Ana Clara Nunes, Isabelle Macêdo, Tayse Rocha e Yago Cruz, acadêmicos do 6° semestre de Relações Internacionais

Ficha Técnica

Gênero: Aventura, Animação, Ficção Científica

Ano: 1998 – 1999

Distribuição: Netflix

País de origem: Japão

“Cowboy Bebop”, anime criado por Shinichirō Watanabe e lançado em 1998, se passa em um futuro distópico, no ano de 2071, onde a Terra se tornou inabitável devido a um acidente e para sobreviver, a humanidade coloniza o espaço, habitando em novos planetas. Desse modo, a narrativa gira em torno de quatro personagens principais: Spike, Jet, cuja sua antiga profissão era policial, Faye Valentine e Ed, uma hacker extremamente inteligente, e devido ao acaso, eles se unem por conveniência para trabalhar como caçadores de recompensas, refletindo um sistema que ecoa as dinâmicas do Velho Oeste, onde a criminalidade aumenta e o governo estabelece um sistema de recompensas para combater os crimes espaciais (GARCIA, 2019).

Posto isto, a obra pode ser analisada sob a ótica da Teoria Neoliberal de Segurança, a qual enfatiza a importância dos atores não estatais, uma vez que os Estados não são coesos, valorizando cada vez mais os instrumentos econômicos e institucionais. O ponto central é a maximização dos ganhos absolutos, dessa maneira, para os neoliberais, há a demanda por regimes que maximizam a ausência governamental supranacional e a incerteza em relação às expectativas dos atores, de modo que os regimes internacionais se tornam facilitadores de diálogo para a realização de acordos entre governos a fim de evitar uma “guerra de todos contra todos”. Dessa forma, percebe-se que os interesses comuns entre os envolvidos se torna algo necessário para a cooperação entre estados, para assim deixar de lado os ganhos relativos (KEOHANE; NYE, 1988).

Para Keohane e Nye (1988), à medida que se torna real o funcionamento das instituições e regimes internacionais, os procedimentos para a regularização de seu comportamento, acabam diminuindo a incerteza quanto ao outro, facilitando a troca e acúmulo de informações. Em suma, apesar do Estado ainda manter sua centralidade, destaca-se a crescente influência e importância dos atores não estatais, notando a diversificação de sua agenda englobando temas de economia, meio ambiente, direitos humanos, democracia que colaboram com a interdependência e transnacionalização. 

Assim, apesar do auto interesse estatal e dos atores, as instituições e os regimes internacionais acabam incentivando a cooperação, baseada na premissa de que os indivíduos e as nações poderiam mudar suas percepções, colocando em destaque a importância do diálogo, negociação e respeito ao direito internacional para prevenir os conflitos e promover a estabilidade. 

No universo de “Cowboy Bebop”, corporações como a ISSP (Inter-Solar System Police) e o Red Dragon Syndicate atuam como corporações relevantes que exercem uma influência significativa no espaço. A ISSP, embora seja a principal agência de aplicação da lei, revela-se incapaz de lidar com a complexidade dos problemas sociais, gerando insegurança e falta de ordem social.

Por ser lançado em 1998, contextos históricos como o final da Guerra Fria e a ascensão do neoliberalismo influenciam diretamente a narrativa do anime. O  contexto japonês, em 1998, teve várias influências relevantes na história e na produção do anime, como: a ambientação tecnológica e futurista pois foi uma época de avanços significativos na tecnologia, e isso também se refletiu no anime com a a presença de naves espaciais, computadores sofisticados e ciborgues e a representação da economia japonesa que estava se recuperando de uma recessão prolongada na década de 1990, a incerteza econômica e a falta de empregos estáveis levaram muitas pessoas a adotarem carreiras independentes, como freelancers ou empreendedores individuais (TORRES, 1997). Nesse sentido, esse cenário de precarização do emprego pode ter influenciado a representação de Spike Spiegel como um caçador de recompensas freelancer e a vida de “Cowboy Bebop”. 

Assim, a teoria de Interdependência Complexa de Nye e Keohane (1988) pode ser exemplificada através da relação entre os personagens, quando a busca por segurança leva à formação de uma unidade cooperativa, apesar das motivações individuais. No entanto, essa cooperação é frágil e transitória; os personagens frequentemente retornam aos seus próprios interesses assim que as ameaças imediatas são resolvidas, retratando assim a existência de uma governança global fragmentada, onde diferentes facções competem por poder e influência.

Por fim, “Cowboy Bebop” não é apenas entretenimento visual, é uma reflexão sobre as relações sociais e políticas contemporâneas. É através de suas narrativas complexas e personagens multifacetados, que o anime captura as tensões entre interesses individuais e coletivos em um mundo globalizado, demonstrando desse modo que a obra permanece relevante ao discutir as nuances do poder na sociedade moderna e os desafios da cooperação em um sistema internacional cada vez mais complexo.

REFERÊNCIAS

GARCIA, Fábio. Por que você precisa ver o anime Cowboy Bebop. Omelete, 2019. Disponivel em: <https://www.omelete.com.br/anime-manga/por-que-voce-precisa-ver-cowboy-bebop#:~:text=O%20maior%20atrativo%20do%20anime,a%20ver%20com%20a%20hist%C3%B3ria >. Acesso em: 30 set. 2024.

KEOHANE, Robert O.; NYE JR., Joseph S. Poder e interdependência: la política mundial en transición. Grupo Editor Latinoamericano, 1988

MATTEI, Lauro. A Globalização Econômica como Forma de Exclusão Social. Katálysis, Vol.7, N°1, 2004.

PEDROSO MENDES, F.; LIMA, S.K. DE. Realismo e institucionalismo neoliberal: um panorama da evolução do mais representativo debate da Teoria das Relações Internacionais. Fronteira: revista de iniciação científica em Relações Internacionais, v. 4, n. 7.


TORRES, Ernani. A Crise da Economia Japonesa nos anos 90: Impacto da Bolha Especulativa. Revista de Economia Política, Vol.17, N°1.