Thaís Carvalho, acadêmica do 7° semestre de Relações Internacionais

Ficha técnica:

Ano: 2024

Direção: Edward Berger

Gênero: Drama, Suspense

Países de Origem: Estados Unidos da América, Reino Unido

Distribuição: Diamond Filmes

Baseada no romance homônimo de Robert Harris e indicada a oito categorias do Oscar 2025, incluindo Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado, a obra cinematográfica Conclave retrata as tensões políticas e os dilemas morais envoltos da eleição de um novo Papa, após a morte inesperada do líder pontífice (CORDEIRO, 2025).

A narrativa é explorada através do ponto de vista do cardeal Thomas Lawrence, que está encarregado de liderar e organizar o processo de eleição do novo Papa. A atuação de Ralph Fiennes explora a complexidade do personagem do cardeal, que ao longo da trama expressa a sua confusão em relação à sua crença e acredita não ser a pessoa correta para ser candidata ao alto cargo do Vaticano. Porém, devido a alianças criadas, eventos e tensões que decorrem a votação, Lawrence acaba se envolvendo no processo eleitoral como um dos possíveis candidatos.

Nesse sentido, o longa-metragem expõe, lentamente, os conflitos de ideias e políticas existentes entre os grupos opostos de cardeais dentro da Igreja Católica, representando como os interesses políticos e vontades individuais influenciam um dos maiores e mais importantes processos do Vaticano. Desse modo, a chegada de um cardeal mexicano que atuava em Cabul, além de polêmicas e segredos importantes, cercam os diversos candidatos ao papado, influenciando diretamente os votos e escolhas durante o conclave, onde tal momento se torna ainda mais dramático (CORDEIRO, 2025).

Analogamente a Conclave, tensões e alianças políticas podem ser vistas na arena internacional, onde Estados, Agentes Transnacionais e ONGs cooperam em prol de um objetivo comum que beneficiem a todos. Isto posto, pode-se analisar a obra cinematográfica através da Teoria Neoliberal das Relações Internacionais, vertente esta que acredita que, graças aos fluxos da globalização, a democracia, o livre comércio e as instituições internacionais tornaram-se essenciais para se evitar o conflito bélico entre as nações, e tornar o cenário internacional mais cooperativo (PERES, 2009).

Dentro da Teoria Neoliberal, pode-se utilizar da vertente da Interdependência Complexa, apresentada pelos professores Joseph Nye e Robert Keohane na obra “Power and Interdependence: World Politics in Transition” (1977), para compreender como surgiu a necessidade de agentes não-estatais que atuassem juntamente com os Estados e outras entidades para usufruir mutuamente dos benefícios da arena internacional integrada, interdependente e cooperativa, demonstrando a constante mudança das ideias de segurança e cooperação entre os Estados nas interações internacionais (PERES, 2009).

No contexto do filme, pode-se observar a Interdependência Complexa através das alianças formadas entre os cardeais progressistas contra os mais tradicionais, haja vista que, apesar de possuírem interesses e ideias adversas, trabalham em conjunto para alcançar a escolha de um novo Papa que represente as ideias defendidas por tal grupo. Assim, as diversas negociações e acordos formados entre eles exemplificam a cooperação e a dependência mútua de múltiplos atores para almejar objetivos comuns em um cenário conturbado e intenso.

Por fim, a obra cinematográfica, além de trazer uma visão sobre fé, tradicionalidade e complexidades humanas, explora complexas dinâmicas políticas e religiosas dentro do Vaticano, apresentando temas que vão além do contexto religioso e se conectam às relações internacionais.

REFERÊNCIAS

CORDEIRO, A. Conclave, indicado ao Oscar 2025, é baseado em uma história real?. Rolling Stone. 2025. Disponível em: https://rollingstone.com.br/cinema/conclave-indicado-ao-oscar-2025-e-baseado-em-uma-historia-real/. Acesso em: 23 fev. 2025.

KEOHANE, Robert O.; NYE, Joseph S. Power and Interdependence: World Politics in Transition. Boston: Little, Brown, 1977

PERES, H. F. O Debate Entre Neorrealismo e Neoliberalismo. Revista Intersaberes, Curitiba, ano 4, n. 7, p. 69-88, jan/jun 2009.