Gabriele Nascimento (acadêmica do 3° semestre de RI da UNAMA)

Keity Oliveira (Internacionalista formada pela UNAMA)

 Lara Lima (acadêmica do 1° semestre de RI da UNAMA)

A Amazônia é um dos ecossistemas mais importantes do planeta e desempenha um papel fundamental no equilíbrio climático global e na conservação da biodiversidade. Nós últimos anos, a floresta vem enfrentando uma série de desafios que estão sendo agravadas pelas mudanças climáticas, dentre eles a seca, que tem se tornado mais severa e freqüente a cada ano, ameaçando a capacidade de resiliência da Amazônia.

A resiliência da Amazônia, entendida como sua capacidade de se recuperar de grandes impactos, tem sido severamente desafiada. Estudos indicam que a floresta está se aproximando de um ponto crítico conhecido como ponto de não retorno, um estágio em que ela perde a capacidade de autorregulação e entra em um ciclo irreversível de degradação (WWF-Brasil, 2024).

Esse processo é impulsionado pela combinação de eventos climáticos extremos e pressões antrópicas, como o desmatamento e as queimadas, que comprometem os mecanismos naturais de regeneração do bioma.

As mudanças climáticas têm sido intensificadas por ações humanas, especialmente pelo aumento da produção industrial, a qual contribui significativamente para a emissão de poluentes atmosféricos. Essa atividade industrial intensa resulta na liberação de gases do efeito estufa, como dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄) e óxidos de nitrogênio (NOx), exacerbando o efeito estufa. O que, conseqüentemente, gera um aumento contínuo da temperatura média global, caracterizando o fenômeno do aquecimento global.

A seca prolongada leva ao acúmulo de material seco no solo, o que contribui para o aumento de queimadas na região, as quais são provocadas por criminosos em sua grande parte. Nesse sentido, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) (CLIMAINFO, 2024), indica-se que as porções de floresta nativa da Amazônia atingidas pelo fogo em 2024 totalizaram 4,6 milhões de hectares de 1º de janeiro a 31 de outubro.

Além disso, um fator determinante para o aumento da temperatura que resulta em secas está relacionado ao fenômeno El Niño. Esse fenômeno climático é caracterizado pelo aquecimento das superfícies do Oceano Pacífico e pela alteração dos padrões de circulação atmosférica em todo o planeta. Nos últimos meses, o El Niño se manifestou de forma intensa, causando impactos imensos por toda a Amazônia, conforme explicitado por Renato Senna (G1, 2024):

“Essas condições alteraram o padrão de circulação atmosférica, reduzindo e, em alguns casos, impedindo a formação de nuvens na região. Como resultado, houve uma diminuição significativa dos volumes de precipitação durante toda a estação chuvosa da Amazônia. Esse período é essencial para o acúmulo de água e o enchimento das grandes bacias hidrográficas que formam o Rio Amazonas”.

As consequências das secas são significativas, impactando tanto o meio ambiente quanto as comunidades rurais e urbanas da região. Um dos efeitos mais alarmantes é a mortalidade da fauna e flora, que prejudica diretamente a economia e o modo de vida dos ribeirinhos e de todos os povos da floresta, muitos dos quais dependem da pesca para sua subsistência e para a comercialização. Em 2023, a seca extrema na Amazônia provocou a morte de 209 botos no lago Tafé e em Coaraci, localizado no Amazonas, conforme dados da Agência Brasil (2024).

No Brasil, segundo a análise publicada pelo InfoAmazonia (2024) com base nos dados apresentados pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) entre janeiro e junho deste ano, a seca atingiu 69% dos municípios da Amazônia Legal, enquanto apenas 31% permanecem em estado de normalidade.

Outrossim, a escassez de água potável obriga os moradores a se deslocarem para locais distantes em busca desse recurso essencial. Ademais, a seca dos rios compromete o acesso dos povos das florestas a direitos básicos, como saúde, educação e alimentação. Com os rios secos, torna-se inviável a locomoção, uma vez que o principal meio de transporte dessas comunidades é por via aquática.

Segundo dados divulgados pela UNICEF (G1, 2024), o Fundo das Nações Unidas para a Infância, a seca extrema na Amazônia afeta mais de 420 mil crianças, principalmente de comunidades indígenas no Brasil, Peru e Colômbia, que dependem das vias fluviais para terem acesso a comida, remédios e para irem à escola.

O abastecimento de energia elétrica é diretamente impactado durante períodos de seca, pois a diminuição nos níveis dos rios dificulta o transporte de óleo diesel e gás, que são muito utilizados pelas hidrelétricas.

Em 2023, um dos problemas enfrentados pelo município Santa Isabel do Rio Negro, localizado no interior do estado do Amazonas, foi a falta de luz, a usina termoelétrica da cidade ficou sem combustíveis e precisou fazer racionamento de energia para a população. No município, conforme dados do InfoAmazonia (2024), que fica a 631 km de distância de Manaus, a mudança foi de seca fraca, no primeiro semestre de 2023, para seca severa no primeiro semestre de 2024.

