
A chegada de Bashar al-Assad à presidência da Síria tem origem nas conquistas políticas de sua família, que, pertencendo à comunidade alauita, diante das dificuldades econômicas em que vivia, muitos de seus membros alistaram-se no Exército Nacional. Sendo assim, seu pai, Hafez al-Assad, após se tornar membro do partido Baath, ascendeu até se tornar Ministro da Defesa em 1966. Tornou-se presidente da Síria em 1971, cargo no qual ficou até sua morte, em 2000. Seu regime contrastou-se com a tendência dominante na história da Síria independente, submetida a vários golpes militares e mudanças de governo. Sob um regime ditatorial, Hafez esmagou a oposição e rejeitou a realização de eleições livres. Nas relações externas, seguiu o pragmatismo, alinhando-se à União Soviética e juntou-se à coligação liderada pelos EUA contra o Iraque de Saddam Hussein na Guerra do Golfo de 1991.
Bassel al-Assad era o irmão mais velho de Bashar al-Assad e provável herdeiro político de seu pai, mas um acidente em 1994, no qual Bassel faleceu, tornou Bashar al-Assad o único e potencial sucessor político dos Assad, tendo sido convocado imediatamente a iniciar sua preparação para assumir o papel que a história lhe reservava. Sendo assim, juntou-se ao exército e começou a forjar sua imagem pública.
Nesse sentido, de acordo com CASTRO (2013, pág. 60), o indivíduo é um sujeito histórico e, portanto, limitado àquele determinado lapso cronológico. O indivíduo é um pequeno recorte, enquanto as Relações Internacionais são o quadro panorâmico maior. Seu nexo causal com a política das nações é a razão e a liberdade – subjetividade emancipatória maior. O sujeito carrega em si as preferências, as idiossincrasias e as poeiras do seu tempo, enquanto as Relações Internacionais permanecem como objeto pontual dos contatos e das trocas entre os povos.
O estilo de liderança de Bashar al Assad, que assumiu o poder em 2000,aliado à educação ocidental, pareciam o prenúncio de uma nova era de mudanças.A Síria viveria um breve período de abertura e relativa liberdade de expressão conhecido como Primavera de Damasco. Contudo, em 2001,as forças de segurança haviam retomado as suas práticas de prisões em massa e repressão,como ocorria à época de Hafez al Assad.O Estado é o principal componente do amplo fenômeno personificado da interação internacional. Como peça-chave na relação sujeito-objeto, o Estado tem centralidade e prerrogativas unívocas que o distingue, de forma pontual, de outros atores internacionais.Não se pode conceber o estudo do Estado (estatologia) sem sua relação direta com o poder (cratologia) […].Na verdade, Estado e poder se confundem em sua lógica própria e intrínseca de cientificidade da política internacional. O Estado é meio e fim; o Estado é agente e paciente dos objetos complexos da vida externa e interna.Estado nacional é criação relativamente recente no amplo dínamo histórico da humanidade. O Estado foi forjado na violência e, como tal, representa a priori a lógica de manifestação e materialização das forças sociais de profundo e longo alcance,(CASTRO,2013,pág.99).
A Primavera Árabe, teve um grande peso na insatisfação que o povo sírio passou a nutrir contra seu governo,que teve como início o protesto de um lojista chamado Mohamed Bouazizi que ateou fogo a si mesmo após ser agredido por um policial,desencadeando uma revolta popular na Tunísia,que acabou derrubando o presidente Zine El Abidine Bem Ali.Contudo,mais dois fatos contribuíram para a queda de Assad. Primeiramente,os militantes islâmicos que tomaram o poder na Síria são considerados como uma organização terrorista pela ONU, Estados Unidos,Turquia entre outros Estados.O segundo motivo que descambou para a queda de Bashar Al Assad, foi a impossibilidade de seus antigos aliados de o ajudarem a se manter no poder, pois também estão envolvidos em conflitos (Rússia,por exemplo),desse modo,a “ditadura dos Assad” se viu impotente.
Surpreendentemente, na noite de 07 de dezembro de 2024, Bashar al Assad fugiu da Síria juntamente com sua família para a Rússia, antiga aliada. O primeiro ministro sírio,disse que o conselho do agora ex-presidente, foi o de fazer uma transição pacífica de poder,fato confirmado pelo governo russo.Logo,o mundo teve certeza do fim da Era Assad,quando Abu Mohammed al-Golani, líder do grupo rebelde HTS, fez um pronunciamento pela TV estatal: “O futuro é nosso”.“Não há chance de voltar atrás, estamos determinados a continuar o caminho que começamos em 2011”. Este novo personagem da política síria,nos últimos doze anos, trabalhou para reformular sua imagem pública, afastando-se de seu parceiro de longa data, o grupo terrorista al-Qaeda. O líder do HTS tenta, aos 42 anos, aprimorar sua reputação e obter o apoio de governos internacionais e de minorias religiosas e étnicas no país, por meio de um discurso de pluralismo e de tolerância,(Rede BBC,2024).
REFERÊNCIAS:
-CASTRO,Thales.Teoria das Relações Internacionais. Brasília: FUNAG,2012. Disponível em: < www.funag.org.br > Acesso em: 08 dezembro,2024;
-CASTRO,Thales.Debates da Conjuntura Internacional Pós-Bipolaridade : o Realismo Ofensivo (Pessimista) de Mearsheimer e o Realismo de Choque Civilizatório de Huntington e Suas Repercussões.Revista Caderno de Relações Internacionais vol. 4, n. 7 ,jul-dez,2013;
–Síria: quem são os rebeldes que tomaram o poder . Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/articles/cy4ppwkqd81o > . Acesso em 08 dezembro,2024;
–Síria: rebeldes tomaram Damasco e dizem que Assad fugiu de avião. Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/articles/cgrwwzr7kxxo> . Acesso em 08 dezembro,2024;
–Síria : cinco perguntas para entender o que aconteceu no país. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/articles/c2exgd18rrjo > . Acesso em 08 dezembro,2024;
–Sírios refugiados voltam para casa após queda de Assad; o que se sabe sobre tomada do poder na Síria. Disponívelem: < https://www.bbc.com/portuguese/articles/cgrwwzr7kxxo> . Acesso em: 08 dezembro,2024.
