Gabriele Nascimento (acadêmica do 3º semestre de RI da UNAMA)

Keity Oliveira (Internacionalista formada pela UNAMA)

Lara Lima (acadêmica do 1º semestre de RI da UNAMA)

Os grandes projetos desenvolvimentistas têm sido implantados em diversas épocas na Amazônia. Nesse viés, o município de Barcarena, no Pará, também conhecido como “Chernobyl da Amazônia”, tem se tornado conhecido por ser um sítio de exploração ambiental em decorrência dos inúmeros acidentes ocorridos na área industrial e portuária, e da acumulação de conflitos que iniciaram com a implantação dos projetos de desenvolvimento no final da década de 1970, o que tem gerado inúmeros fatores de risco para a região e sua população.

Apesar de parecer um pouco absurdo comparar a cidade ucraniana arrasada por um acidente nuclear em abril de 1986, com a realidade de Barcarena, levando em consideração que não há exposições consideráveis a elementos radioativos comprovadas na cidade, a comparação é feita pelos moradores da região que há anos denunciam os impactos das bacias de rejeitos, sobretudo do urânio e o tório (elementos químicos radioativos) que compõem as estruturas da bauxita processa pela Hydro Alunorte.

O munícipio de Barcarena se constitui como um território estratégico, marcado pela confluência entre verticalidades e horizontalidades (Santos, 2005) na Amazônia paraense, com economia de “fronteira do capital natural” ligada diretamente aos mercados globais (Becker, 2005). A região é chamada de “zona de sacrifício”, definição utilizada pelos movimentos de justiça ambiental para designar locais em que se observa uma superposição de empreendimentos e instalações responsáveis por danos e riscos ambientais (Farias, 2023).

O local possui o crescimento populacional acelerado e desorganizado como característica marcante, motivado pela implantação sem adequação de projetos industriais da área portuária para a exportação. A industrialização está presente desde a década de 70 na região, o que a transformou com o passar dos anos, em um grande polo industrial com várias fábricas instaladas ao seu redor, sendo a produção do caulim, a sua principal atividade.

Apesar de ser um dos principais polos industriais do Pará, a região também é um cenário recorrente de desastres ambientais causados por indústrias de grande porte. O caso mais recente ocorreu em 18 de dezembro de 2024, quando a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semade) autuou a empresa Sambazon pelo vazamento de amônia. Esse incidente evidencia os desafios enfrentados pelo município na segurança industrial, na preservação do equilíbrio ecológico e na gestão ambiental, conforme Vasconcelos (2024).

A amônia (NH₃) é um gás incolor, altamente tóxico, de odor forte e pungente, além de ser solúvel em água. Sua ampla utilização na indústria inclui a fabricação de fertilizantes, produtos de limpeza, plásticos e explosivos (Vasconcelos, 2024).

Quando em contato com o ser humano, a amônia pode causar diversos problemas de saúde, incluindo irritação na garganta, nos olhos e no nariz, além de provocar queimaduras químicas. Em casos mais graves, segundo Pavão e Fernandes (2017) pode levar a danos respiratórios severos e até mesmo à morte.

Na fábrica de açaí em Barcarena, oito funcionários inalaram gás amônia, passaram mal e precisaram ser encaminhados à Unidade de Pronto Atendimento da Vila dos Cabanos. Eles apresentavam sintomas como irritação no nariz e na garganta, além de desconforto respiratório, conforme mencionado anteriormente (Vasconcelos, 2024). Além dos riscos à saúde humana, a liberação de grandes quantidades de amônia pode causar impactos significativos na sociedade local e no meio ambiente.

Quando dissolvida em corpos d’água, a amônia pode alterar o pH, tornando o ambiente inadequado para a sobrevivência de espécies aquáticas. Conforme a Usiqúimica (2023), a exposição prolongada pode levar à morte de peixes e outros organismos, impactando diretamente a cadeia ecológica local.

Além disso, o contato do gás com o solo compromete sua fertilidade, alterando o ciclo de nutrientes e afetando a vegetação local. Em áreas agrícolas, essa contaminação pode reduzir a produtividade e colocar em risco a segurança alimentar (Usiquímica, 2023). O impacto na biodiversidade também compromete a resiliência dos ecossistemas locais.

Nessa perspectiva, as indústrias de Barcarena, assim como muitas outras, enfrentam desafios para operar de forma sustentável, especialmente diante de incidentes ambientais. Entre as principais dificuldades estão a fiscalização ineficaz, muitas vezes comprometida pela falta de recursos e pela influência política de grandes empresas.

Outra dificuldade enfrentada pelas indústrias é o uso de processos produtivos que representam riscos ambientais. A adoção de tecnologias mais seguras, embora exija um investimento inicial maior, pode evitar custos ainda mais altos decorrentes de acidentes. Nesse sentido, segundo Serafim et al (2015), implementar sistemas de contenção de vazamentos e monitoramento contínuo da qualidade do ar e da água reduziria significativamente os impactos ambientais.

Consequentemente, a ausência de um sistema eficiente de gestão de resíduos e substâncias químicas aumenta os riscos de novos desastres ambientais (Serafim et al., 2015). A implementação de planos de emergência e práticas de descarte responsável é essencial e deve ser considerada uma prioridade.