Nesse contexto, as secas não se configuram apenas como uma crise ambiental, mas também como uma crise humanitária, resultando em condições de vida precárias para a população local. Além disso, essa situação impacta profundamente os costumes e a cultura dos povos indígenas que habitam a região, uma vez que a floresta, os rios e os animais possuem um significado imensurável e único para essas comunidades, que desempenham um papel essencial na preservação da natureza.

Os impactos da crise ambiental são diversos, e vai muito além da mortalidade da fauna e flora, englobando também as comunidades tradicionais que já se encontram isoladas, ou que já estão sofrendo com dificuldades de deslocamento, transporte de alimentos, medicamentos e o abastecimento de água.

A floresta amazônica é um dos maiores exemplos de resiliência da natureza. Contudo, diante das secas cada vez mais intensas e prolongadas, surge a reflexão sobre até onde ela poderá resistir. Ao longo de sua história, a região tem se adaptado às adversidades, porém, os limites de sua capacidade de regeneração estão sendo testados como nunca antes.

Portanto, é necessário ações contundentes e urgentes, para poder moderar os impactos das secas e preservar o ecossistema amazônico, que é de grande importância para a regulação do clima global. O estabelecimento de um paradigma de governança para a Amazônia, com apoio político, institucional e da própria sociedade civil se faz de extrema importância com intuito de combate as atividades ilegais que cada vez mais avançam pelo território.

Diante da temática exposta, recomenda-se dois documentários para complementar os estudos. O primeiro é um curta documental, chamado “Ponto de Não Retorno da Amazônia” (2024), produzido pela equipe do WWF-Brasil. Ao reunir diversas pessoas como cientistas, indígenas e coletores de sementes que vivem na Amazônia, o documentário busca mostrar o que significa o “ponto de não retorno” para a Amazônia e as consequências das ações do desmatamento desenfreado que assola a região. O curta está disponível para ser assistido no Youtube, através do link a seguir:

< https://www.youtube.com/watch?v=ZHcVL3gxQAU >

O segundo é um webdocumentário chamado “O Amanhã é hoje – o drama de brasileiros impactados pelas mudanças climáticas” (2018). O longa mostra que os impactos do clima já alcançaram todos os brasileiros, estejam na cidade, no campo ou na floresta. O filme é resultado da união de sete organizações da sociedade civil que juntaram esforços para tirar da invisibilidade as histórias dos afetados pelas mudanças climáticas. Disponível para ser assistido no Youtube, através do link a seguir:

< https://www.youtube.com/watch?v=azrnx55oawQ&ab_channel=OAmanh%C3%A3%C3%89Hoje >

Por fim, indica-se o Observatório do Clima, fundado em 2002 e que representa uma rede de organizações da sociedade civil, tendo como objetivo discutir as mudanças climáticas no contexto brasileiro, que incluem representatividade, pluralidade e longevidade na discussão de mudanças climáticas.

Site: < https://www.oc.eco.br/ >

Instagram: < https://www.instagram.com/observatoriodoclima/ >

Facebook: < https://www.facebook.com/ObservatorioClima >

REFERÊNCIAS

G1 Notícias. Amazonas enfrenta seca extrema e está a caminho da pior estiagem da história em 2024, afirma especialista. 07 de setembro de 2024. G1. Disponível em: <  https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2024/09/07/amazonas-enfrenta-seca-extrema-e-esta-a-caminho-da-pior-estiagem-da-historia-em-2024-afirma-especialista.ghtml > Acesso em: 30 dez. 2024.

CLIMAINFO. INPE: quase 5 milhões de hectares da Amazônia já foram queimados em 2024. 07 de novembro de 2024. Disponível em: < https://climainfo.org.br/2024/11/06/inpe-quase-5-milhoes-de-hectares-da-amazonia-ja-foram-queimados-em-2024/> Acesso em: 30 dez. 2024.

NASCIMENTO, Luciano. Mudanças climáticas já interferem em secas e cheias na Amazônia: alerta é de pesquisador do inpe em evento na sbpc. Alerta é de pesquisador do Inpe em evento na SBPC. 12 de julho de 2024. AgênciaBrasil. Disponível em: < https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-07/mudancas-climaticas-ja-interferem-em-secas-e-cheias-na-amazonia#:~:text=O%20desmatamento%2C%20as%20queimadas%2C%20aliados%20%C3%A0s%20mudan%C3%A7as%20clim%C3%A1ticas%2C,secas%20mais%20severas%20com%20menor%20intervalo%20de%20tempo. >. Acesso em: 30 dez. 2024.

PRESSE, France. Seca extrema afeta mais de 420 mil crianças na Amazônia, diz Unicef. 07 de novembro de 2024. G1. Disponível em: < https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2024/11/07/seca-extrema-afeta-mais-de-420-mil-criancas-na-amazonia-diz-unicef.ghtml > . Acesso em: 30 dez. 2024.

WWF-Brasil. WWF-Brasil lança curta documental sobre o ponto de não retorno da Amazônia. Publicado em: 08 de agosto de 2024. Disponível em: <https://www.wwf.org.br/?90240/WWF-Brasil-lanca-curta-documental-sobre-o-ponto-de-nao-retorno-da-Amazonia>. Acesso em: 30 dez. 2024.