
Alice Cristina Ferreira, acadêmica do 6º semestre de Relações Internacionais
A Amazônia, como um bioma essencial para o combate às mudanças climáticas, é sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em novembro de 2025. O evento será sediado em Belém do Pará, junto com lideranças mundiais tem o objetivo de debater soluções para conter a crise climática e criar alternativas sustentáveis para a vida no planeta. Para isso, ainda em 2023, o Governo Federal, junto ao Governo do Pará e a Prefeitura de Belém, deram início a um cronograma de concessões e parcerias para ajudar a transformar a capital em uma sede com capacidade para receber um fluxo de mais de 40 mil visitantes durante os principais dias da Conferência.
Os preparativos envolvem a ampliação de ruas, o saneamento de esgoto, a drenagem de águas pluviais, a dragagem de porto para receber navios maiores e a revitalização de espaços. Apesar dos desafios, a expectativa de autoridades e da população é que o evento possa deixar um legado em infraestrutura e no turismo (Agência Pará, 2024) . A vice-governadora do Pará, Hana Ghassan, disse em entrevista à CNN que outro foco é aumentar a qualificação da mão de obra e investir na preservação ambiental.
Já foram investidos mais de 4,7 bilhões de reais para a realização do evento através do Governo Federal. De acordo Adler Silveira, secretário de Infraestrutura e Logística do Governo do Pará, “A COP 30 é um divisor de águas para a nossa capital, para a Amazônia e para o estado. Estamos com mais de 30 obras simultâneas na região metropolitana de Belém” (Agência Gov, 2024).
Dentre as ações da prefeitura de belém com o governo do Estado, se destacam no quesito cultural temos o evento musical “amazônia para sempre”, na área de infraestrutura observa-se obras em canais revitalização de espaço públicos em avenidas como a Júlio César, a revitalização do mercado de são brás, ampliação da rua da marinha, a criação do Parque da Cidade, onde deve acontecer toda a agenda oficial do evento, já na área da saúde o governador Helder Barbalho entregou o novo Pronto Socorro de Belém que funcionará em regime de “portas abertas”. Desde o início de sua construção, em junho de 2021, as obras já geraram cerca de mil empregos diretos, na parte hoteleira o Governo do Pará e uma plataforma de hospedagem firmaram acordo de cooperação que representa mais um avanço visando a recepção do público da COP 30 (Agência Pará, 2024).
A implantação desses projetos e serviços contemplam a melhor trafegabilidade, maior rede de mobilidade, e de saneamento e a criação de áreas verdes e de lazer, entre outras iniciativas, como também a melhoria de vida para os residentes da capital paraense, já que os serviços permanecerão após a realização do evento.
A COP 30 em Belém tem o potencial de atrair investimentos significativos para a região amazônica. A conferência deve focar em temas cruciais como a preservação ambiental, combate ao desmatamento e sustentabilidade, o que pode resultar em novos financiamentos e projetos para a região.
Além disso, há expectativas de investimentos em infraestrutura, como melhorias no transporte público, saneamento e energia sustentável, incluindo energia solar e eólica. Esses investimentos não só ajudarão a preparar Belém para o evento, mas também deixarão um legado duradouro para a cidade e a região amazônica. Há uma grande expectativa de que a conferência traga soluções significativas para a transição ecológica e o desenvolvimento sustentável, mantendo a floresta e suas populações em equilíbrio.
Apesar de seu papel central no combate contra o aquecimento global e as mudanças climáticas, e sua biodiversidade extensa, a região amazônica ainda é vítima de um imaginário popular que a persegue desde tempos coloniais, como os “pulmões do mundo” ou até mesmo o lar da lenda do Eldorado, tem se tornando o berço de uma das discussões mais promissoras sobre mudanças climáticas e seus efeitos dos últimos anos.
Além do aspecto social e a importância para discussões relacionadas ao meio ambiente e estabilidade climática, a região é um polo econômico fundamental para o Brasil, contribuindo para o PIB nacional e sustentando os meios de subsistência de muitas famílias, é uma potência na geração de empregos, de seringueiros e coletores de castanha-do-pará a trabalhadores do setor madeireiro, inúmeras famílias dependem da floresta para sua subsistência. Os impactos econômicos desses setores reverberam por todo o país, fortalecendo as economias locais e promovendo a estabilidade social. Desde o desenvolvimento de novos produtos farmacêuticos até o fornecimento de recursos genéticos, o potencial econômico dessa biodiversidade é vasto.
Todavia, tem-se a noção clara de que as mudanças não vão se realizar de maneira imediata, mas a conferência tem um papel fundamental em trazer maior visibilidade para a região e as pessoas que vivem nela, como também deixar Belém uma cidade melhor de se viver, com qualidade urbana, mobilidade, estruturas e ambientes que possam fortalecer o turismo, gerar emprego e renda.
O teórico Franco-egípcio Samir Amin em Unequal Development (1973) faz uma crítica ao sistema econômico capitalista, destacando a tendência de crescimento econômico intensivo nos países capitalistas desenvolvidos e o subdesenvolvimento simultâneo nas áreas periféricas, ou seja, nos países em desenvolvimento. Amin argumenta que o capitalismo global cria uma divisão entre o centro e a periferia, onde o desenvolvimento de um ocorre às custas do subdesenvolvimento do outro.
Da mesma forma a região Amazônica, é desde muito tempo refém das necessidades capitalistas de outras nações e grandes empresas, a apropriação dos recursos e conhecimentos pertencentes a região tem se tornado cada vez mais normalizado, o ato é mais um dos marcos deixados pelo colonialismo, a devastação socioeconômica sofrida ainda se aflige com duras cicatrizes. Sob esse viés este evento traz a possibilidade não apenas de investimentos econômicos, mas também a possibilidade de adquirir um olhar mais humanizado quando se trata dos benefícios extraídos da região e de quem vive nela sem ter que sacrificar muito mais do que já foi perdido.
Nesse contexto, a COP 30 é um marco de extrema importância para o desenvolvimento socioeconômico da região Norte como um todo, trazendo a possibilidade de mais investimentos, e discussões sobre o futuro da floresta amazônica a partir dos olhos da adversidades trazidas pelas mudanças climáticas, mas também as possibilidades e oportunidades que serão abertas para o Estado do Pará e região Norte, que deixam de assistir da plateia e tomam o palco aos olhos do mundo. Isso tem um nome claro: chama-se protagonismo amazônida.
Referências Bibliográficas
CNN Brasil. Apesar de desafios, expectativa é que COP 30 em Belém deixe legado em infraestrutura e turismo. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/apesar-de-desafios-expectativa-e-que-cop-30-em-belem-deixe-legado-em-infraestrutura-e-turismo/ . Acesso em: 11 out. 2024.
Agência Pará. Obras em Belém para receber COP 30 estão transformando a capital paraense. Disponível em: https://agenciapara.com.br/noticia/56776/obras-em-belem-para-receber-cop-30-estao-transformando-a-capital-paraense#:~:text=ParáOspreparativosparasediar,%2Cmobilidade%2Cturismoesaneamento . Acesso em: 11 out. 2024.
Amazonas Atual. Qual é o papel da Amazônia na economia brasileira? Disponível em: https://amazonasatual.com.br/qual-e-o-papel-da-amazonia-na-economia-brasileira/#:~:text=Alémdeserumacontribuição,deagricultura%2Cpescaesilvicultura . Acesso em: 14 out. 2024.
AMIR, Sumin. Unequal Development. 1. ed. Nova York: Monthly Review Press, 1973.
