Stefany Louise Campolungo Rodrigues – acadêmica do 8º semestre de Relações Internacionais da Unama.

A América Latina por anos vêm sofrendo com um fenômeno do aumento de pessoas e partidos ligados à extrema-direita. Diferentemente de casos da Europa, a ascensão da extrema direita em países como Brasil e Argentina veio derivado do sucesso dos Estados Unidos em criticar a gama de direitos e questões consideradas de baixa importância para a preocupação do Estado. Com isso, a maior ênfase dos discursos proliferados pela extrema direita são questões de segurança e corrupção. (MAYER; 2023)

Segundo Cass Mudde (2022) extrema direita é algo cíclico; reaparecendo em ondas desde a queda do nazifacismo, sendo a primeira onda logo após a Segunda Guerra Mundial, composta por apoiadores deste antigo regime assassino; a segunda reaparece entre 1950 e 1980, sendo contra as transformações socioeconômicas e de bem estar social no período; a terceira, indo de 1980 aos anos 2000, se destaca pelo aumento do crescimento eleitoral por políticas anti-imigração vindas de Estados Unidos e Europa. (MUDDE2022)

Ainda assim, estudos buscam compreender a ascensão da direita radical, que cresce exponencialmente na América Latina. Pippa Norris (2005) cria três teorias: sendo a revolta com a modernidade, nova clivagem social e desalinhamento partidário. A classe trabalhadora, ao questionar o nível de riqueza da burguesia, causa uma reação, assim fazendo de tudo para conquistar a confiança de grupos sociais (geralmente grupos que se sentem marginalizados por questões de desemprego, insegurança ou mudanças culturais), prometendo proteger seus interesses e valores; com o tempo, o desalinhamento partidário causa a intensa desconexão de partidos tradicionais e seu eleitorado, dando espaço nesse vácuo político para novos atores, como a direita radical, de serem uma alternativa, atraindo eleitores desiludidos com promessas extremas e de rápida resolução envolvendo segurança, políticas anti-modernidade, e permanência de valores conservadores. (NORRIS, 2005)

Com isso, o Uruguai passa por um momento decisivo nas eleições de 2024. A política externa do país sempre foi marcada por equilíbrio e autonomia, porém a escolha para Luis Lacalle Pou como Presidente em 2020 e atual candidatura de Álvaro Delgado, ambos do Partido Nacional refletem a força que a direita teve, e continua tendo na América Latina, principalmente com o desgaste de um partido de esquerda como a Frente Ampla, que governou o país por 15 anos e foi responsável pelas principais mudanças envolvendo política externa, cooperação e integração regional. (SILVA, 2024) Atuais pesquisas mostram que a Frente Ampla vem ganhando espaço novamente no país, entretanto é inegável que o aumento da extrema direita oferece uma ameaça a região, se aproveitando de crises locais para se ascender e utilizando de meios democráticos para explorar o ressentimento da população para depois tentar subverter a democracia para se manter ao poder. (SILVA; 2024)

Embora haja uma recuperação da esquerda, a presença crescente da extrema direita se mostra dominante na região, derivadas de políticas vindas principalmente dos Estados Unidos com Donald Trump e do Brasil com Jair Bolsonaro, tendo este, junto com Javier Milei, moldado um signo para extrema direita lutar para continuar no poder na região da América Latina. (MAYER; 2023)

Referências:

FABRICIO, B. Uruguai: A política externa terá impacto nas eleições? – Outras Palavras. Disponível em: <https://outraspalavras.net/estadoemdisputa/uruguai-a-politica-externa-tera-impacto-nas-eleicoes/&gt;. Acesso em: 10 set. 2024.

MAYER, R. Direita populista radical na América Latina: os casos da Argentina, Brasil, Chile e El Salvador. Revista Sul-Americana de Ciência Política, v. 9, n. 2, p. 17, 2023.

‌MUDDE, Cass. A extrema direita hoje. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2022.

NORRIS, Pippa. A tese da “nova clivagem” e a base social do apoio à direita radical. Opinião Pública, v. 11, n. 1, p. 1-32, 2005.