
Railson Silva (acadêmico do 8º semestre de RI da UNAMA)
No campo das Relações Internacionais, o estudo é essencialmente dinâmico, no qual diferentes teorias e abordagens tentam explicar a complexidade das interações entre Estados e outros atores globais. Dentro desse contexto, um dos nomes mais influentes nesse campo é o de Emanuel Adler. Nascido em Israel, Adler desenvolveu uma carreira acadêmica de grande impacto ao explorar como as interações sociais moldam o comportamento dos Estados, transcendendo as explicações mainstream que priorizam o poder material e os interesses econômicos. Sua visão oferece uma maneira de enxergar as RI como um campo dinâmico onde crenças compartilhadas e práticas sociais influenciam decisivamente os resultados políticos.
Uma de suas contribuições mais significativas para as Relações Internacionais está no desenvolvimento do conceito de “comunidades epistêmicas”. No livro Communitarian International Relations: The Epistemic Foundations of International Relations (2005), o teórico descreve essas comunidades como redes de especialistas que compartilham crenças, valores e formas de interpretar o mundo. Estas redes são compostas por acadêmicos, cientistas e profissionais que possuem certa influência na formulação de políticas, especialmente em áreas como meio ambiente, saúde global e segurança internacional. De acordo com Adler, essas comunidades de conhecimento têm o poder de mudar a forma como os governos entendem e lidam com questões internacionais. Esse conceito revela que, além dos interesses materiais, as ideias e o conhecimento desempenham um papel crucial na política global (Adler, 2005).
Outro trabalho fundamental de Emanuel Adler é seu artigo de 1997, “Seizing the Middle Ground: Constructivism in World Politics”, no qual ele tenta mediar o debate entre as teorias positivistas e reflexivistas dentro das RI. O construtivismo, segundo Adler, ocupa um “terreno intermediário” entre o realismo, que foca nas relações de poder, e as abordagens pós-modernas, que enfatizam a interpretação e os discursos.
Sob essa perspectiva, o autor defende que a política internacional não é apenas influenciada por forças materiais, mas também pelas interações sociais e as normas compartilhadas, Adler argumenta que as realidades internacionais são “construídas” pelas crenças e práticas dos atores. Sua visão não rejeita a importância dos interesses materiais, mas insiste que estes são sempre mediadas por valores e entendimentos coletivos. Assim, ao invés de pensar que os Estados agem apenas pela busca do poder ou riqueza, Adler propõe que eles são influenciados por ideias de legitimidade, identidade e cooperação (Adler, 1997).
Outro conceito-chave desenvolvido por Adler, em colaboração com Michael Barnett, é o de “comunidades de segurança”, apresentado no livro Security Communities (1998). De acordo com os autores, as comunidades de segurança são grupos de Estados que compartilham valores, instituições e normas que permitem resolver conflitos de forma mais pacífica, sem recorrer à violência.
Eles afirmam que essas comunidades surgem não pela ausência de conflitos, mas pela construção de confiança mútua entre os Estados, que passam a ver a guerra como uma solução inviável. Para Adler, essa confiança é construída ao longo do tempo por meio de práticas sociais que reforçam a cooperação e a solidariedade. Esse conceito oferece uma alternativa aos modelos tradicionais de segurança, que se baseiam na ideia de competição e uso da força, e propõe uma visão mais otimista da capacidade humana de superar conflitos violentos através do diálogo e da cooperação entre os Estados (ADLER e BARNETT, 1998).
Ademais, sendo considerado um dos pontos mais inovadores das contribuições de Emanuel Adler é sua ênfase na teoria prática dentro das RI. Para ele, as práticas sociais — as ações repetidas que os atores realizam durante seu cotidiano — são essenciais para entender como as normas e instituições internacionais são construídas e asseguradas. Em seu artigo Pragmatism and Political Community (2019), Adler enaltece que as práticas não são apenas regras a serem seguidas, mas um processo dinâmico no qual os atores interagem de forma mútua e constroem o significado de suas relações. Esse foco na prática como um elemento constitutivo das relações internacionais oferece uma visão mais humanizada e interativa das RI, destacando como as ações concretas e repetidas dos atores delineiam o sistema internacional. (ADLER, 2019).
Em suma, Emanuel Adler oferece para o campo de RI uma perspectiva inovadora que desafia as visões convencionais do campo. Suas principais abordagens trouxeram novas formas de se pensar o papel das ideias e das normas na política global. Além de trazer perspectivas fundamentais para a compreensão de como o conhecimento e a confiança transformam a cooperação internacional e a resolução de conflitos. Suas teorias continuam a influenciar o debate contemporâneo sobre a construção da ordem mundial e a natureza das interações entre os estados.
Referênciais:
ADLER, Emanuel. Communitarian International Relations: The Epistemic Foundations of International Relations. Routledge, 2005.
ADLER, Emanuel. Seizing the Middle Ground: Constructivism in World Politics. European Journal of International Relations, 1997.
ADLER, Emanuel, BARNETT, Michael. Security Communities. Cambridge University Press, 1998.
ADLER, Emanuel. Pragmatism and political community. International Organization, v. 73, n. 1, p. 295-324, 2019.
