Gabriele Nascimento (acadêmica do 2° semestre de RI da UNAMA)

Keity Oliveira e Lara Lima (acadêmicas do 8° semestre de RI da UNAMA)

O ano de 2024 foi marcado por uma série de acontecimentos na Amazônia, evidenciando tanto os avanços quanto os desafios enfrentados na região. Reconhecida por sua imensa importância ambiental, política e social. A floresta manteve-se no centro das atenções no cenário nacional e internacional, principalmente devido ao seu papel estratégico na agenda climática global.

Entre as prioridades do Brasil em relação à Amazônia, destaca-se o combate ao desmatamento. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre agosto de 2023 e julho de 2024, a área desmatada na região foi de 6.288 km² (Peixoto; Barreto, 2024). Embora agosto e setembro tenham registrado períodos intensos de queimadas, o total desmatado apresentou uma redução de 30,6% em relação ao levantamento anterior do Inpe, evidenciando um avanço no enfrentamento dessa problemática.

A Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP29), realizada em Baku, Azerbaijão, entre 11 e 24 de novembro, destacou o papel central da Amazônia na luta contra as mudanças climáticas. Durante o evento, líderes políticos, cientistas, ativistas, representantes de ONGs da região e representantes da sociedade civil enfatizaram a urgência de proteger a maior floresta tropical do mundo para mitigar os impactos das emissões de carbono, além de assegurar os direitos das comunidades tradicionais que dependem diretamente de seus recursos (Vasques, 2024).

Também foram apresentados compromissos para zerar o desmatamento até 2030, com políticas públicas, monitoramento ambiental, financiamento para projetos sustentáveis e promoção de tecnologias limpas. Além da bioeconomia e parcerias entre governos, setor privado e organizações internacionais também foram destacadas como estratégias essenciais para conservar a Amazônia e reforçar seu papel global na regulação climática (Perrupato, 2024).

A COP30, que será sediada no Brasil, dará continuidade aos esforços globais de preservação ambiental, com a Amazônia novamente ocupando um papel central nas discussões. Sua presença nas negociações é crucial para explorar alternativas econômicas que conciliam o desenvolvimento com a preservação ambiental, além de promover uma maior integração das comunidades locais e indígenas nas estratégias de governança climática.

Espera-se que o evento seja construído pelo e para os povos da Amazônia, com ênfase em como reduzir os impactos das mudanças climáticas sobre as populações mais vulneráveis, como as periféricas, indígenas e comunidades tradicionais (WWF-Brasil, 2023). A conferência deve fortalecer a cooperação internacional e implementar ações concretas para proteger a Amazônia, reconhecendo sua importância global para o equilíbrio climático.

Outro ponto de avanço na Amazônia ocorreu no que tange a questão agrária e a regularização fundiária, que representa desafios históricos que continuam impactando o desenvolvimento da região. Projetos de lei e programas voltados para a titulação de terras foram implementados para reduzir os conflitos agrários e garantir direitos às populações tradicionais, promovendo, assim, a justiça social e a segurança jurídica para comunidades que, por décadas, lutaram pelo reconhecimento de seus territórios. Contudo, a implementação desses programas ainda enfrenta resistência devido à complexidade do tema, à diversidade de interesses envolvidos e à necessidade de uma fiscalização mais eficaz (Martins; Pacheco, 2024).

Em 2024, a discussão sobre a regularização fundiária na Amazônia assumiu novas proporções, impulsionada pelas mudanças no governo federal, nas políticas dos estados da Amazônia Legal e pela reação do setor do agronegócio no Congresso. Essas transformações refletiram também no aumento das queimadas no bioma, gerando um cenário de intensas disputas políticas e sociais (Martins; Pacheco, 2024). A combinação desses fatores tem tornado ainda mais urgente a busca por soluções eficazes para a regularização fundiária, de modo a equilibrar os interesses econômicos com a preservação ambiental e a garantia de direitos das populações locais.

