Lucas Cardoso acadêmico do 4° Semestre de RI da UNAMA

A Guerra do Pacífico (1879-1884), também conhecida como Guerra do Salitre, foi um conflito travado entre Chile, Bolívia e Peru pela disputa de territórios ricos em recursos minerais, especialmente nitrato de sódio, na região do Deserto do Atacama. A Bolívia, que até então possuía uma faixa de litoral na área, e o Peru, seu aliado, confrontaram o Chile, que reivindicava o controle sobre a zona devido a interesses econômicos. O desfecho da guerra resultou na vitória chilena, com a anexação definitiva dos territórios disputados, deixando a Bolívia sem acesso ao mar, o que teve um impacto profundo na geopolítica sul-americana e nas relações diplomáticas entre esses países até os dias atuais.

Os problemas iniciaram desde a independência da América espanhola onde hoje se encontra 9 países falantes de espanhol que eram divididos na época em 4 regiões administrativas onde nesse contexto da guerra 3 serão os principais para entender o conflito e são o Vice-reinado da Prata, Vice-reinado do Peru e a capitania geral do Chile, com as independências nas primeiras décadas do século XIX surgiu a divisão dessas capitanias pelas elites locais que buscavam autoridade na região e com a dúvida de como seria a fronteira dos novos países uma dessas áreas disputadas era o deserto do Atacama uma região vasta que chove uma vez por século, na qual não existia barreiras naturais claras entre às 3 áreas administrativas e os países como Bolívia, Chile e Peru reivindicavam todo o território para si (Prado, 2014).

Era tão disputado que a Bolívia se tornou independente em 1825 e o Chile a assinou um tratado oficializando suas fronteiras apenas em 1866 com as descobertas de salitre, um recurso que era importante na época para a produção de fertilizantes e explosivos, cobre, prata e guano, a região se tornou mais cobiçada, empresas internacionais baseadas no Chile tinham forte presença na área, com base no acordo a Bolívia podia coletar impostos das empresas chilenas em seu território, mas temendo que a presença chilena pudesse desencadear um expansionismo do Chile o governo Boliviano assinou uma aliança com o Peru em 1873 para no caso se um entrasse em guerra o outro entraria pra socorrer o aliado (Prado, 2014).

Em 1878, o governo boliviano alegou irregularidades em uma empresa anglo-chilena, aumentando o imposto sobre a empresa, que protestou junto ao governo chileno, assim a Bolívia ameaçou confiscar as propriedades da empresa e anular o acordo de fronteiras, segundo o governo chileno (Esposito, 2016). Em fevereiro de 1879, o Chile enviou tropas para ocupar a cidade boliviana de Antofagasta, que tinha a maioria da população chilena. O Peru tentou mediar a situação, mas a crise não foi solucionada, iniciando a guerra entre Bolívia e Chile em março do mesmo ano. Em abril, o Peru honrou o acordo, entrando na guerra ao lado da Bolívia (Esposito, 2016).

A principal estratégia de ambos os lados era o controle do mar, já que o deserto tinha poucas estradas e ferrovias, sendo o navio o melhor meio de transporte durante a guerra (Esposito, 2016). Durante seis meses, as marinhas de ambos os lados foram modernizadas, e os exércitos também, com armas compradas na Europa ou excedentes da Guerra Civil Americana, a marinha chilena ganhou a batalha de Angamos tendo controle sobre o mar durante toda a guerra e na terra foram travadas batalhas no deserto, montanhas andinas e nas cidades com o destaque no papel desastroso do exército boliviano (Esposito, 2016).

O presidente boliviano Hilarión Daza comandava o exército e após elaborar um plano conjunto ele não cumpriu sua parte e retirou suas tropas optando por defender pelas montanhas, mas foi comprovado hoje em dia que ele fugiu com medo de uma derrota, por essa traição ele foi deposto fugindo para França levando parte do tesouro nacional com si, seu sucessor Narciso Campero junto com os Peruanos lutaram na batalha de Tacna em maio de 1880 sendo a maior da guerra envolvendo 25 mil homens no total com Vitória Chilena e destruição das tropas bolivianas, os peruanos não se renderam e lutavam sozinhos contra os chilenos e com isso o exército chileno armou um plano de invasão em larga escala até a capital peruana em Lima (Esposito, 2016).

No dia 5 de Janeiro de 1881 os Peruanos perdem à batalha de Miraflores fazendo Lima ser saqueada e ocupada por dois anos, após cessarem as guerrilhas de fazendeiros andinos contra as tropas chilenas em outubro de 1883 a guerra acabou com mais 30 mil mortos e grandes ganhos territoriais  contribuindo para formação de instituições e nacionalidade dos novos países, a Bolívia perdeu todo seu litoral e o Chile garantiu o uso e acesso ao Porto de Arica sendo ratificado em 1904, o que a Bolívia contesta alegando que poderia ser renegociado futuramente (Bethell, 2002).

Em 1975 a questão quase foi resolvida onde tanto o Chile quanto a Bolívia estavam sob ditaduras militares, Pinochet ofereceu uma troca de territórios onde a Bolívia ganharia uma faixa de Terra próxima ao Porto de Arica mas o Acordo de Charaña não foi efetivado porque o pedaço de terra antes era de posse do Peru e o acordo de paz entre Chile e Peru determinava que qualquer alteração na posse do território deveria ser aprovado pelos Peruanos, questão essa que foi descartada e prolongada por quase 50 anos (Bethell, 2015).

A Guerra do Pacífico (1879-1884), envolvendo Chile, Bolívia e Peru, pode ser analisada sob a ótica de Hans Morgenthau em Política entre as Nações, o Chile buscava garantir o controle de regiões ricas em nitrato e guano, essenciais para sua economia, enquanto Bolívia e Peru tentavam proteger seus interesses territoriais e econômicos. Segundo Morgenthau, o interesse nacional e a busca por poder são motores das relações internacionais, e o Chile, com seu poder militar superior, alterou o equilíbrio de poder na região ao vencer a guerra. A anarquia internacional, sem uma autoridade central para mediar o conflito, levou à guerra como solução para as disputas, refletindo a política de poder e sobrevivência que Morgenthau descreve como central na atuação dos Estados no cenário internacional.

Referências:

BETHELL, Leslie. História da América Latina: de 1870 a 1930. Volume 5. São Paulo: Editora Edusp, 2002.

BETHELL, Leslie. História da América Latina: a América Latina Após 1930: Estado e Política. Volume 7. São Paulo: Editora Edusp, 2015

ESPOSITO, Gabriele. Armies of the War of the Pacific 1879–83. Oxford: Osprey Publishing, 2016.

Morgenthau, Hans. Política entre as Nações: A Luta pelo Poder e pela Paz. [Português] Editora: Imprensa Universitária de Cambridge, 2013.

PRADO, Maria L. A História da América Latina: Editora: Contexto, 2014.