A experiência e a visão de Kayapó mostram como as estruturas de poder coloniais continuam a afetar os povos indígenas, incluindo a exploração de suas terras e a marginalização de seus saberes. Ela mostra a resistência dos povos indígenas a continuidade da colonialidade do poder e busca reafirmar seus próprios sistemas de conhecimento e governança. (QUIJANO, 2005)

A teoria decolonial de Quijano também critica a visão eurocêntrica que domina o conhecimento e as práticas internacionais. Kayapó, ao defender os direitos e os conhecimentos de seu povo, desafia essa perspectiva eurocêntrica e promove a valorização de perspectivas indígenas. Além disso, a crítica de Quijano à “modernidade colonial” pode ser vista na atuação de Kayapo, que busca um desenvolvimento que respeite os valores e modos de vida indígenas, em contraste com os modelos de desenvolvimento impostos por nações coloniais e neocoloniais. Portanto, tanto Tuíre Kayapó quanto Aníbal Quijano oferecem críticas e alternativas às estruturas de poder e conhecimento que surgiram do colonialismo e continuam a influenciar as relações internacionais e a dinâmica global. (QUIJANO, 2005)

REFERÊNCIAS

BESSA, Juliana. Tuíre Kayapó, liderança indígena do Xingu, morre aos 57 anos. G1 Globo. 10/08/2024. Disponível em: https://g1.globo.com/google/amp/pa/para/noticia/2024/08/10/morre-tuire-uma-das-maiores-liderancas-indigenas-do-povo-kayapo.ghtml Acesso em 01/09/2024

CAMARGOS, Daniel. Morre Tuíre, a guerreira Kayapó que parou a construção de Belo Monte com um facão. Reporter Brasil. 10/08/2024. Disponível em: https://reporterbrasil.org.br/2024/08/morre-guerreira-tuire-kayapo/ Acesso em 01/09/2024

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. A Colonialidade do saber, eurocentrismo e Ciências sociais. Buenos Aires. CLACSO. 2005.