
Antônio Vieira, acadêmico do 2° semestre de Relações Internacionais
Ficha Técnica:
Gênero: Ação, Drama
Duração: 1h 55min
Ano: 2007
Diretor (a): José Padilha
Distribuição: Universal Pictures do Brasil
País de origem: Brasil
Tropa de Elite, considerado um dos melhores filmes do cinema brasileiro, conta a história do capitão do BOPE: Roberto Nascimento (Wagner Moura), o qual, após anos exaustivos na instituição, busca um substituto digno e incorruptível, dessa maneira, são apresentados Matias e Neto, dois policiais militares novatos que concorrerão pelo cargo. Ademais, a trama discute temas como: corrupção policial e política, violência, e desigualdade social.
Nesse sentido, a película começa com a narração de Nascimento, sendo um dos pontos fortes a sua fala a respeito da corrupção e falta de treinamento presente na polícia militar, sendo o BOPE isento dessas características. Além disso, é dito por ele que a força bélica dos criminosos das favelas estava diretamente ligada com a corrupção da polícia militar, haja vista que os dois grupos faziam acordos entre si como um meio para evitar conflitos e obter dinheiro.
A trama volta 6 meses antes para se aprofundar na história do capitão Nascimento, de Mathias e de neto, mostrando como os seus caminhos iriam se cruzar. Nesse contexto, é revelada a personalidade problemática de Nascimento, que tenta conciliar um trabalho estressante com a sua vida pessoal. Assim, o personagem expõe a sua dualidade em ser ao mesmo tempo um policial opressor, praticante de tortura, mas também uma pessoa capaz de sentir arrependimento, exemplificado na cena em que ele é questionado por uma mãe na delegacia sobre o paradeiro do corpo de seu filho, que indiretamente tinha sido morto pelo capitão. Em seguida, é possível ver como Nascimento passa a sofrer de estresse a ponto de ter reações físicas involuntárias.
Paralelamente, é contado o progresso falho dos dois policiais novatos da polícia militar, que não conseguem se adaptar a corrupção presente na instituição, o que os leva a optarem pelo BOPE. Posteriormente, o Governo do Rio de Janeiro designa uma missão ao batalhão para proteger a estadia do Papa João Paulo 2 no morro do Turano. O que se segue é um cenário em que o desprezo pelos direitos humanos e a carnificina são banalizados a fim de atingir o objetivo requerido pelo sistema. Aliado a isso, sabendo que esse tipo de trabalho não é para qualquer um, a vida de Neto e Mathias na nova profissão passa a ser repleta de desafios, resultando na seleção de um deles para substituir Nascimento.
Ademais, por meio do personagem Mathias, são discutidos os diversos pontos de vistas da sociedade sobre a criminalidade nas favelas e a opressão policial. Sob essa ótica, o filme pode ser associado com a ideia de necropolítica, defendida pelo cientista político Achille Mbembe. Segundo ele, a política da morte se dá quando estruturas detentoras de poder, como o Estado, tem a capacidade de ditar quem deve morrer e viver na sociedade, sendo a morte de alguns justificada como um meio para manter a vida de outros. Além disso, Mbembe afirma que o discurso feito por esses grupos para legitimar atos cruéis pode estar intrínseco ao racismo (MBEMBE, 2011).
Tanto no filme como na vida real, é possível notar que grande parte dos moradores das favelas do Rio de Janeiro são negros em virtude do processo histórico do Brasil colonial, que, após a abolição da escravidão, careceu de políticas públicas que incluíssem esse grupo na sociedade, dessa maneira, consequentemente, sem o suporte do Estado em promover qualidade de vida a essas pessoas, a presença da insegurança e da violência se tornaram uma realidade.
Na trama, o capitão Nascimento pode ser associado como o agente da necropolítica, pois há cenas em que ele justifica o uso da violência – ao matar traficantes – como um meio para melhorar a qualidade de vida na sociedade, no entanto, o mesmo opta por não matar os “burgueses”, que são ditos como alimentadores do tráfico. Dito isso, aqui já é possível perceber quem é visto como digno de viver e de morrer.
Também, a necropolítica está presente na missão requisitada pelo Governador do Rio de Janeiro ao BOPE, que tinha como objetivo preparar a chegada e estadia do Papa no morro do Turano. A ordem era eliminar o máximo de criminosos no local para que o líder religioso ficasse em segurança na região, contudo, o que se desenrola é o constante estado de insegurança dos moradores locais, gerando, inclusive, a morte de alguns por bala perdida.
No mais, pode-se dizer que a obra cinematográfica foi um fenômeno por representar essa realidade de forma realista e chocante, graças as ótimas atuações, com destaque a Wagner Moura, e ao seu roteiro complexo que busca não tomar um viés político. Infelizmente, é um filme relevante até os dias atuais, já que a corrupção e a violência policial, exemplificada pela chacina do jacarezinho em 2021, são uma realidade no estado do Rio.
REFERÊNCIAS:
MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo. 2011.
