Larissa Schoemberger – Internacionalista formada pela UNAMA

As eleições presidenciais nos Estados Unidos, que ocorrerão no dia 5 de novembro de 2024, estão se desenhando como um dos cenários extremamente polarizados na história do país, possibilitando um embate direto entre Trump e Kamala Harris. De um lado nós temos, Trump, candidato representando o partido republicano, ex-presidente, que busca reconquistar a Casa Branca após ser derrotado por Joe Biden nas eleições de 2020. Do outro temos, Kamala Harris, que é a atual vice-presidente de Biden, emergindo como candidata representante do Partido Democrata.

A disputa coloca em evidência visões profundamente contrastantes sobre questões econômicas, sociais e políticas, refletindo a crescente divisão entre os eleitores norte-americanos. A candidatura de Trump atrai uma base conservadora ao defender temas como a anti-migração, economia e segurança, promovendo a política “America First” com foco no nacionalismo econômico e redução de regulamentações. Suas alegações de fraude eleitoral nas eleições de 2020 continuam a ecoar entre seus seguidores, fortalecendo seu apoio no partido, embora seus problemas legais coloquem em dúvida a viabilidade da sua candidatura.

Kamala, por sua vez, como a primeira mulher negra vice-presidente, representa diversidade e progresso social, defendendo igualdade racial, acesso à saúde pública, combate às mudanças climáticas e direitos das mulheres. No entanto, enfrenta a desconfiança de eleitores quanto à sua liderança em um cenário de incertezas.

A disputa entre Trump e Harris vai além das personalidades; é uma batalha entre duas visões de nação: uma busca restaurar o conservadorismo e o isolacionismo, enquanto a outra projeta um futuro inclusivo e progressista. A retórica agressiva de Trump e sua habilidade de mobilização contrastam com o tom conciliador de Harris, refletindo uma divisão profunda sobre o futuro dos EUA. “As pesquisas de intenção de voto indicam uma eleição polarizada, com os dois candidatos empatados dentro da margem de erro no voto popular e nos estados-chave” (G1, 2024, online).

Em outras palavras, a eleição será decidida voto a voto e, no momento, aponta para um resultado controverso. Ainda que Harris esteja consistentemente de dois a quatro pontos percentuais à frente de Trump no cenário nacional, com 48,1% contra 46,4%, de acordo com pesquisas do FiveThirtyEight, a verdadeira disputa será nos “swing states” (estados decisivos), onde os eleitores indecisos podem mudar a situação. Esses estados incluem Wisconsin, Michigan, Pensilvânia, Geórgia, Nevada, Arizona e Carolina do Norte, estes terão um papel crucial na decisão da eleição (VEJA, 2024, online).

Harris lidera na Geórgia com 51% contra 47%, enquanto Trump tem uma ligeira vantagem no Arizona (49% a 46%). Ambas as margens estão dentro da margem de erro de 4,5 pontos percentuais. Trump lidera na Carolina do Norte e empata com Harris em Nevada (48% a 48%). A pesquisa foi feita entre 30 de setembro e 15 de outubro, com 5.016 eleitores (VEJA, 2024, online).

Agora levando para o âmbito internacional, o consenso geral é de que o mundo está do lado de Kamala Harris, mas de acordo com algumas pesquisas não é exatamente isso. Existem muitos governos de extremo poder que desejam a vitória de Trump. O campo pró-Trump inclui países como Israel, Rússia, Índia, Hungria, Argentina e Arábia Saudita, enquanto o apoio a Kamala Harris vem de nações como Ucrânia, grande parte da União Europeia, Reino Unido, Japão, Canadá, Brasil, África do Sul, entre outros (RACHMAN, 2024, online).

A Rússia, por exemplo, aposta na vitória de Trump, já que a redução de ajuda americana à Ucrânia fortaleceria Vladimir Putin, permitindo-lhe um avanço que ele não obteve militarmente. Para a União Europeia, o fortalecimento da Rússia representaria uma ameaça direta à segurança de sua fronteira leste, especialmente se Trump desestabilizar a OTAN, mesmo que não retire os EUA formalmente da aliança. A proposta de Trump de taxar todas as importações em até 20% pode gerar uma guerra comercial com a UE, afetando principalmente grandes exportadores como a Alemanha (RACHMAN, 2024, online).

Embora o consenso europeu favoreça Kamala, há exceções como a Giorgia Meloni, da Itália, e Viktor Orbán, da Hungria, que demonstraram simpatia por Donald Trump, devido a afinidades políticas com a extrema direita e posições nacionalistas. Para Orbán, significa poder influenciar partidos de extrema direita na Europa, como a Reunião Nacional da França e o AfD da Alemanha. O estilo de liderança de Trump atrai também outros líderes como Netanyahu, em Israel, MbS, na Arábia Saudita, e Modi, na Índia. Tendo em vista que esses governos que são menos preocupados com a democracia e os direitos humanos, para eles Trump é um aliado que fortalece suas próprias agendas nacionalistas e autoritárias, em particular porque veem Kamala sendo mais crítica a respeito desses temas (RACHMAN, 2024, online).

No lado do Indo-Pacífico, os aliados dos EUA, como Japão e Coreia do Sul, temem a possibilidade da presidência de Trump, já que ele os vê como “encostados” na segurança americana e demonstra falta de interesse em apoiar Taiwan contra a China. Para muitos países, a diferença entre Kamala e Trump está no estilo, enquanto ela representa estabilidade e previsibilidade, ele seria uma força disruptiva e imprevisível na Casa Branca (RACHMAN, 2024, online).

À medida que a campanha avança, as eleições de 2024 prometem ser um teste para a democracia americana. De um lado, Trump tentando reafirmar seu controle sobre o Partido Republicano e o eleitorado conservador. E do outro, Harris tenta conquistar a confiança dos eleitores que buscam dar continuidade nas políticas de Biden e uma mudança nos rumos da liderança. O resultado dessa eleição terá um impacto profundo não apenas nos Estados Unidos, mas também na política global, dada a influência da nação no cenário internacional.

REFERÊNCIAS

G1. Eleições 2024 nos EUA: veja como Kamala e Trump estão nas pesquisas. G1, 22 out. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/eleicoes-nos-eua/2024/noticia/2024/10/22/eleicoes-2024-nos-eua-veja-como-kamala-e-trump-estao-nas-pesquisas.ghtml. Acesso em: 23 out. 2024.

RACHMAN, Gideon. O que o mundo pensa da disputa entre Kamala Harris e Donald Trump. Folha de S. Paulo, 22 out. 2024. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2024/10/o-que-o-mundo-pensa-da-disputa-entre-kamala-harris-e-donald-trump.shtml. Acesso em: 23 out. 2024.VEJA.

EUA: pesquisa mostra empate entre Trump e Kamala em estados decisivos para eleição. Veja, 21 out. 2024. Disponível em: https://veja.abril.com.br/mundo/eua-pesquisa-mostra-empate-entre-trump-e-kamala-em-estados-decisivos-para-eleicao. Acesso em: 23 out. 2024.