Caira Queiroz, acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais – UNAMA

Imersa na arte desde a infância, devido aos seus pais artistas, a renomada atriz, escritora e roteirista brasileira Fernanda Torres tornou-se uma artista eclética, destacando-se na televisão brasileira, especialmente em papéis humorísticos, além de construir uma vasta e premiada carreira no cinema e no teatro, com inúmeros personagens marcantes, tendo seu auge com a recente indicação ao Oscar pelo filme Ainda Estou Aqui, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

Nascida em 1965 no Rio de Janeiro, Fernanda Torres é filha dos renomados atores Fernanda Montenegro e Fernando Torres. Cresceu nos bastidores dos teatros, vivenciando o trabalho artístico dos pais, embora sentisse a ausência deles devido à dedicação intensa às carreiras (O GLOBO, 2021).

“Eu sempre fui rata de coxia dos meus pais, ia muito para o teatro, ficava olhando, assistia aos ensaios na mesa de jantar lá de casa. Eu cresci numa época de forte produção teatral deles.”

Fernanda Torres, em entrevista O GLOBO, 2021.

Nesta atmosfera, a artista  começou a estudar teatro aos 13 anos até se formar na escola de atores “O Tablado”. Já sua primeira atuação nos palcos, em 1978, foi marcada pela ousadia na peça ‘Um Tango Argentino’, de Maria Clara Machado, testemunhada pelos pais, anônimos na cabine de luz do Teatro Tablado. No ano seguinte estreou na TV no programa Nossa Cidade, da TVE, e na Globo, na série Aplauso, no episódio Queridos, Fantásticos e Sábados (THIAGO VECHI, 2024).

Estreou em novelas na década de 80 com Baila Comigo (1981), de Manoel Carlos, e no mesmo ano atuou em “Brilhante”, de Gilberto Braga. Em 1983, interpretou Daisy Cantomaia em “Eu Prometo”, de Janete Clair, e em 1986 viveu a protagonista Simone Marques no remake de “Selva de Pedra, contracenando com Tony Ramos. Ainda na TV, destacou-se também em programas de humor, como o sitcom Os Normais e Entre tapas e beijos (LETÍCIA SENA, 2024).

Já no cinema, Fernanda Torres possui uma extensa carreira, iniciada ainda adolescente com Inocência (1983). Protagonizou mais de 20 filmes, incluindo A Marvada Carne (1985), que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Gramado, e Eu Sei Que Vou Te Amar (1986), pelo qual venceu os prêmios de melhor atriz nos festivais de Cannes e Cuba. Outros destaques incluem O Que É Isso, Companheiro? (1997), indicado ao Oscar, Casa de Areia (2005) e os filmes de Os Normais (2002 e 2009) (O GLOBO, 2021).

A artista explorou outras atuações estreando como escritora, em 2013, com o romance Fim, seguido por Sete Anos (2014), uma coletânea de crônicas, e A Glória e Seu Cortejo de Horrores (2017), sobre um ator em transição de carreira. Em 2023, Fim foi adaptado para a TV como uma série de 10 episódios no Globoplay, com roteiro da autora e direção de Andrucha Waddington e Daniela Thomas. Em 2019 também estreou como roteirista e com “O Juízo”, dirigido por Andrucha Waddington (O GLOBO, 2021). 

Hoje, aos 59, depois de tantos outros trabalhos, três livros publicados e dois filhos, ela é uma forte candidata a uma indicação ao Oscar, como aconteceu com a mãe, Fernanda Montenegro, em 1999 devido a sua atuação em Ainda Estou Aqui, de Walter Salles,  estreado em 7 de novembro, sobre a história de Rubens Paiva, um engenheiro assassinado durante a Ditadura Militar e a luta de Eunice Paiva durante o período.

O filme premiado no Festival de Veneza, foi indicado ao Globo de Ouro em categorias internacionais e é recente representante brasileiro que disputa uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2025. Com o sucesso internacional do filme, Nanda, como é chamada na intimidade, foi parar até no perfil oficial do maior prêmio do cinema, empolgando a torcida brasileira (LEONARDO FERREIRA, 2024).

Nesse sentido, é possível relacionar a incrível trajetória artística de Fernanda Torres nos palcos e no audiovisual com a Teoria Feminista de Cynthia Enloe, especialmente na perspectiva que foca em como as mulheres são, muitas vezes, invisibilizadas ou estereotipadas nas narrativas dominantes (SARFATI, pág. 298). 

Assim como Enloe busca visibilizar o papel das mulheres na política global, Fernanda Torres atua como uma força criativa que contribui para redefinir papéis femininos, utilizando a arte como um meio de subverter estereótipos de gênero, usando a arte como uma ferramenta para promover essa visibilidade e o empoderamento. Tanto na televisão e quanto no cinema, Fernanda desafiou papéis tradicionais e desempenhou personagens complexos, dando vida a personagens que refletiam as múltiplas facetas da mulher moderna, combatendo as normas restritivas que limitam o papel das mulheres no espaço público e privado. 

Além disso, o seu trabalho em abordar questões como a ditadura militar em Ainda Estou Aqui (2024) e sua contribuição para a reflexão sobre a memória e a juventude em Fim (2013), entre outros projetos, demonstra seu compromisso em tratar de temas sociais e políticos relevantes, utilizando a arte como uma forma de subverter normas e representações dominantes. 

Ao mesmo tempo, a influência artística de seus pais foi um catalisador para a sua construção de identidade, orientando-a a explorar e promover uma arte que não apenas questiona normas sociais, mas também dá voz a temas e personagens que representam novas narrativas femininas. Em conjunto, sua trajetória exemplifica como a arte pode ser uma ferramenta poderosa de transformação social e política, alinhada com os princípios feministas de empoderamento e reinterpretação das normas de gênero.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, Leonardo. Filme com Anthony Hopkins, vestibular para ‘escultura’, casamento com Bial: as curiosidades sobre Fernanda Torres. Extra.globo, 2024. Disponível em: https://extra.globo.com/famosos/noticia/2024/11/filme-com-anthony-hopkins-vestibular-para-escultura-casamento-com-bial-as-curiosidades-sobre-fernanda-torres.ghtml . Acesso em: 22 de dez. 2024.

SENA, Leticia. Conheça a vida pessoal e carreira de Fernanda Torres, que tem torcida para ganhar o Oscar 2025. Istoé/Glow News, 2024. Disponível em https://glownews.com.br/conheca-a-vida-pessoal-e-carreira-de-fernanda-torres-que-tem-torcida-para-ganhar-o-oscar-2025/. Acesso em: 22 de dez 2024.

VECHI, Tiago. Fernanda Torres. Mundo Educação, 2024. Disponível em https://mundoeducacao.uol.com.br/biografias/fernanda-torres.htm. Acesso em: 22 de dez 2024.

VECHI, Tiago. Fernanda Torres. Mundo Educação, 2024. Disponível em https://mundoeducacao.uol.com.br/biografias/fernanda-torres.htm. Acesso em: 22 de dez 2024.

IMDB. Fernanda Torres – Biografia. Disponível: https://www.imdb.com/name/nm0868639/bio/. Acesso em: 22 de dez 2024.

MEMÓRIA GLOBO. Fernanda Torres – Biografia. Disponível: https://memoriaglobo.globo.com/perfil/fernanda-torres/noticia/fernanda-torres.ghtml.  Acesso em: 22 de dez 2024.


SARFATI, Gilberto. Teoria das Relações Internacionais.