Tiago Callejon Santos – internacionalista formado em Relações Internacionais pela Unama.

Um dos eventos de grande relevância, no âmbito das Relações Internacionais, diz respeito à guerra russo-ucraniana que iniciou-se em fevereiro de 2022 quando as tropas militares russas invadem o território ucraniano, configurando-se, efetivamente, em um conflito armado-bélico entre os dois países.

As causas principais apontadas pelos analistas no que diz respeito ao início da guerra são: a expansão contínua da OTAN na Europa, sobretudo na região do Leste Europeu, o desejo da Ucrânia em poder aderir ao bloco da OTAN e configurar-se como uma país-membro da organização e, por fim, o efeito subsequente de influenciar a geopolítica russa, o qual faria a Rússia enfraquecer a sua presença e influência nas tomadas de decisão de Política Externa ao longo da região do Leste Europeu, enfraquecendo-a significativamente (CNN Brasil, 2022).

Deste modo, o conflito perdura até os tempos hodiernos, isto é, até os dias atuais, e conforme vai progredindo sistematicamente a escala dos eventos militares desta guerra, novos capítulos deste embate vão se sucedendo. É nesta perspectiva de sucessão dos eventos da guerra que, por exemplo, observou-se novos movimentos de Vladimir Putin no que diz respeito à formação de novas alianças com outros atores para estes poderem interferir diretamente ou indiretamente na guerra, pois, em junho de 2024, Putin visitou a Coreia do Norte com o intuito de formar novas relações entre esses países, a fim de promover novas corridas armadas à guerra russo-ucrania com a intervenção direta do poderio militar da Coreia do Norte, segundo o que especulavam os especialistas à época (Strano, 2024)

Tamanha é essa mobilização militar que, conforme Sarah Shamin (2024), os EUA relataram um contingente de cerca de 10.000 soldados norte-coreanos dirigindo-se à Rússia, com o intuito de os mesmos receberem treinamento em território russo para, posteriormente, ficarem a postos das ações russas na fronteira pertinente ao território ucraniano, a fim de, em última instância, poderem efetivar o contingente militar russo à guerra contra a Ucrânia.

Outrossim, um fato curioso a ser destacado, conforme Shamin (2024), é que a guerra russo-ucraniana, de maneira legal por meios dos dois países, foi combatido por tropas oriundas da Rússia e Ucrânia, aonde não se constatava a intervenção direta de outras nações à guerra russo-ucraniana de maneira direta, então, caso se confirme a interferência direta de tropas norte-coreanas no conflito, Pyongyang seria o primeiro governo a se movimentar diretamente na guerra, sendo um ator análogo à Rússia, à Ucrânia e as tropas mercenárias do Sul da Ásia que já estiveram presentes no conflito.

Mas, de maneira direta, qual(is) seria(m) o(s) impacto(s) da intervenção da Coreia do Norte no conflito? De maneira direta, estipula-se que esse movimento de 10 mil soldados irá interferir diretamente na balança de poder entre os dois atores maiores para as finalidades últimas do conflito, pois, até o momento, confirma-se que mais de 70 mil soldados russos, na maioria constituído por voluntários, perderam as suas vidas atuando diretamente na guerra (Ivshina, 2024), então o acréscimo dessas tropas exteriores às forças russas seriam de grande valor à Rússia em seu próprio equilíbrio de poder, além de que, na perspectiva da Coreia do Norte, essa aliança concederá treinamento efetivo de batalha real para as tropas norte-coreanas, tornando-as mais experientes, precisas e perigosas em termos de conflito, e colocaria Kim Jong-Un em uma posição vantajosa politicamente falando uma vez que isso estabeleceria fortes relações diplomáticas com um governo extremamente solidificado na geopolítica do Oriente Médio e da Ásia, tal como é a Rússia (Barini, 2024).

Com efeito, a exemplificação desta realidade política pode ser entendida sob o espectro do realismo clássico e de suas perspectivas, sobretudo no que concerne os ensinamentos de Hans Morgenthau acerca do que é denominado de “Interesses definidos pelo Poder”. Segundo o teórico, os interesses dos Estados são os aspectos que moldam a política internacional, sobretudo na questão do poder político, os quais geram, em fins últimos, a soberania e a segurança destes mesmos organismos quando eles conseguem efetivar a sua influência em um perspectiva política para obtenção do poder. 

Deste modo, o balanceamento do poder é caracterizado, por essência própria, como um mecanismo efetivo para a prevenção de dominação do Estado aos demais Estados, sobretudo por meio da coalização militar e bélica entre eventuais países, garantindo, portanto, ao Estado em questão, a sua influência ao poder, ao balanço de poder e à sua sobrevivência. Portanto, ao analisar sob o efeito das teorias clássicas do realismo a coalização militar da Rússia com a Coreia do Norte para que estas intervenham na guerra russo-ucraniana e garantam benefícios para si, estes Estados, segundo Morgenthau, estão trabalhando assiduamente para garantir o seu fim último mais benéfico e necessário, isto é, a sua sobrevivência.

Referências:

Por que motivos a Rússia invadiu a Ucrânia: resumo. BBC News Brasil, Brasil, 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60606340

STRANO, Salvador. Coreia do Norte amplia apoio à Rússia na guerra da Ucrânia; entenda. CNN Brasil, Brasil, 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/o-que-se-sabe-sobre-a-participacao-da-coreia-do-norte-na-guerra-da-ucrania/

BARINI, Felipe. O que a Coreia do Norte ganha enviando tropas para lutar na Rússia contra a Ucrânia?. O Globo, seção Mundo. Brasil, 2024. Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/10/24/o-que-a-coreia-do-norte-ganha-enviando-tropas-para-lutar-na-russia-contra-a-ucrania.ghtml

SHAMIN, Sarah. North Korean troops in Russia: How will it impact the Ukraine war?. Al-Jazeera News, 2024. Disponível em https://www.aljazeera.com/news/2024/10/29/north-korean-troops-in-russia-how-will-it-impact-the-ukraine-war

IVSHINA, Olga. Mais de 70 mil russos já morreram na guerra da Ucrânia – a maioria voluntários. BBC News Brasil, Brasil, 2024. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/articles/cwy9pd582dgo#:~:text=Guerra%20na%20Ucr%C3%A2nia%3A%20mais%20de,maioria%20volunt%C3%A1rios%20%2D%20BBC%20News%20Brasil

BUENO, Guilherme. Teoria Realista: Realismo nas Relações Internacionais. ESRI – Escola Superior de Relações Internacionais. Postado em 02 de Março de 2024, Brasil. Disponível em: https://esri.net.br/realismo-conceito-teoria/