
Julia Castro, acadêmica do 7° semestre de Relações Internacionais
Ficha Técnica:
Ano: 2001
Direção: David Lynch
Distribuição: Universal Pictures
Gênero: Drama
País de Origem: Estados Unidos
Dirigido por David Lynch e considerado um dos melhores filmes de todos os tempos, “Cidade Dos Sonhos” acompanha a história de Betty, uma jovem aspirante a atriz, e Rita, uma mulher amnésica. Juntas, elas tentam desvendar seu passado, mas encontram uma verdade perturbadora sobre Los Angeles. Com uma estrutura labiríntica e cheia de simbolismos, a narrativa explora os limites entre sonho e realidade, permanecendo aberta a diversas interpretações.
A história acompanha Betty Elms, que chega a Hollywood para perseguir sua carreira de atriz. Ao chegar no apartamento de sua tia, encontra uma mulher misteriosa que sofre de amnésia após um acidente de carro em Mulholland Drive, na cidade de Los Angeles. A mulher adota o nome “Rita” e tenta desvendar, junto com Betty, a sua identidade e o que aconteceu com ela. Conforme a investigação avança, a história se torna cada vez mais desconexa, revelando um submundo obscuro da indústria do entretenimento em Hollywood. Betty descobre que pode ser na verdade Diane Selwyn, uma atriz fracassada e obcecada por uma mulher idêntica a Rita, chamada Camilla. Enquanto isso, o filme tem núcleos desconexos, incluindo a história de um diretor de cinema que enfrenta forças obscuras que tentam manipular seu novo filme (MILANI, 2025).
Através de uma trama complexa e fragmentada, a obra cinematográfica pode ser analisada à luz da teoria pós-moderna das Relações Internacionais, que desconstrói categorias tradicionais como Estado e poder, e enfatiza a construção discursiva da realidade. Ao desconstruir discursos, observa-se que não existe uma ciência racional alheia aos valores que a construíram e, portanto, não há realidade objetiva. As teorias e realidades são produtos de discursos e, portanto, não existem fora da construção deles (SARFATI, 2005). No filme, a história é contada de maneira não linear, desafiando a ideia de uma verdade única. As protagonistas se perdem entre sonho e realidade, assim como os atores internacionais operam em um cenário onde percepções são moldadas por estruturas invisíveis de poder.
Jean Baudrillard argumenta que esse período moderno, de final do século XX e início do XXI, tem assistido a uma enorme destruição do significado, em que a condição humana é caracterizada pelo conceito de hiper-realidade, na qual a mídia forma e representa a realidade social (SARFATI, 2005). O mundo não é mais estruturado por verdades objetivas, mas por simulacros: imagens e discursos que não correspondem à realidade. No filme, Hollywood funciona como um grande simulacro, sendo um lugar que vende sonhos, mas que na realidade esconde corrupção e fracasso. Da mesma forma, no sistema internacional, conceitos como “paz internacional” e “democracia” muitas vezes funcionam como simulacros que escondem desigualdades globais.
Em síntese, “Cidade Dos Sonhos” pode servir como uma metáfora para a construção das narrativas globais. Mais do que um filme cheio de incógnitas, o longa-metragem critica o falso glamour de Hollywood, ao apresentar uma narrativa onde a realidade é fragmentada e as identidades são fluidas. Assim como na política global, Lynch nos mostra que o que parece ser real pode ser apenas uma ilusão meticulosamente arquitetada.
REFERÊNCIAS:
MILANI, R. Cidade dos Sonhos. Papo De Cinema. 2025. Disponível em: https://www.papodecinema.com.br/filmes/cidade-dos-sonhos. Acesso em: 5 fev. 2025.
SARFATI, Gilberto. Teoria das Relações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005.
