Antônio Vieira, acadêmico do 2° semestre de Relações Internacionais

Ficha Técnica

Gênero: animação, comedia

Duração: 1h 36min

Ano: 2019

Diretor (a): Sergio Pablos

Distribuição: Netflix

País de origem: Espanha, EUA

Considerada como a melhor animação do ano pelo prêmio BAFTA, a trama, imersa no espirito natalino, conta a história do jovem carteiro Jesper, que é enviado a trabalho até uma ilha remota e ameaçadora, onde encontra, ao lado de um senhor misterioso, uma oportunidade de mudar a sua vida e a do local.

A história começa mostrando o estilo de vida repleto de glamour e sem responsabilidades de Jesper, que é filho do dono de uma academia de carteiros. Sendo completamente ineficaz na arte das cartas e preso em uma bolha social, seu pai exige que o garoto vá até a ilha de Smeerensburg, localizada no extremo norte do planeta. Sob o fim de acumular, em um ano, o total de 6 mil cartas e com receio de ser deserdado como consequência de um possível fracasso na missão, Jesper inicia a viagem até o vilarejo. Ao chegar, ele lida com o ambiente hostil e frio da região, que está marcado pelo conflito constante entre duas famílias: Ellingboes e Krums.

Nesse contexto, o carteiro é menosprezado e tem dificuldade em achar pessoas que queiram enviar cartas. No entanto, ele vê nas crianças e em um senhor carpinteiro, a oportunidade para alcançar seu objetivo. Isso ocorre porque as crianças desenhavam nas cartas que ele entregava até o carpinteiro, o qual tinha uma coleção de brinquedos para retribuir. Juntos, eles começam a mudar a dinâmica social do local, introduzindo nos jovens os famosos comportamentos da época natalina, como ser altruísta e comportado, o que acaba por refletir na vida dos adultos. Paralelamente, agora Jesper tenta lidar com a ânsia de voltar para casa, enquanto carrega o peso de deixar o seu ajudante, Klaus, e a estabilidade de Smeerensburg.

No mais, durante o enredo é possível notar como o protagonista, através das interações sociais, influencia para a criação de uma nova realidade no local e fora dele, criando uma nova identidade para si e para os demais habitantes. Nesse sentido, Klaus pode ser associado à teoria construtivista das Relações Internacionais, onde seus teóricos defendem que a realidade do mundo não é imposta ou predeterminada, estando em constante construção por meio de ideias e valores sociais (RAMOS, 2022).

De acordo com os estudos do teórico construtivista Alexander Wendt, devido a possibilidade de normas e regras serem reformuladas, a anarquia – que é a ausência de uma entidade reguladora entre os Estados – pode ser caracterizada tanto pelo conflito quanto pela cooperação (RAMOS, 2022). De maneira análoga ao filme, os Estados podem ser comparados às famílias Ellingboes e Krums, que possuem tradições e princípios que mantêm o comportamento hostil mútuo, sem uma autoridade externa para controlar a situação.

Sob essa perspectiva, com a criação de uma nova norma por Klaus e Jesper, ao darem presentes apenas para crianças comportadas, os adultos, estimulados pelos filhos, passam a aderir a essa nova forma de tratamento. Dessa maneira, os dois amigos moldam uma interação harmônica entre as famílias, fazendo agora a anarquia ser baseada em colaboração.

Segundo Wendt, o sistema internacional é marcado por agentes, caracterizados pelo seu poder (como os Estados), e estruturas, que representam o contexto social estabelecido por normas e regras, por exemplo, a anarquia. Além disso, ele afirma que ambos se influenciam, gerando novas identidades (RAMOS, 2022). Nesse viés, Jesper pode ser visto como um agente devido à sua força em mudar a vida no vilarejo, o que não seria possível caso ele não tivesse sido impactado pela tradição dos locais. Assim, essa relação molda tanto a sua identidade quanto a de Smeerensburg.

Klaus, mais do que um filme ambientado no natal, busca mostrar a origem da figura do Papai Noel com um toque de realismo, já que, a história o expõe como um exemplo da ideia construtivista de que as pessoas são passiveis a mudanças, portanto, que a realidade é dinâmica. Ademais, é uma linda animação, que consegue inserir humor, ação, e drama na sua trama.

REFERÊNCIAS:

RAMOS, Danielly. TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. In: Introdução às Relações Internacionais. São Paulo: Contexto, 2022. cap. 3, p. 63-94.