Railson Silva (acadêmico do 8º semestre de RI da UNAMA)

A renomada escritora nigeriana, Chimamanda Ngozi Adichie, conquistou um nicho para si mesma como uma das vozes literárias mais potentes da África moderna e uma teórica cujos pensamentos sobre gênero, identidade cultural e globalização tocam um acorde em campos variados de conhecimento, das Relações Internacionais (RI) a disciplinas mais difusas. Nascida em 1977, em Enugu, Nigéria, Adichie cresceu em um cenário profundamente marcado por tensões pós-coloniais, um ambiente que viria a desempenhar um papel significativo na formação de sua escrita e engajamento intelectual. (ADICHIE, 2024)

Chimamanda Ngozi Adichie ganhou fama literária com seu romance Half of a Yellow Sun publicado em 2006, que detalha as experiências horríveis da Guerra Civil Nigeriana, mais conhecida como Guerra de Biafra de 1967-1970. O romance percorre um longo caminho não apenas na reconstrução de uma parte essencial da história nigeriana, mas também na problematização da identidade e pertencimento nacional, temas muito pós-coloniais.

Adichie escreve porque quer questionar narrativas hegemônicas e, portanto, destaca a importância crítica de ouvir vozes marginalizadas. Como ela diz em uma de suas palestras, “a história única cria estereótipos, e o problema com os estereótipos não é que eles sejam falsos, mas que sejam incompletos” (ADICHIE, 2009, tradução nossa). Essa crítica à “história única” tornou-se ressonante no discurso atual sobre a descolonização do conhecimento e da pluralidade nas narrativas históricas e culturais.

Outro de seus textos fundamentais é Americanah, publicado em 2013. Esta obra oferece uma exploração das complexidades que unem migração, raça e identidade cultural. Por meio da personagem Ifemelu, Adichie desvenda mais especificamente as experiências de africanos migrando para os Estados Unidos ao se depararem com questões de racismo e desigualdade. É uma forte crítica aos sistemas que sustentam a disparidade racial e cultural tanto na América do Norte quanto globalmente.

Além de sua ficção, Adichie é bem conhecida por seus ensaios e palestras, onde ela fala sobre muitos tópicos como feminismo e globalização. Sua palestra We Should All Be Feminists, de 2014, transformou uma simples palestra do TED em um guia moderno para justiça de gênero. A pesquisadora diz que o feminismo precisa ser visto não como uma ideia apenas para o Ocidente, mas como uma luta em todo o mundo que deve se encaixar em diferentes culturas. Ela aponta como é errado pensar que as mulheres africanas são apenas vítimas; ela mostra sua força e luta. Essa visão tem sido muito discutida em estudos de gênero e desenvolvimento, dando uma visão diferente que se opõe às ideias europeias de feminismo.

Por fim, Chimamanda Adichie passou a ser vista como uma intelectual culta, altamente dinâmica e multifacetada, cujas obras literárias e teóricas contribuem significativamente em diversos debates da contemporaneidade. Questões complexas articuladas de forma simples, mas envolvente, fazem dela uma voz insubstituível no cenário global. Por meio de suas obras, ela desafia narrativas hegemônicas, propondo de forma bastante paternalista, pluralista e inclusiva de ver as coisas ao redor do mundo. Ela dá muitas contribuições relevantes aos estudos de Relações Internacionais em uma tentativa de compreender a dinâmica do poder dentro de um mundo cada vez mais inter-relacionado.

Referências:

ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Chimamanda Ngozi Adichie Official Website. 2024. Disponível em: https://www.chimamanda.com/.

ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Americanah. Nova York: Knopf, 2013.
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. We Should All Be Feminists. Nova York: Random House, 2014.
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. “The Danger of a Single Story”. TED Talk, 2009. Disponível em: https://www.ted.com/talks/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story