Outrossim, é fundamental que as indústrias conciliem suas atividades econômicas com as responsabilidades ambientais e sociais, levando em conta que isso é apenas uma das soluções para a resolução dessa problemática. O fortalecimento das políticas de ESG (Environmental, Social and Governance) e adoção de compromissos ambientais mais rigorosos são medidas essenciais para promover a sustentabilidade no setor.

O vazamento de amônia em Barcarena reforça os riscos ambientais das atividades industriais na região e destaca a necessidade de medidas mais eficazes e rigorosas para mitigar impactos futuros. A adoção de tecnologias mais seguras, o fortalecimento da fiscalização e um compromisso maior com a sustentabilidade são essenciais para garantir um desenvolvimento econômico, enfatizando-se a necessidade da inter-relação dessas soluções com a sociedade civil e a mudança radical dos princípios produtivos para a preservação do meio ambiente e da saúde das populações locais.

Diante do exposto, recomenda-se o trabalho do Greenpeace Brasil, uma organização não governamental com mais de 30 anos de atuação que se volta para a defesa do meio ambiente. Presente do Brasil desde 1992, a organização atua por meio de ativistas que denunciam e confrontam governos, empresas e projetos que promovem a destruição da Amazônia e ameaçam o clima global. Para obter mais informações, acesse:

Site: < https://www.greenpeace.org/brasil/ >

Instagram: < https://www.instagram.com/greenpeacebrasil/ >

Facebook: < https://www.facebook.com/GreenpeaceBrasil/ >

Também se recomenda o trabalho do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), uma organização não governamental sem fins lucrativos fundado em 1995. O objetivo da organização é promover o desenvolvimento sustentável na Amazônia e no Cerrado com o fito de gerar impactos positivos na economia, buscando a igualdade social e a preservação do meio ambiente. Ao longo dos anos o IPAM apresentou importantes contribuições no Brasil e no mundo a partir da produção de conhecimento, testando a aplicação e a viabilidade de políticas públicas. Para mais informações, acesse:

Site: < https://ipam.org.br/pt/# >

Instagram: < https://www.instagram.com/ipam_amazonia?igsh=b3RzYzZ0em83dnpt >

Facebook: < https://www.facebook.com/share/1YbtKTBSHF/ >

YouTube: < https://youtube.com/channel/UCt7HrjLsClKyPchQFwrlQPg?si=HIKhpe2RkaX1IaeY >

Por fim, recomenda-se o documentário “Tinha Gosto de Perfume: Barcarena e os Crimes Ambientais Impunes” (2018), produzido por Brasil de fato. O documentário retrata o cotidiano da população ribeirinha do interior do Pará que sobrevive há décadas lutando contra os impactos de constantes mudanças. O documentário está disponível para ser assistido no YouTube, através do link a seguir:

< https://www.youtube.com/watch?v=5Y-veie86O0&ab_channel=BrasildeFato >

REFERÊNCIAS

BECKER, Bertha K. Geopolítica da Amazônia.  Estudos Avançados, São Paulo, v. 19, n. 53, 2005.

FARIAS, André Luís Assunção de. Impactos e conflitos socioambientais de grandes projetos na Amazônia: até quando Barcarena/PA será uma zona de sacrifício? Interthesis: Revista Internacional Interdisciplinar, v. 20, n. 1, p. 2, 2023. Disponível em: < https://periodicos.ufsc.br/index.php/interthesis/article/view/90583 > Acesso em: 03 de fevereiro de 2025.

NETO, Cícero Pedrosa. Barcarena, uma Chernobyl na Amazônia. Publicado em: 2022. Amazônia Real. Disponível em: < https://amazoniareal.com.br/especiais/barcarena-chernobyl-na-amazonia/ > Acesso em: 05 de fevereiro de 2025.

PAVÃO, Gabriela; FERNANDES, Paulo. Bioquímico explica riscos à saúde da amônia, gás que vazou na JBS. G1 Mato Grosso do Sul, 04 abr. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2017/04/bioquimico-explica-riscos-saude-da-amonia-gas-que-vazou-na-jbs.amp.html> Acesso em: 01 de fev. 2025.

SANTOS, M. O retorno do território. OSAL: observatório social de América Latina, [s.I], ano 6, n. 16, p. 250-251, 2005.

SERAFIM, Osni Ricardo de Almeida; GODOY JUNIOR, Wanderley; SERRAN, Francisco José. Estudo de caso: gestão de riscos na utilização de amônia (NH₃) nos sistemas industriais de refrigeração da Itazem Logística Portuária Ltda. Publicado em: 2015. Disponível em: <http://www.ensinosuperior.sed.sc.gov.br/wp-content/uploads/2016/03/TCC-Osni-Ricardo-de-Almeida-Serafim.pdf>. Acesso em: 01 de fev. 2025.

USIQUÍMICA. Impactos ambientais causados pelo incorreto descarte de amônia. Usiquímica. Publicado em: 09 ago. 2023. Disponível em: <https://usiquimica.com.br/blog/descartedeamonia/>. 01 de fev. 2025.

VASCONCELOS, Laura. Empresa é autuada após vazamento de amônia em Barcarena. Diário Online (DOL). Publicado em: 19 dez. 2024. Disponível em: <https://dol.com.br/noticias/para/887522/empresa-e-autuada-apos-vazamento-de-amonia-em-barcarena>.Acesso em: 01 fev. 2025.