Por Daiany Lima Duarte, acadêmica do 5º semestre de Relações Internacionais na UNAMA.

Após a morte do revolucionário Mao Tsé Tung, em 1976, considerado o responsável por realizar importantes tarefas para saúde econômica, política e social internas (FERNANDES, 2022) a China passou por um impactante processo de transformação, transitando de uma experiência socialista para um Estado com forte influência e abertura comercial do mais alto patamar do capitalismo do século XX.

O processo para a expansão da sua influência das mais variadas instâncias não ocorreu do dia para a noite, foram décadas de trabalhos internos para preparar o terreno chamado impacto econômico e social para conseguir se desenvolver por completo. Na década de 80, uma das atividades mais importantes foram as ZEEs, Zonas Econômicas Especiais, uma espécie de “teste” em alguns lugares para realizar uma experiência de liberação econômica, assim como as privatizações graduais de empresas, promovendo ao setor privado uma posição de destaque. No quesito social, a República Popular da China, o mesmo país que havia dado fartura ao seu povo na década de ouro lideradas por Mao, agora se via retornando a ruína: trabalhadores superexplorados realizando levantes por diversas regiões chinesas. 

É válido destacar que, apesar da China desenvolver a ideia de “um país, dois sistemas” e isso se tornar debate entre os marxista-leninistas para configurá-la como “um Estado socialista que briga contra os interesses do Capital” que ocorrem em espaços como as mídias sociais e blogs, é notório que tal ideário não se aplica a realidade. Marx dizia que um país socialista deveria abolir a propriedade privada e diariamente trabalhar visando o internacionalismo proletário. Ambas as questões não são vistas em território chinês, muito pelo contrário, setores privados vêm ganhando espaços jamais vistos na história do país e, com isso, a busca por mão de obra barata disponível no mercado é vista como um grande saco de moedas douradas brilhantes (FERNANDES, 2022). A aproximação chinesa para com a América Latina é um exemplo palpável dessas questões.

A América Latina é rica em diversos minérios, principalmente países como Brasil, Chile e Peru que vem se avizinhando com o país asiático. No ano 2000, o país que majoritariamente estava presente exercendo enorme influência em quase toda a AL eram os Estados Unidos, já em 2020, duas décadas depois, a China obteve esse posto (Banco Mundial (2000). Um fato interessante é que no quesito regional, o Governo do Pará realizou diversos encontros desde 2017 com comitivas chinesas para realizar conversas acerca de variados assuntos. Em 2023, por exemplo, o Estado foi convidado para participar de uma visita técnica a uma cidade chinesa que também está trabalhando em uma Zona de Processamento de Exportações (ZPE) que está em desenvolvimento em Barcarena (Agência Pará, 2023). Assim como o investimento em usinas nucleares na Argentina e nas redes elétricas do Chile (DW, 2023).

Tal fato exprime que a China vem ganhando não somente pela compra de minérios, mas também pela sua participação ativa em projetos de infraestrutura e pesquisas na região latina. A política chinesa segue aquilo que Robert Gilpin desvendou na obra Teoria da Estabilidade Hegemônica (2001) quando este aponta que, uma hegemonia política não pode ser sustentar apenas poder bélico, mas também com o econômico para então conseguir influenciar com plenitude. Em um Sistema internacional que sobrevive através da busca incessante de poder em todas as suas instâncias, a China trabalha visando sua influência na região da latino-america seguindo o ideário apresentado por Gilpin, não diretamente como seu slogan de governo, mas sim nas ações que comete ao redor do globo: entendendo, estudando e realizando tarefas que impactam positivamente e fazendo assim com que sua influência esteja efetivada na região. 

Referências Bibliográficas:

VARGAS, Neide. Partido Comunista Chinês, Processo Decisório e Rumos do Desenvolvimento na China. Revista Política Hoje – 2a Edição – Volume 24. Disponível em:​https://periodicos.ufpe.br/revistas/index.php/politicahoje/article/download/3725/3027/8177. Acesso em 20 de fevereiro de 2025.

FALCÃO, Luiz. O Falso Socialismo Chinês. 2023. 2° edição revista e atualizada. Editora Manoel Lisboa. 

CUI, Mui. A crescente influência da China na América Latina. 2023. DW. Disponível em: https://amp.dw.com/pt-br/a-crescente-influência-da-china-na-américa-latina/a-65281067. Acesso em 23 de fevereiro de 2025.

Consulado-Geral da República da China em Recife. Decisão do Comitê Central do Partido Comunista da China sobre um Maior Aprofundamento Integral da Reforma em Busca da Modernização Chinesa. Disponível: http://recife.china-consulate.gov.cn/por/zlghd_3/202407/t20240726_11460722.htm. Acesso em 25 de fevereiro de 2025. 

FERNANDES, Marcos. As muitas vidas do camarada Mao. mst.org.br, 2022. Disponível em: https://mst.org.br/2022/12/26/as-muitas-vidas-do-camarada-mao-tse-tung/. Acesso em: 25 fev. 2025.