Sérgio Antonio Sales Moraes Filho – acadêmico do 8º Semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

O avanço exponencial das tecnologias de informação e comunicação transformou o ciberespaço em um novo campo estratégico de disputas de poder. A interconexão global, que é mediada pelas redes digitais, potencializou tanto oportunidades quanto ameaças, fazendo do ciberespaço uma arena imprescindível para o exercício da hegemonia na atualidade. A corrida pela hegemonia no ciberespaço é um fator determinante na dinâmica de poder entre os Estados. Com isso, torna-se de extrema importância a busca pela compreensão dos mecanismos que sustentam essa disputa e as implicações globais dessa corrida.

Segundo o neorrealismo, a dinâmica de poder entre os Estados é regida pela busca incansável por segurança em um ambiente de anarquia. No ciberespaço, essa teoria explica a corrida por supremacia tecnológica como um reflexo da necessidade de proteção contra ameaças externas e de ampliação de capacidades ofensivas dos próprios Estados. Além disso, a interdependência crescente entre os atores internacionais é abordada pelo neoliberalismo, que enfatiza a importância da cooperação e de normas globais para aliviar os riscos associados às vulnerabilidades compartilhadas no ambiente digital na atualidade. (PEREIRA, 2013)

O conceito de complexidade internacional também pode ser aplicado ao ciberespaço, onde sistemas interconectados criam relações de dependência mútua e uma certa imprevisibilidade. Essa perspectiva ressalta que, apesar da competição crescente, os Estados devem considerar a importância de mecanismos de coordenação para evitar colapsos que, decerta forma, possam impactar negativamente todos os atores envolvidos no sistema. (KEOHANE; NYE, 1977)

A corrida pela hegemonia no ciberespaço é marcada por competições tecnológicas, como o desenvolvimento de inteligência artificial, 5G entre outras centenas de novas tecnologias. Países como os Estados Unidos e a China lideram esses avanços tecnológicos, enquanto outros atores buscam alianças estratégicas para não serem marginalizados, o que pode acontecer devido à falta de investimentos na área da tecnologia. A velocidade na coleta e análise de dados é um diferencial competitivo, permitindo reações rápidas em contextos de cibersegurança e no controle de informações sensíveis. (MOROZOV, 2020)

Com isso, podemos observar um aumento das ameaças no ciberespaço, como ataques cibernéticos e campanhas de desinformação.  (MICROSOFT, 2023) Esses fenômenos não ameaçam apenas a segurança nacional, mas também desafiam normas internacionais e promovem instabilidade em uma escala global.

No contexto neorrealista, a corrida pela hegemonia no ciberespaço reflete a busca por supremacia em um ambiente de anarquia, onde a velocidade é uma vantagem estratégica e imprescindível. Estados procuram garantir sua própria superioridade tecnológica para proteger seus interesses e evitar vulnerabilidades. Por outro lado, o neoliberalismo enfatiza que a cooperação internacional é indispensável para amenizar os riscos dessa corrida, como o estabelecimento de normas de conduta e o fortalecimento de organizações multilaterais.

A teoria da complexidade internacional oferece uma perspectiva adicional, destacando a interdependência entre os Estados e demais atores no ciberespaço. Apesar da competição, os Estados compartilham vulnerabilidades e interesses comuns, como a necessidade de proteger infraestruturas críticas contra os temidos ataques cibernéticos. Desta forma, a busca por hegemonia passa a ser moderada pelo entendimento de que o colapso do sistema digital global traria consequências catastróficas para todos dentro do sistema. (BRONZATTI, 2018)

A corrida pela hegemonia no ciberespaço destaca a crescente centralidade das tecnologias digitais nas dinâmicas de poder globais. Quanto ao quesito estratégico, a velocidade redefine as relações de poder e cria novos desafios para a segurança internacional. A busca por hegemonia é repleta de tensões, alterando entre competição e cooperação, o que reflete as dificuldades de um mundo interconectado. Por fim, torna-se claro que a compreensão dessas dinâmicas é essencial para desenvolver estratégias que promovam estabilidade e governança no ciberespaço.

Referências:

BRONZATTI, Arthur Martini. Teoria da Interdependência Complexa e o Ciberespaço. Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2018. Disponível em: https://repositorio.jesuita.org.br/bitstream/handle/UNISINOS/11772/Arthur%20Martini%20Bronzatti.pdf?isAllowed=y&sequence=1. Acesso em 23/12/2025

KEOHANE, Robert O.; NYE, Joseph S. Power and Interdependence: World Politics in Transition. 2nd ed. Boston: Little, Brown, 1989.

MOROZOV, Evgeny. A batalha geopolítica do 5G. Le Monde Diplomatique Brasil, 2020. Disponível em: https://www.lemonde-diplomatique.org.br.. Acesso em 23/12/2025

MICROSOFT. Espionagem potencializa ataques cibernéticos globais. Disponível em: https://news.microsoft.com/source/latam/seguranca/espionagem-potencializa-ataques-ciberneticos-globais/?lang=pt-br.  – Acesso em 23/12/2025

PEREIRA, Joana. O Ciberespaço e a Mutação da Realidade. Dissertação de Mestrado, Universidade de Coimbra, 2013. Disponível em: https://estudogeral.uc.pt/bitstream/10316/24638/1/JoanaPereira_Disserta%C3%A7%C3%A3oMestrado.pdf.  Acesso em 23/12/2025