Por Thaís Roberta Carvalho, acadêmica do 6° semestre de Relações Internacionais na Unama.

As eleições presidenciais nos Estados Unidos, marcadas para o dia 5 de novembro, representam o momento em que todos os olhares estarão direcionados para a maior hegemonia “democrática” do globo, demonstrando assim a relevância interna e externa do futuro líder a assumir o cargo de presidência do país norte-americano. 

A disputa está acirrada entre o ex-presidente Donald Trump (2017-2020), figura emblemática do Partido Republicano e de extrema direita, e a atual vice-presidente Kamala Harris, representante do Partido Democrata e de perfil mais progressista. Exibindo visões totalmente opostas e controversas, os dois candidatos à disputa eleitoral devem enfrentar, quem for eleito, grandes desafios e perspectivas à frente do poder da hegemonia estadunidense (G1, 2024).

Sendo caracterizada como extremamente polarizada, a eleição presidencial e os candidatos supracitados representam a dualidade das discussões mais debatidas entre os eleitores norte-americanos, onde questões como economia, migração, segurança nacional, educação e aborto, geram uma ampla divisão de opiniões e visões. Para além disso, a política externa adotada pelos EUA também gera preocupação, tendo em vista que a atuação da OTAN e o financiamento militar para os atuais conflitos existentes, como em Gaza e na Ucrânia, estão entre os tópicos mais debatidos  (CNN BRASIL, 2024).

Segundo a análise de Thomas A. Shannon Jr., embaixador dos EUA no Brasil (2010-2013) e Consultor Sênior de Política Internacional na Arnold & Porter, caso Kamala Harris ou Donald Trump vença as eleições, haverá diferentes cenários para a política americana. No caso de vitória da democrata, possivelmente haverá  uma continuidade da política já adotada por Biden em sua gestão (CEBRI, 2024). 

Internacionalmente, Harris deverá manter o apoio militar e financeiro em relação aos conflitos existentes na Europa e Oriente Médio, além do fortalecimento das alianças com países indo-pacíficos como forma de limitar a atuação chinesa no sistema internacional. Já no cenário nacional, Kamala buscará uma abordagem mais moderada acerca de temáticas como imigração e segurança, além de taxar os mais ricos e fortalecer pequenas empresas, como soluções para o crescimento da economia estadunidense. 

Caso Trump vença, Shannon acredita que o republicano irá buscar uma abordagem internacional totalmente diferente da gestão atual, iniciando-se com a redução da ajuda financeira e militar aos conflitos Rússia-Ucrânia e Israel-Hamas, tendo em vista que Trump acredita que tais compromissos e acordos de segurança tem prejudicado os EUA financeiramente (CEBRI, 2024).

No âmbito interno, Donald Trump retomará as políticas imigratórias de seu governo anterior, prometendo realizar a maior deportação em massa vista na história do país. Em questões como a economia, o republicano focará em aumento de tarifas em produtos importados e corte de impostos, além de apoiar a indústria de petróleo e gás, como forma de impulsionar a economia dos Estados Unidos (G1, 2024). 

Apesar das inúmeras divergências existentes entre os candidatos, uma temática em específico tem sido levantada por ambos: a busca pela redução da influência da China, tanto na economia quanto na política internacional. Os candidatos já expuseram o desejo de estipular políticas mais protecionistas acerca das exportações de produtos tecnológicos advindos da China, além de buscarem fortalecer as alianças militares e econômicas no indo-pacífico, como forma de limitar a atuação chinesa na região e fortalecer sua influência entre os países aliados.

Nesse sentido, a escolha do novo chefe de Estado e de Governo americano desperta a atenção internacional acerca de como irá decorrer a atuação e influência do país no cenário internacional. Por isto, pode-se observar tal contexto sob a lente da Teoria da Estabilidade Hegemônica (TEH) do teórico neorrealista Robert Gilpin, o qual afirma que uma economia internacional liberal estável só ocorre quando é sustentada por uma hegemonia que forneça bens públicos internacionais, como por exemplo a segurança internacional.

Assim, em sua obra “O Desafio do Capitalismo Global” (2004), o teórico argumenta que uma potência hegemônica, deve não apenas fornecer bens públicos internacionais, mas também estabelecer as regras do jogo econômico. Desse modo, a hegemonia é constantemente vista como essencial para evitar conflitos e promover a cooperação entre estados, e por isso a escolha do novo líder americano será essencial para a manutenção ou a queda da hegemonia e status-quo dos Estados Unidos no Sistema Internacional.

Por fim, independentemente de qual candidato seja eleito, torna-se essencial explicitar que o novo (a) líder enfrentará inúmeros desafios e perspectivas, onde a economia, tensões geopolíticas com nações como China e Rússia, a polarização interna e a inflação serão as preocupações centrais que o novo governo deverá sanar ao longo do mandato de quatro anos. Por essa razão, as decisões tomadas pelos cidadãos americanos durante a eleição se refletirão não só no âmbito interno, mas internacionalmente, demonstrando a complexidade do cenário global. 

REFERÊNCIAS

CENTRO BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS (CEBRI). Perspectivas eleitorais nos Estados Unidos: impactos possíveis e o futuro da política internacional. CEBRI, 2024, on-line. Disponível em: https://www.cebri.org/br/evento/817/perspectivas-eleitorais-nos-estados-unidos-impactos-possiveis-e-o-futuro-da-politica-internacional . Acesso em: 03 nov. 2024.

CNN BRASIL. Análise: O que as pesquisas dizem sobre as eleições dos EUA de 2024?. CNN BRASIL, 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/eleicoes-nos-eua-2024/analise-o-que-as-pesquisas-dizem-sobre-as-eleicoes-dos-eua-de-2024/ . Acesso em: 03 nov. 2024.

G1. Imigração, economia e aborto: o que pensam Kamala e Trump diante dos principais temas das eleições nos EUA. G1, 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/eleicoes-nos-eua/2024/noticia/2024/11/02/imigracao-economia-e-aborto-o-que-pensam-kamala-e-trump-diante-dos-principais-temas-das-eleicoes-nos-eua.ghtml . Acesso em: 03 nov. 2024.

GILPIN, Robert. O Desafio do Capitalismo Global: a economia mundial no século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2004.