
Railson Silva (acadêmico do 8º semestre de RI da UNAMA)
Joseph Nye é um dos mais renomados acadêmicos em Relações Internacionais (RI) e é conhecido por ter contribuído para a criação do conceito de “soft power“. Professor da Universidade de Harvard e escritor de vários livros fundamentais, Nye se tornou proeminente por oferecer uma visão alternativa em comparação à maneira convencional de olhar para o poder, que era muito mais sobre aspectos coercitivos e materiais. Sua teoria de soft power, no entanto, articulada pela primeira vez na década de 1990, desde então mudou e nivelou a compreensão e o uso do poder na política internacional.
A discussão em torno do soft power encontra suas raízes em intensos debates acadêmicos na busca por uma melhor compreensão das dinâmicas de poder nas relações internacionais. Na obra “Bound to Lead: The Changing Nature of American Power” (1990), Nye argumenta contra a noção do declínio dos Estados Unidos, afirmando, em vez disso, que além do hard power — o poder coercitivo derivado da força militar e da influência econômica — os Estados Unidos se destacam significativamente no soft power devido à atratividade de sua cultura, valores democráticos e diplomacia.
O autor leva isso mais adiante em “Soft Power: The Means to Success in World Politics” (2004), na qual ele ressalta a capacidade de julgar afeições e opiniões como centrais para sustentar a liderança em uma comunidade global intimamente unida.
Nye argumenta que os componentes do soft power são três: cultura, valores políticos e políticas externas. Uma cultura atrativa pode facilitar uma grande quantidade de influência sobre outros atores internacionais. Valores políticos, como democracia e direitos humanos, são fontes adicionais de soft power — desde que sejam aplicados de acordo com um discurso político consistente. Em última análise, as políticas externas (incluindo diplomacia) precisam ser percebidas como legítimas e morais para gerar respeito e admiração (Nye 2004).
Tal noção do novo conceito trazido por Nye ganhou muita importância em várias situações prevalecentes. Por exemplo, a disseminação mundial da cultura pop americana por meio de filmes, música e tecnologia influenciou muito a opinião pública em outras nações. O teórico afirma que essa capacidade de toque cultural ajudou não apenas a embelezar a imagem dos Estados Unidos, mas também a aumentar sua liderança em todo o mundo (Nye, 1990).
Ele ainda apresenta alguns desafios com os quais o soft power tem que lidar, como o alinhamento discurso-prática. De acordo com Nye, a credibilidade importa: um país não pode atrair outros se seus valores não forem manifestados em suas práticas (Nye, 2004). Recentemente, esse mesmo conceito tem sido usado para explicar o papel da China em relação à sua estratégia de expansão global que investe muito economicamente e promove culturalmente meios como o Instituto Confúcio; denotando, portanto, uma influência teórica muito grande do conceito de Nye na análise contemporânea.
Em síntese, Joseph Nye alterou o conceito da essência do poder ao revelar o soft power, entregando assim uma ótica alternativa, mas essencial, em vista das relações internacionais no século XXI. De sua perspectiva, na qual se tem um mundo altamente globalizado, a capacidade de um país de influenciar outros por mera atração se torna tão importante quanto o poderio militar e o poder econômico. Ademais, suas ideias ainda são muito comentadas e aplicadas, o que fala por sua relevância teórica e prática. Seu legado indica que, em um mundo de interdependência, buscar ganhar admiração e cooperação é a chave para uma liderança duradoura.
Referências:
NYE, Joseph S. Bound to Lead: The Changing Nature of American Power. New York: Basic Books, 1990.
NYE, Joseph S. Soft Power: The Means to Success in World Politics. New York: PublicAffairs, 2004.
