
Lucas Cardoso acadêmico do 4° Semestre de RI da UNAMA
A Revolução Mexicana, ocorrida entre 1910 e 1920, transformou profundamente a estrutura social, política e econômica do México, com impactos significativos no cenário internacional. O movimento, que buscava justiça social e reforma agrária, chamou a atenção de potências como os EUA, gerando debates sobre imperialismo e autodeterminação. No âmbito das relações internacionais, a revolução alterou o equilíbrio geopolítico na América Latina e influenciou movimentos políticos globais, redefinindo as relações diplomáticas e econômicas do México com outras nações. Dessa forma, cabe descrever a revolução para compreender tais efeitos.
No ano de 1821, o México se torna independente e após uma série de crises e quase 10 anos de Guerra com a Espanha, posteriormente a guerra, o general Agustín de Iturbide se autoproclamou imperador do país e durou pouco tempo no poder tendo a abolição da monarquia e com revezamento de vários políticos, a década de 1840 foi muita critica para o México que nesse período se envolveu em uma Guerra com os Estados Unidos onde perdeu uma boa parcela do norte do país sendo definida pelo Rio Grande, alguns anos depois eles tiveram que lutar contra a França de novo por ameaça de calote por parte dos mexicanos onde eles conseguiram expulsar os franceses com abolição da monarquia novamente e Benito Juárez se torna o primeiro presidente de ascendência indígena e sendo sucedido por Sebastián Lerdo de Tejada (BETHELL,2018).
Porfirio Díaz, uma jovem liderança militar das alas liberais de Benito Juárez, assumiu a presidência do México em 1876 por meio de um golpe militar. Com apoio de veteranos de guerra, ele permaneceu no poder até 1911, período conhecido como Porfiriato, seu governo promoveu uma significativa modernização do país, com foco no desenvolvimento capitalista e no fortalecimento de laços econômicos com os Estados Unidos, além disso a economia cresceu, em grande parte, graças às fazendas que exploravam mão de obra assalariada e semi-escravizada, especialmente entre os povos indígenas do sul (BETHELL,2002).
O crescimento econômico beneficiava principalmente os grandes fazendeiros e empresas estrangeiras em 1894, Díaz reformou a legislação para facilitar investimentos estrangeiros na mineração e expandir a malha ferroviária, triplicando as exportações mexicanas, contudo, camponeses e indígenas perderam suas terras, e a posse comunal foi substituída pela propriedade privada (BETHELL,2018). A “Tienda de Raya” surgiu como solução temporária, mas os camponeses, endividados, ficaram presos ao trabalho nas terras dos fazendeiros. Díaz governava como um ditador, centralizando o poder e garantindo privilégios aos grandes proprietários (PRADO,2014).
Em 1910, no centenário da independência do México, a capital estava modernizada, mas isso não refletia a realidade do interior. Com a insatisfação popular, Francisco Madero, um latifundiário e opositor de Porfirio Díaz, surgiu defendendo o fim da reeleição e uma revolução política. Acusado de incitar rebelião, foi preso, mas mobilizou a população com o lema “Sufrágio efetivo, reeleição não” e após fugir para os EUA, lançou o Plano de San Luís Potosí, prometendo reforma agrária e unindo operários, camponeses e a pequena burguesia contra a oligarquia (PRADO,2014). Em novembro, uma greve geral enfraqueceu o governo de Díaz e levou à formação de milícias, destacando Emiliano Zapata, que lutou no sul por reformas estruturais (PRADO,2014).
Sem conseguir se manter no cargo, Porfirio Díaz renunciou em 25 de maio de 1911 e exilou-se em Paris. Madero venceu as novas eleições com 90% dos votos, retornando ao México como símbolo de esperança. Para Madero, a revolução já era um sucesso político, e ele pediu o desarmamento das milícias, mas Zapata se recusou a entregar as armas até que houvesse reforma agrária (PRADO,2014). Enquanto Madero defendia o poder do voto, Zapata e seus seguidores viam a luta armada como solução, lançando o Plano Ayala e acusando Madero de traição. Eventualmente, o general Victoriano Huerta traiu Madero, levando à sua queda (PRADO, 2014).
Huerta convocou o embaixador americano pedindo apoio para um golpe, esperando um maior protagonismo das empresas no México, com isso, Madero foi fuzilado em 1913, enviando um recado aos opositores e tornando a guerra civil mais sangrenta. Zapata e Pancho Villa, um operário do norte, ganharam apoio popular. O governador Venustiano Carranza se opôs a Huerta com o apoio do general Álvaro Obregón, que se uniu a Pancho e Zapata. Juntos, representavam classes distintas com o objetivo de derrubar Huerta. Na batalha de Zacatecas, Pancho derrotou o exército de Huerta, que fugiu do país em agosto de 1914 (BETHELL, 2002).
Em 1915, as forças revolucionárias se dividiam entre os constitucionalistas, liderados por Venustiano Carranza e Álvaro Obregón, e os convencionistas, que incluíam figuras como Pancho Villa e Emiliano Zapata. A Batalha de Celaya, ocorrida em abril do mesmo ano marcou uma vitória decisiva para Obregón contra Villa, consolidando a liderança de Carranza no movimento constitucionalista e a fragmentação das forças revolucionárias (PRADO, 2014).
Nos anos seguintes, Carranza consolidou seu poder, e em 1917, foi promulgada a Constituição Mexicana, considerada uma das mais progressistas da época, com artigos que estabeleciam reformas agrárias, direitos trabalhistas e a separação entre Igreja e Estado (BETHELL,2002). Embora a constituição representasse uma vitória simbólica, o país ainda enfrentava instabilidade e violência, especialmente nas regiões controladas por Zapata e Villa, que continuavam a lutar por causas populares, como a reforma agrária (PRADO, 2014).
A revolução começou a se acalmar gradualmente após a derrota de Villa em 1919 e o assassinato de Zapata no mesmo ano. Carranza permaneceu como presidente até 1920, mas sua queda foi inevitável devido à crescente oposição interna e à ascensão de Obregón, que o derrubou em 1920, marcando o fim do período revolucionário. O México, devastado pela guerra, entrou em um período de reconstrução, com a revolução deixando um legado de profundas reformas sociais e políticas que moldariam o país no século XX (PRADO,2014).
No livro “A Revolução Mexicana Vista da América do Sul”, José Carlos Mariátegui relaciona a Revolução Mexicana ao marxismo, destacando-a como uma manifestação das lutas de classes e contradições do capitalismo na América Latina. Ele argumenta que, apesar de suas raízes no contexto mexicano, a revolução expressa a insatisfação das classes oprimidas contra a exploração da elite, alinhando-se à teoria marxista que vê a luta de classes como motor de transformação social. As demandas por reforma agrária e justiça social refletem não apenas necessidades locais, mas também aspirações socialistas da região, posicionando a Revolução Mexicana como um marco na luta pela emancipação dos trabalhadores.
REFERÊNCIAS:
BETHELL, Leslie. História da América Latina: da independência a 1930. Volume 3. São Paulo: Editora Edusp, 2018.
BETHELL, Leslie. História da América Latina: de 1870 a 1930. Volume 5. São Paulo: Editora Edusp, 2002.
MARIÁTEGUI, José Carlos. A revolução americana vista da América do Sul. Editora Appris, 2021.
PRADO, Maria L. A História da América Latina: Editora: Contexto ,2014.
