
Por Marcelo Eduardo Alves de Brito, acadêmico do 4º semestre de Relações Internacionais na Unama.
O Sistema Internacional é marcado por uma complexa dinâmica de manutenção de poder, onde Estados buscam preservar sua soberania e hegemonia frente a ameaças que possam desafiar sua posição ou interesses estratégicos. Essa busca pela preservação do status quo reflete tanto o desejo de estabilidade quanto o esforço para perpetuar estruturas que favorecem os atores dominantes.
Sendo assim, no dia 30 de novembro, o recém-eleito para mais um mandato como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou em suas redes sociais que irá adotar tarifas de importação de 100% sobre produtos dos membros do BRICS, caso tentem substituir o Dólar por outra moeda em transações comerciais, além de afirmar que irá adotar, como primeira medida administrativa, tarifas de importação de 25% para os principais parceiros comerciais dos EUA, Canadá e México, e um adicional tarifário de 10% sobre produtos da China, como tentativa de diminuir a entrada de imigrantes ilegais e drogas, especialmente do Fentanil. (CORRÊA, 2024).
Com isso, os impactos expostos por essa política protecionista anunciada por Trump, podem gerar consequências negativas diretas a sociedade estadunidense, devido ao anúncio das tarifas destinadas aos principais parceiros comerciais dos EUA, o FED (Federal Resserve) afirmou que as barreiras tarifárias, se adotadas, ocasionará o aumento das taxas de juros, resultando no aumento da inflação e a desestabilização da cadeia produtiva norte-americana (MELO,2024), afetando cerca de US$ 1,5 trilhão em produtos que fluem pela América do Norte. (MENA, 2024).
Além disso, as reverberações negativas de países como a China evidenciam o desacordo com as ameaças feitas pelo novo presidente estadunidense, afirmando que “ninguém vai ganhar uma guerra comercial ou uma guerra tarifária”. (GOLDMAN, 2024).
As tarifas de 100% sobre produtos dos países do BRICS evidenciam uma tentativa desesperada dos EUA de manter sua hegemonia econômica no comércio internacional diante do crescente fortalecimento econômico desse bloco formado de economias emergentes que almejam outras alternativas para transações comerciais, priorizando o uso de moedas locais entre seus membros e cogitando a criação de uma moeda, o que fortalece suas economias e diminui a dependência do dólar, enfraquecendo, assim, o controle dos Estados Unidos sobre o comércio global. (LEÓN, 2024).
Outrossim, as reverberações destas ameaças mantiveram-se negativas, trazendo consequências imediatas ao cenário nacional e internacional, como o aumento do Dólar de R$ 5,97 para R$ 6,06 e tensões internacionais expostas através de críticas severas ao posicionamento do empresário (G1, 2024). Sendo assim, países do Brics reafirmaram a crítica feita em outubro pela presidente do Novo Banco do Desenvolvimento, Dilma Rousseff, afirmando que o Dólar é utilizado como arma pelos EUA, sendo apoiada pelo posicionamento do Kremlin, dizendo que essas medidas apenas fortalecerão a tendência de mudança para o uso de moedas nacionais entre estes países. (BRASIL DE FATO, 2024).
Com isso, sobre a análise do teórico das Novas Teorias do Comercio Internacional, Paul Krugman, no qual afirma que, de acordo com a política comercial estratégica, os governos interferem ativamente no comércio, impondo tarifas e barreiras comerciais com o objetivo de proteger um setor produtivo, diante da complexa relação comercial globalizada exposta na atualidade. (SARQUIS, 2011).
Sendo assim, é possível ampliar a análise sobre a defesa dos interesses estratégicos voltados à manutenção do poder econômico no Sistema Internacional, aspecto central para compreender as políticas protecionistas ameaçadas por Donald Trump. Portanto, as ameaças de tarifas elevadas e restrições comerciais visaram não apenas proteger setores internos vulneráveis, mas também conter o avanço de blocos econômicos emergentes que desafiam a hegemonia dos Estados Unidos, essa estratégia reflete uma tentativa de preservar a influência norte-americana no comércio global e reforça a relevância do protecionismo como ferramenta de disputa econômica no cenário internacional, conforme discutido por Paul Krugman.
Diante do exposto, a postura de Trump, caracterizada por tarifas agressivas e ameaças diretas a parceiros comerciais e ao BRICS, reflete uma estratégia voltada para a reafirmação da hegemonia econômica dos Estados Unidos em um sistema internacional em constante transformação, ressaltando as persistentes disputas pela manutenção do poder, gerando impactos significativos em diversos setores da economia global e, consequentemente, repercussões sociais, que tendem a se perpetuar dentro da lógica da atual estrutura neoliberal.
Referências:
BRASIL DE FATO. Putin diz que ameaça de Trump contra desdolarização deve prejudicar ainda mais economia dos EUA. São Paulo, 2024. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2024/12/05/putin-diz-que-ameaca-de-trump-contra-desdolarizacao-deve-prejudicar-ainda-mais-economia-dos-eua Acesso em: 13 dez 2024.
G1. Dólar fecha a R$ 6,06 e engata 4º dia seguido de recorde nominal, com cenário fiscal e Trump no foco. Economia. 2 dez 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2024/12/02/dolar-ibovespa.ghtml Acesso em: 13 dez 2024.
GOLDMAN, David. Trump ups the ante on tariffs, vowing massive taxes on goods from Mexico, Canada and China on Day 1. CNN; Politics. 26 nov, 2024. Disponível em: https://edition.cnn.com/2024/11/25/politics/trump-tariffs-mexico-canada-china/index.html Acesso em: 9 dez 2024.
LEÓN, Lucas Pordeus. Ameaça de Trump contra Brics busca manter hegemonia do dólar. Agência Brasil; Internacional. Brasília, 2 dez 2024. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2024-12/ameaca-de-trump-contra-brics-busca-manter-hegemonia-do-dolar Acesso em: 13 dez 2024.
MENA, Bryan. Tarifas de Trump podem elevar taxas de juros dos EUA; entenda. CNN Brasil; Money. Washington, 1 dez, 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/tarifas-de-trump-podem-elevar-taxas-de-juros-dos-eua-entenda/ Acesso 9 dez 2024.
MELO, Murilo. Como as tarifas de Trump sobre México e Canadá podem afetar empresas do Brasil? InfoMoney. 27 nov 2024. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/mercados/como-as-tarifas-de-trump-sobre-mexico-e-canada-podem-afetar-empresas-do-brasil/ Acesso em: 10 dez 2024. SARQUIS, José Buiainain. Comércio internacional e crescimento econômico no Brasil. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2011. 248 p. ISBN 978-85-7631-335-9. Gala, P. A ideia de vantagens comparativas de David Ricardo. [S. l.], 2012. Disponível em: https://www.paulogala.com.br/a-ideia-de-vantagens-comparativas-de-david-ricardo/. Acesso em: 13 dez 2024.