As comunidades indígenas e ribeirinhas fortaleceram sua mobilização e avançaram em defesa dos territórios e dos direitos socioambientais, por meio de manifestações, filmes, vídeos, documentários e articulações em fóruns internacionais, buscando maior visibilidade para as demandas locais e pressionando por políticas públicas mais inclusivas (Dantas, 2021).

O turismo tem crescido bastante na região amazônica, no primeiro semestre de 2024, em torno de 13 mil viajantes internacionais desembarcaram no estado do Amazonas, segundo dados do Embratur, do Ministério do Turismo (MTur) e da Polícia Federal (PF) (Gov, 2024). A riqueza da floresta, cultura, arte e a gastronomia amazônica têm despertado curiosidade dos turistas, tanto nacionais como internacionais.

Em consonância com as tendências observadas nos últimos anos, a Amazônia enfrentou grandes desafios ao longo de 2024. As atividades ilegais continuam a ser uma preocupação central, como a extração de madeira, a expansão da agricultura e a mineração. Esses fatores não apenas ameaçam a biodiversidade única da região, mas também impactam comunidades indígenas e tradicionais que dependem da floresta para sua sobrevivência.

Além disso, as mudanças climáticas provocaram eventos climáticos extremos, como secas severas, queimadas e inundações, que agravaram a situação já vulnerável da Amazônia (WWF, 2024). A perda de cobertura florestal contribuiu para a emissão de gases de efeito estufa, perpetuando um ciclo destrutivo que afeta não apenas a região, mas o planeta como um todo.

Dessa forma, a seca extrema na região e as queimadas fora de controle formaram uma nuvem de fumaça por todo o bioma, afetando 11 estados brasileiros. Conforme os dados do Programa de Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram no total de 53.620 focos de queimadas em 2024, um aumento de 80% se comparado com o mesmo período de 2023, que registrou 29.826 focos. O número de queimadas entre 1 de janeiro e 27 de agosto de 2024, é o maior desde 2010 (WWF, 2024).

Nesse sentido, os impactos das queimadas e da seca extrema afetam cerca de 330 mil pessoas na região amazônica, 69 municípios decretaram estado de emergência ambiental (Pereira, 2024). Dessa forma, com a seca nos rios, lugares que só são acessados via transporte fluvial enfrentam grandes dificuldades, como a escassez de alimento, água, falta de energia, devido a necessidade de combustível para Usinas Termelétricas funcionarem em algumas cidades, porém o uso de embarcações para o transporte da substância é imprescindível.

Em síntese, os avanços observados na Amazônia em 2024 foram significativos, no entanto, os desafios enfrentados permaneceram imensos. A degradação ambiental, as mudanças climáticas e as tensões sociais ainda exigem atenção urgente. Para 2025, há uma expectativa crescente de que os órgãos governamentais, juntamente com a sociedade, intensifiquem suas ações em defesa da região, promovendo políticas efetivas de preservação e desenvolvimento sustentável. A ação conjunta entre diferentes órgãos é fundamental para garantir que os progressos conquistados não sejam revertidos e que mais conquistas sejam alcançadas, assim a Amazônia pode ser protegida para as futuras gerações.

Diante do exposto, evidencia-se como retrospectiva de 2024, os artigos acadêmicos feitos pelo quadro Amazônia em Foco ao longo desse ano. Ademais, ressalta-se todos os demais artigos postados no Site Internacional da Amazônia que já acumula mais de mil postagens desde a sua criação. Para mais informações, acesse:

< https://internacionaldaamazonia.com/ >

Em segundo, recomenda-se o documentário “A carta” (2022), baseado na encíclica “Laudato Si” do Papa Francisco sobre o cuidado da Casa Comum. A produção aborda o poder da humanidade para deter a crise ecológica. Os protagonistas são um indígena da Amazônia, um refugiado do Senegal, uma jovem ativista indiana e dois cientistas estadunidenses. É uma obra para afirmar o protagonismo de lideranças indígenas na proteção das florestas e lembrar a importância de ouvir o que as pessoas das ‘periferias’ têm a dizer. O longa está disponível para ser assistido no Youtube, através do link a seguir:

