
Rebecca Brito- Internacionalista formada pela Universidade da Amazônia.
O atual presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, eleito em novembro de 2024 e empossado no dia 20 de janeiro de 2025 para seu 2º mandato, traz consigo inúmeros retrocessos políticos. Sua campanha eleitoral foi polêmica e já denotava o viés de tratamento para os diferentes setores da sociedade, com o meio ambiente visto apenas como fonte de recursos econômicos no qual a proteção internacional em seu em torno, efetivada por compromissos que levam a restrições para diminuir os danos, sejam interpretadas como obstáculo para o desenvolvimento.
Nesse sentido, a política ambiental empregada pelo governo Trump segue o princípio da não sustentabilidade, isto é, contrário a todos os elementos e iniciativas de conservação do meio ambiente, na contramão da urgente necessidade de medidas que freiem o avanço da crise ambiental climática, para garantir um presente e um futuro no qual a sobrevivência humana seja plenamente viável. Logo, trata-se de uma postura perigosa e negacionista, vindo de um dos mais influentes atores do sistema internacional, que vale ressaltar, se encontra na lista da Climate Watch entre os dez países que mais emitem gases do efeito estufa, ocupando o 2º lugar (WRI Brasil, 2024).
Sob esse viés, medidas como a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, que objetiva reduzir as emissões dos gases do efeito estufa para equilibrar a temperatura média global, o decreto de estímulo à utilização de canudos plásticos e as promessas de incentivo à ampliação da exploração de combustíveis fósseis (G1, 2025) efetivadas na primeira semana do seu mandato, representam bem sua política anti-ambiental que está no só começo.
No âmbito internacional, traçando cenários possíveis, tais ações do governo Trump podem enfraquecer a governança ambiental global, que ainda é tão incipiente, num retrocesso dos compromissos multilaterais fortalecendo políticas de não sustentabilidade com cortes de financiamento e revogações políticas ambientais em escala global de atores. Todavia, por outro lado pode e deve haver grande resistência na cooperação ambiental mesmo sem o apoio de grandes potências como os EUA, visto que, de acordo com o mestre em ciências ambientais, André Calderan, a sustentabilidade não é algo que pode ser descartada, pois ela responde a desafios estruturais da economia global, enquanto lideranças políticas são passageiras.
Outrossim, no que diz respeito especificamente a 30ª edição da Conferência entre as Partes, o maior evento de discussão climática mundial, a COP 30 pode ser diretamente afetada pelas decisões políticas do presidente norte-americano, uma vez que os Estados Unidos são um dos maiores doadores de organismos multilaterais como a ONU (G1, 2025) e sua saída do Acordo de Paris, que foi ratificado da 21ª conferência das partes, prejudica o desenvolvimento da nova edição como afirma o presidente da COP, André Corrêa do Lago (G1, 2025).
Sob essa conjuntura, pode haver, no quesito de apoio material, a ausência ou redução drástica de recursos financeiros e recuo de envolvimento direto dos EUA no evento, bem como no quesito de suporte imaterial, voltado ao reconhecimento da iniciativa a diminuição de incentivos a participação e queda do engajamento a cooperação climática em escala.
Dentro das Relações Internacionais, tal conduta política estadunidense pode ser explicada sob a ótica da teoria realista moderna de Hans Morgenthau, que enfatiza o Estado como um agente racional e autônomo governado pelos seus próprios interesses determinados em poder (Sarfati, 2005, p.92). De acordo com essa perspectiva, os Estados então priorizam seus próprios interesses na tomada de decisões políticas mesmo que em detrimento da moral e da ética. Dessa forma, os Estados Unidos agem conforme sua própria identidade, interesse e valores, no qual a sustentabilidade é secundária frente à manutenção da competitividade e desenvolvimento econômico realizado a todo custo.
No entanto, são os impactos dessa política que merecem mais atenção. Sob a ótica da teoria da dependência, que aborda como as assimetrias de desenvolvimento econômico são resultados do processo histórico que gera relações de dependência/subdesenvolvimento (Jatobá, 2017, p.101), a elevada probabilidade de suspensão do apoio no âmbito ambiental climático, fará com que os Estados Unidos não apenas priorizem seus próprios interesses mas também dificulte que nações subdesenvolvidas, que têm menos capacidade de implementar políticas ambientais de forma eficaz, avancem na transição energética e ecológica, reforçando sua dependência econômica e tecnológica em relação às grandes potências, fortalecendo assim desigualdades estruturais e prejudicando o progresso das discussões internacionais como as COPs e consequentemente tornando mais árduo o caminho para governança ambiental climática.
No contexto brasileiro,que é sede em 2025 da próxima COP, essa postura dos Estados Unidos pode se revelar um “tiro no pé”, uma vez que o Brasil, diante da possibilidade de redução de apoio financeiro às negociações climáticas, pode buscar alternativas de financiamento junto a outros países e organizações, com o BRICS por exemplo, no qual o Brasil está na presidência da vez e já estuda o alinhamento nesse sentido (Gazeta do Povo, 2025).
REFERÊNCIAS
JATOBÁ, Daniel. Teoria das Relações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2017.
Sarfati, Gilberto. Teoria das relações internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005.
Acordo de Paris e emissão de combustíveis fósseis: como a vitória de Trump impacta no meio ambiente. G1, 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2024/11/06/acordo-de-paris-e-emissao-de-combustiveis-fosseis-como-a-vitoria-de-trump-impacta-no-meio-ambiente.ghtml. 19 de fevereiro de 2025.
Brasil deve se apoiar nos Brics para minimizar “efeito Trump” na COP-30. Gazeta do Povo, 2025. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/brasil-deve-se-apoiar-nos-brics-para-minimizar-efeito-trump-na-cop-30/ . Acesso em: 19 de fevereiro de 2025.
Calderan, André. Trump é passageiro – a sustentabilidade, não. Newsletter: Os desafios da Sustentabilidade. Linkedin, 2025. Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/trump-%C3%A9-passageiro-sustentabilidade-n%C3%A3o-andr%C3%A9-calderan-msc–h9sdf/. Acesso em: 19 de fevereiro de 2025.
Entenda regras que fazem dos EUA o maior doador em organismos multilaterais como a ONU. G1, 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2025/01/28/entenda-regras-que-fazem-dos-eua-o-maior-doador-em-organismos-multilaterais-como-a-onu.ghtml. Acesso em: 19 de fevereiro de 2025.
Os países que mais emitiram gases de efeito estufa. WRI Brasil, 2024. Disponível em:https://www.wribrasil.org.br/noticias/os-paises-que-mais-emitiram-gases-de-efeito-estufa. Acesso em: 19 de fevereiro de 2025.
Presidente da COP admite que saída dos EUA do Acordo de Paris pode impactar conferência no Brasil. G1, 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/02/18/presidente-da-cop-admite-que-saida-dos-eua-do-acordo-de-paris-pode-impactar-conferencia-no-brasil.ghtml. Acesso em: 19 de fevereiro de 2025.
Trump assina decreto para saída dos EUA do Acordo de Paris; veja impactos para o meio ambiente. G1, 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2025/01/20/trump-decreto-saida-dos-eua-acordo-de-paris-impactos-meio-ambiente.ghtml. Acesso em: 19 de fevereiro de 2025.
