
Sthephanye dos Santos Caldeira – acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais da Unama
Desde da década de 40, diversas instituições brasileiras estiveram envolvidas na criação da Embraer – Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A – inicialmente concebida como estatal, rapidamente se destacou no cenário global. Dentre elas, podemos destacar o Ministério da Aeronáutica, firmado pelo então governo Vargas da época, o Centro Tecnológico de Aeronáutica (CTA) e o famoso Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), que foram os encarregados de formar engenheiros especializados, altamente qualificados, sendo uma referência até hoje. Essas entidades foram cruciais para o avanço da aviação no Brasil, concebendo um cenário favorável para a expansão da Embraer em um mercado relativamente acirrado e dominado por gigantes como Boeing e Airbus (EMBRAER).
A Embraer foi fundada no dia 19 de agosto de 1969, conforme uma estratégia governamental de apoiar empresas voltadas à consolidação da indústria nacional e incentivo aprimorado de inovações em áreas estratégicas através do Decreto-Lei no 770. A empresa iniciou suas operações como uma entidade de capital misto, foi privatizada em 7 de dezembro de 1994 (BONATTO; COSTA, 2015). A concepção do Bandeirante, o primeiro avião regional brasileiro, foi realizada pelo Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento (IPD) do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), sob a direção do aviador Ozires Silva. Conforme afirma Cláudio Lucchesi em “O Voo do Impossível” (2018), a fundação do Bandeirante foi um elemento crucial para o surgimento da Embraer e o eventual sucesso do Brasil em aviação, sinalizando sua transformação em um protagonista da indústria aeronáutica em escala global. A empresa conta hoje com mais de 50 anos de existência, incluindo mais de 8 mil aeronaves designadas e entregues com sucesso (EMBRAER)
A empresa iniciou a revisão do protótipo original do IPD e desenvolveu o EMB 110 Bandeirante, um avião de maior porte com capacidade para 12 passageiros. A primeira unidade do EMB 110 foi entregue à Força Aérea Brasileira (FAB) em fevereiro de 1973 e, em abril, à Transbrasil, dando início às suas operações comerciais. A eficiência operacional do Bandeirante sobressaiu-se durante a crise do petróleo de 1973, quando os preços dos combustíveis elevaram os custos das operações a jato. Este modelo surgiu como uma opção mais econômica, leve e apropriada para viagens curtas, ganhando rapidamente espaço no mercado de voos regionais, especialmente nos Estados Unidos. Este era um setor que havia sido negligenciado pelos grandes fabricantes, como Boeing e Airbus, que focavam em aeronaves de grande porte para voos longos, revelando, assim, uma oportunidade estratégica nesse nicho limitado (BONATTO; COSTA, 2015).
A inserção da Embraer no cenário internacional se fortaleceu com o lançamento do jato regional ERJ-145, com capacidade para 50 passageiros, que foi um grande sucesso. Posteriormente, a companhia deu um passo significativo ao desenvolver a linha E-Jets, projetada para aviões com capacidade entre 70 e 120 lugares. Nesse mercado, a sua principal concorrente foi a canadense Bombardier, que em 2017 formou uma parceria estratégica com a Airbus (G1, 2018). Essa aliança aumentou a pressão competitiva no setor e levou a Boeing, em 2018, a buscar um acordo com a Embraer para adquirir sua divisão de aviação comercial, visando equilibrar forças no mercado global. No entanto, a crise financeira da Boeing, agravada por problemas técnicos em algumas das suas aeronaves que causaram alguns acidentes, e pela pandemia de Covid-19, culminou na ruptura do acordo em 2020, deixando a Embraer em uma posição desafiadora, porém independente no mercado internacional (AERO MAGAZINE,2020)
Na disputa com gigantes globais, a Embraer tornou-se numa ferramenta estratégica para o Brasil ampliar seu prestígio e estabilidade. Ao analisarmos sob a visão do teórico Hans Morgenthau, em seu livro Politics Among Nations (2006), ele argumenta que os interesses dos Estados na política internacional são moldados principalmente pela busca por poder e influência, e a Embraer espelha a força econômica e tecnológica do Brasil em um cenário global competitivo. A teoria realista sustenta que, em um sistema internacional anárquico, os países procuram aumentar ao máximo sua segurança e poder, inclusive através do fortalecimento de setores estratégicos, como o avião, que se mostra uma necessidade mundial de locomoção e transporte em todos os cantos do mundo (MORGENTHAU,2006). No caso da Embraer, essa lógica pode ser percebida na sua escolha de focar seus esforços no mercado de aeronaves regionais e de médio porte, afirmando seu domínio e espaço nesse imenso mercado. Não obstante, persiste o investimento na inovação e na fabricação de novos aviões comerciais, executivos, militares e agrícolas, reforçando sua relevância e competência em diferentes segmentos da aviação, expandindo sua soberania no sistema internacional (EMBRAER).
Com isto posto, nota-se que, mesmo em um mercado bastante competitivo, é possível para empresas de países em desenvolvimento prosperar com competência e inovação em ambientes antes dominados por monopólios. A Embraer é um ponto crucial na história econômica do Brasil, um modelo notável de ambição e excelência que ganhou reconhecimento global. A sua carreira demonstra não só a excelência de seus produtos, mas também a habilidade do Brasil em ampliar sua presença no comércio global. Isso destaca a importância de o país dar prioridade a políticas públicas que incentivem a educação e estimulem a formação de empresas inovadoras. Ao incentivar a cooperação entre universidades, institutos de pesquisa e empresas, o país estabelece as condições propícias para o surgimento de outras iniciativas de sucesso.
REFERÊNCIAS:
AERO MAGAZINE. Detalhes exclusivos da situação da Embraer após cisão com Boeing. 2020. Disponível em:
https://aeromagazine.uol.com.br/artigo/detalhes-exclusivos-da-situacao-da-embraer-apos-cisao-com-boeing_6052.html. Acesso em: 19 jan. 2025.
BONATTO, Frederico; COSTA, Paula Figueiredo. Um estudo de caso – A Embraer e seu processo de internacionalização. 3º Encontro Nacional da ABRI, 2015. Disponível em: https://www.abri.org.br/anais/3_Encontro_Nacional_ABRI/Economia_Politica_Internacional/EPI%203_Frederico%20Bonatto%20UM%20ESTUDO%20DE%20CASO%20-%20A%20EMBRAER%20E%20SEU%20PROCESSO.pdf. Acesso em: 20 jan. 2025.
EMBRAER. EMB 100 Bandeirante. Disponível em: https://historicalcenter.embraer.com/br/pt/emb-100-bandeirante. Acesso em: 19 jan. 2025.
EMBRAER. Sobre nós. Disponível em: https://embraer.com/br/pt/sobre-nos. Acesso em: 19 jan. 2025.
G1. Entenda por que as gigantes da aviação estão unindo forças. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/entenda-por-que-as-gigantes-da-aviacao-estao-unindo-forcas.ghtml. Acesso em: 20 jan. 2025.
MORGENTHAU, H. J. Politics among nations: the struggle for power and peace. Boston: McGraw-Hill Higher Education, 2006.
