Rodrigo Lobato dos Prazeres – acadêmico do 4º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

A partir do que se entende por doenças, algumas ficam marcadas por seu grande impacto no globo e suas reverberações para as futuras gerações. E isso traz consigo muitas cargas e impactos para a humanidade. Assim, a Peste pode ser considerada uma das mais impactantes patologias que assolaram o mundo, pois o número de vítimas passou de 40 milhões (GRÁCIO, 2017). Além do número de mortos, faz-se necessário citar como ela mudou algumas questões, visto que teve impactos em diversas esferas da sociedade.

Portanto, a partir das definições da OMS, as enfermidades podem ser divididas em 3 tipos, segundo Rosalind Eggo, especialista em doenças infecciosas da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres: Pandemia é a classificação para doenças em escala mundial, a exemplo da recente Covid-19. Epidemias são patologias em que ocorre um rápido crescimento em determinada área, sem atingir escalas mundiais e números significativos, como o Ebola em 2014. E, por último, as Endemias, categoria essa que engloba enfermidades que atingem determinadas áreas, de forma contínua, durante anos. A malária pode ser considerada um dos principais exemplos de uma Endemia. (SANARMED, 2022)

Sendo assim, é importante salientar como questões endêmicas assolam diversas áreas do globo, em diferentes períodos, sendo algumas no próprio território brasileiro, como a Dengue, Febre Amarela e Malária (Silva, 2003). Doenças endêmicas estão diretamente relacionadas a outros fatores, pois essa classificação de doenças é mais comum em regiões com baixos indicadores socioeconômicos, como a região Norte e Nordeste do Brasil, conforme Leila Garcia e Gabriela Silva em 2016, em uma análise socioeconômica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Como citado anteriormente, questões endêmicas assolam principalmente regiões com baixos índices socioeconômicos. Ademais, regiões da África podem ser consideradas as com maiores casos de doenças endêmicas, em especial a malária. Pois, segundo um relatório divulgado em 2023 pela própria OMS, a África lidera os números de crescimento da doença, sendo o número de infectados e o de mortos. Em análise junto ao relatório da IPEA, é de suma importância observar como a insurgência de novas endemias ao redor do mundo está diretamente ligada a vários fatores, como fatores socioeconômicos e crises humanitárias. (GARCIA, 2016)

Assim, a teoria acerca da governança global de James Rosenau se mostra genial para entender a complexidade dessa questão, pois Rosenau em seu livro Global Governance (1995), elabora que alguns problemas do mundo não são possíveis de resolver quando apenas uma nação trabalhar nele, sendo uma questão de governança global. Logo, se um estado que não demonstra conseguir resolver essa problemática, é necessário a cooperação de outros para que determinado problema possa ser resolvido (ROSENAU, 1995). Sendo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), exemplos claros da governança global que Rosenau aponta.

Outra teoria brilhante para analisar as questões endêmicas é o construtivismo de Alexander Wendt. Em seu estudo, Anarchy is What States Make of it: The Social Construction (1992), ele argumenta que a anarquia no sistema internacional não é fixa, pois os Estados mudam suas normas e interações sociais, mostrando que a anarquia trata-se de uma construção social. Relacionando com questões endêmicas, a cooperação entre Estados pode evoluir quando eles reconhecem a necessidade de trabalharem juntos, principalmente para evitar que uma Endemia se torne uma Epidemia, dentro desse contexto.

Dessa forma, a principal forma de combate às Endemias reside em dinâmicas de Estados e como eles cooperam entre si. Visto que, apesar de ser uma Pandemia, a Covid-19 assolou o mundo inteiro, e não foi possível que apenas uma nação pudesse controlar essa enfermidade. Ou seja, isso mostra como a cooperação entre os Estados deveria ser uma prioridade no controle das Endemias, dado o fato que a assistência entre nações resulta em uma maior estabilidade para a saúde global.

Assim, uma rede de cooperação contínua possibilita respostas rápidas e eficazes para o compartilhamento de tecnologias e informações em sistemas de saúde. Sendo assim, as futuras crises endêmicas poderiam ser controladas de maneira mais eficiente e com um menor impacto para as populações.

Referências:

BUTANTAN. Entenda o que é uma pandemia e as diferenças entre surto, epidemia e endemia. Disponível em: https://butantan.gov.br/covid/butantan-tira-duvida/tira-duvida-noticias/entenda-o-que-e-uma-pandemia-e-as-diferencas-entre-surto-epidemia-e-endemia. Acesso em: 27 out. 2024.

GRÁCIO AJDS, GRÁCIO MAA. Plague: A Millenary Infectious Disease Reemerging in the XXI Century. Vol. 2017, BioMed Research International. Hindawi Limited; 2017.

GARCIA, Leila Posenato; SILVA, Gabriela Drummond Marques da. Doenças transmissíveis e situação socioeconômica no Brasil: análise espacial. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2016. (Texto para discussão, n. 2263).

MED. Estratégia. Surto, epidemia, pandemia e endemia: entenda a diferença. Disponível em: https://med.estrategia.com/portal/conteudos-gratis/surto-epidemia-pandemia-e-endemia-entenda-a-diferenca/. Acesso em: 27 out. 2024.

SANARMED. Epidemia, endemia e pandemia: seus significados e suas diferenças. Disponível em: https://sanarmed.com/epidemia-endemia-e-pandemia-seus-significados-e-suas-diferencas-colunistas/. Acesso em: 27 out. 2024.

SILVA, Luiz Jacintho da. O controle das endemias no Brasil e sua históriaCiência & Cultura, São Paulo, v. 55, n. 1, p. 44-7, jan./fev. 2003

OMS. World malaria report 2023. Geneva: World Health Organization, 2023. Relatório anual.

ROSENAU, James N. “Governance in the Twenty-first Century.” Global Governance: A Review of Multilateralism and International Organizations 1, no. 1 (1995): 13-43.

WENDT, Alexander. Anarchy is what states make of it: the social construction of power politics. International Organization, v. 46, n. 2, p. 391-425, 1992.