< https://www.youtube.com/watch?v=Rps9bs85BII&ab_channel=YouTubeOriginals >

Por fim, recomenda-se a leitura da obra “As veias abertas da América Latina” do escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano que narra a história de exploração do continente latino americano que dessangra suas riquezas desde o século 15 até o período atual. Uma investigação jornalística profunda, que une dados históricos com antropologia, mitos, realidades e sabedoria popular e que mostra a histórica subalternização do continente e de suas populações. O livro está disponível para compra no site da Amazon, através do link a seguir:

< https://www.amazon.com.br/As-Veias-Abertas-Am%C3%A9rica-Latina/dp/8525420697 >

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA GOV. Chegada de turistas internacionais ao Amazonas cresce mais de 20% no primeiro semestre de 2024. Publicado:25 de jul. 2024. Disponível em: <https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202407/chegada-de-turistas-internacionais-ao-amazonas-cresce-mais-de-20-no-primeiro-semestre-de-2024>. Acesso em: 26 dez. 2024

DANTAS, Jorge Eduardo. Em defesa dos territórios! Conheça quatro histórias recentes e bem sucedidas de luta pela terra na América do Sul. Greenpeace. Publicado em: 13 de agos. 2021. Disponível em: <https://www.greenpeace.org/brasil/blog/em-defesa-dos-territorios-conheca-quatro-historias-recentes-e-bem-sucedidas-de-luta-pela-terra-na-america-do-sul/>. Acesso em: 26 dez. 2024.

MARTINS, Pedro; PACHECO, Fábio. Novo capítulo da regularização fundiária da Amazônia. Le Monde Diplomatique Brasil. Publicado em: 17 dez. 2024. Disponível em: <https://diplomatique.org.br/novo-capitulo-da-regularizacao-fundiaria-da-amazonia/>. Acesso em: 26 dez. 2024.

PEREIRA, Julia. Seca atinge 69% dos municípios da Amazônia em 2024. Infoamazonia. Publicado em:9 de agos. 2024. Disponível em: <https://infoamazonia.org/2024/08/09/seca-atinge-69-dos-municipios-da-amazonia-em-2024/>. Acesso em: 26 dez. 2024

PERRUPATO, Pamela. Amazônia e a sustentabilidade na COP 29: investimento, conservação e o papel dos pequenos produtores. Planeta Campo. Publicado em: 13 de nov. 2024. Disponível em: <https://planetacampo.canalrural.com.br/noticias/amazonia-e-a-sustentabilidade-na-cop-29-investimento-conservacao-e-o-papel-dos-pequenos-produtores/>. Acesso em: 26 dez. 2024

PEIXOTO, Roberto; BARRETO, Kellen. Inpe: taxa de desmatamento cai 30% na Amazônia e 25% no Cerrado. G1. Publicado em: 6 nov. 2024. Disponível em: <https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2024/11/06/inpe-taxa-de-desmatamento-na-amazonia-cai-306percent.ghtml>. Acesso em: 26 dez. 2024.

WWF-Brasil. COP 30 na Amazônia reforça urgência do combate ao desmatamento e da agenda de transição energética. 26 maio 2023. Disponível em: https://www.wwf.org.br/?85920/COP-30-na-Amazonia-reforca-urgencia-de-combate-ao-desmatamento-e-agenda-de-transicao-energetica. Acesso em: 26 dez. 2024.

VASQUES, Valdeniza. COP29: Amazônia brasileira participa de abertura do Pavilhão Indígena. COIAB. Publicado em: 11 de nov.  2024. Disponível em: <https://coiab.org.br/cop29-amazonia-brasileira-participa-de-abertura-do-pavilhao-indigena/>. Acesso em: 26 dez. 2024