
Davi Soares Silva Souza – 4° semestre de R.I da Unama
Na Grã-Bretanha, a relação entre a Escócia e a Inglaterra é uma das mais antigas e turbulentas da Europa, definida por uma história de rivalidade intensa, guerras e tensões políticas que remontam ao século XIII. Ao longo dos séculos, esses dois reinos travaram disputas no campo de batalha e nas relações diplomáticas, moldando o destino da Grã-Bretanha e consolidando discussões e embates de poder que ecoam até hoje.
A crise entre os dois países começou em 1286, quando o rei escocês Alexandre III morreu em um acidente de cavalo, deixando o trono sem um sucessor claro. A única herdeira disponível era sua neta, Margaret, a Donzela da Noruega, mas sua morte em 1290 mergulhou a Escócia numa disputa de sucessão entre John Balliol e Robert Bruce o que levou à intervenção de Eduardo I da Inglaterra, que viu a oportunidade de expandir seu controle sobre o reino vizinho. Ele impôs sua autoridade sobre a Escócia ao se declarar o árbitro da disputa, aproveitando a oportunidade para subjugar politicamente o país (BBC, 2014).
John Balliol foi coroado rei, mas sua submissão a Eduardo I provocou resistência entre os escoceses, que se rebelaram sob a liderança de figuras como William Wallace e, mais tarde, Robert the Bruce. A resistência escocesa culminou na famosa Batalha de Bannockburn em 1314, onde Bruce garantiu uma vitória decisiva contra os ingleses, solidificando sua posição como rei da Escócia e assegurando, pelo menos temporariamente, a independência do país(BBC, 2014).
Esse desejo de autonomia se perpetuou ao longo dos séculos, e o tema da independência voltou com força no século XXI. Em 2014, a Escócia realizou um referendo sobre sua independência do Reino Unido e apesar de uma campanha fervorosa, a maioria dos escoceses votou por permanecer na união. No entanto, o Brexit, em 2016, reabriu essa questão, já que a Escócia votou majoritariamente contra a saída da União Europeia, o que alimentou novamente o sentimento de separação. (PUBLICO, 2014)
Internamente, a política escocesa tem sido marcada pela supremacia do Partido Nacional Escocês (SNP), que defende abertamente a independência e tem conquistado vitórias eleitorais expressivas desde 2007. No entanto, questões como divergências partidárias, coalizões instáveis e escândalos financeiros recentes, como as investigações dentro do próprio SNP, fragilizam a liderança do movimento independentista.
Em 2023, Humza Yousaf foi eleito como o novo líder do Partido Nacional Escocês (SNP) e primeiro-ministro da Escócia, para impulsionar uma nova tentativa de independência. Yousaf acreditava que o contexto pós-Brexit favorecia uma nova votação, mas seu governo enfrentou grandes desafios. Sua coalizão com o Partido Verde desmoronou em setembro de 2024, levando à sua renúncia após uma moção de censura. Essa crise política mergulhou o SNP numa luta interna, enfraquecendo o movimento pró-independência. (CNN, 2024)
Alexander Wendt em “Social Theory of International Politics” (1999) propõe que as identidades e interesses dos estados não são fixos, mas construídos socialmente. A relação entre Escócia e Inglaterra, e o desejo de independência, pode ser entendida por essa perspectiva, em que a Escócia está continuamente construindo sua identidade em resposta a mudanças políticas e econômicas. O Brexit, por exemplo, alterou as percepções de identidade dentro do Reino Unido e fortaleceu o sentimento de separação.
Nesse sentido, observa-se que a relação entre a Escócia e a Inglaterra continua complexa e multifacetada, influenciada por uma história compartilhada de conflitos e alianças, assim como por questões políticas contemporâneas. O desejo de independência, que remonta aos séculos de batalhas pela soberania escocesa, permanece vivo para muitos escoceses que veem a autonomia como uma forma de resgatar uma identidade nacional distinta e conquistar maior controle sobre seus destinos políticos e econômicos. Contudo, essa aspiração é constantemente desafiada pelas realidades políticas, tanto internas quanto externas, que criam obstáculos para a concretização desse ideal.
REFERÊNCIAS:
WENDT, Alexander. Social Theory of International Politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.
Primeiro-ministro da Escócia renuncia e gera caos em partido pró-independência. CNN, 2024, 29 de abril. Disponível em:https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/primeiro-ministro-da-escocia-renuncia-e-lanca-partido-pro-independencia-ao-caos/
As Guerras da Independência. BBC, 2014. Disponível em:https://www.bbc.co.uk/scotland/history/articles/the_wars_of_independence/
Escócia e Inglaterra: Séculos de rivalidade acabaram num casamento sem amor. PUBLICO, 2014, 11 de setembro. Disponivel em:https://www.publico.pt/2014/09/11/mundo/noticia/escocia-e-inglaterra-seculos-de-rivalidade-acabaram-num-casamento-sem-amor-1669315
