Maria Nilta de Paula do Vale Silva – 2° semestre de RI da UNAMA
A Guerra de Arauco foi um dos conflitos mais longos da história, marcada pela resistência dos mapuches, também chamados de araucanos pelos espanhóis. No dia 11 de setembro de 1541, indígenas se sublevaram, aproveitando a ausência do conquistador espanhol Pedro de Valdivia, que havia marchado com noventa soldados para conter uma insurreição indígena no sul.
O combate aconteceu de madrugada, na cidade de Santiago, no Chile, e durou um dia inteiro, atingindo seu ápice quando Inês Suárez, amante de Valdivia e única mulher no confronto, decidiu decepar os sete caciques presos; no qual tiveram suas cabeças jogadas nos insurgentes araucanos, provocando espanto e ódio (BELTRÁN, 1995)
O confronto terminou com a cidade incendiada. Esse episódio marcou o início da Guerra de Arauco, que se estendeu até 1881, tornando-se um dos conflitos mais longos da História Universal e custando mais caro do que a própria conquista da América (BELTRÁN,1995). Entre 1603 e 1674, estima-se que mais de 42 mil espanhóis morreram(Ibid). Conforme Luis Vitale, “En la península ibérica, Chile era conhecido como ‘el cementerio de los españoles’ (BELTRÁN, 1995).
Diversos indígenas formaram uma confederação chamada Vutanmapu; todavia não foram apenas os araucanos que se rebelaram contra o governo colonial; em 1598 e 1655, milhares de indígenas do sul, os huiliches, também se levantaram contra a exploração agrícola e mineradora. Os encomenderos, que exerciam a função de receber terras e indígenas nativos para trabalhar nelas e os conquistadores, responsáveis por estabelecer domínio o espanhol em diversos territórios, como representantes da potência colonizadora, foram surpreendidos por um povo unido e atuante (ibid).
As vitórias do jovem libertador Lautaro foi um líder indígena mapuche que desempenhou um papel fundamental na resistência contra os conquistadores espanhóis durante a Guerra de Arauco. Ele foi orientado pelos araucanos e, após ser capturado por Pedro de Valdivia, ganhou sua confiança. Lautaro, o jovem toqui (chefe militar) fugiu e retornou com um grande exército araucano, resultando na morte de Valdivia e de todos os espanhóis em uma batalha brilhante. Apesar de ter sido assassinado quatro anos depois, a resistência dos mapuches continuou. Eles se destacaram por viver sem pagar tributos a um estado e resistir tanto às invasões incaicas quanto às dos europeus (BELTRÁN, 1995).
Em 1561, indígenas mataram encomenderos e espanhóis e, em seguida, uniram-se às forças libertadoras de Lautaro. Os araucanos serviram como vanguarda na organização de diversas rebeliões contra a exploração do trabalho, caracterizando a Guerra de Arauco, também chamada de Guerra Vieja (ibid).
Sempre que um levante armado era sufocado, outro surgia, com ramificações por todo o Chile; um dos episódios mais marcantes foi a grande rebelião de 1655, quando indígenas de diversas regiões atacaram fazendas, expropriaram ouro e gado, mataram seus amos encomenderos e se uniram ao Exército Libertador araucano no qual sessenta espanhóis chegaram a reforçar esse exército (BELTRÁN, 1995).
Em 1599, o sargento García López Valerio desertou para as forças indígenas, levando consigo dez soldados espanhóis e nove criollos do Peru; mestiços também se incorporavam às fileiras indígenas, chegando a liderar grupos guerrilheiros, como foi o caso de Alejo, que se tornou um gênio militar e derrotou vários exércitos europeus (BELTRÁN, 1995)
Durante a Guerra de Arauco, em 1608, o rei da Espanha aprovou a escravização de indígenas beligerantes no Chile, o que resultou em uma verdadeira caçada humana para obtenção de força de trabalho; assim os yanaconas, serviçais dos colonizadores, passaram para o lado dos araucanos. Esse conflito não foi apenas militar, mas também econômico, resultando em um boicote significativo à produção de metais utilizados no sistema mercantilista pelos colonizadores e além disso, evidenciou a consciência e a organização política da América Indígena (ibid).
Em 1553, Pedro de Valdivia sofreu sua última derrota na Batalha de Tucapel. Lautaro, orientado pelos araucanos, espionava os espanhóis desde que fora capturado e ganhara a confiança de Valdivia. Batizado como Alonso e também conhecido como Felipe, fugiu com dois cavalos aos vinte anos e retornou com seis mil guerreiros araucanos, em uma brilhante vitória, no qual nenhum espanhol sobreviveu, nem mesmo Valdivia, ademais, quatro anos depois, enquanto dormia, Lautaro foi assassinado mas a guerra continuou (BELTRÁN, 1995).
A história é incrível e, ao mesmo tempo, triste. A resistência dos mapuches foi algo admirável, pois eles lutaram bravamente, no entanto, é revoltante ver como os povos indígenas foram tratados ao longo da história, visto que, mesmo após tanta luta, os mapuches acabaram sendo dominados e, até hoje, enfrentam desafios para terem seus direitos reconhecidos. Isso é uma prova de como a colonização teve consequências profundas, que ainda impactam muitas comunidades indígenas.
Os mapuches, que resistiram às invasões incaicas, fizeram o mesmo contra os europeus e continuaram a viver sem pagar tributos a um Estado, desenvolvendo, durante a guerra, uma organização social dividida em classes. Dessa forma, sua luta é um testemunho da força e da resiliência dos povos originários da América.
Referências:
BELTRÁN, Luz María Méndez. La guerra de Arauco, un proceso de aculturación en la sociedad mapuche (sigilos XVI y XVII). Revista Chilena de Humanidades. Santiago. 1995. Disponível em: https://revistachilenahumanidades.uchile.cl/index.php/RCDH/article/view/39679/41264 Acessado em: 10/02/2024
