
Carla Gomes de Lima acadêmica – do 5º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.
A Amazônia, historicamente marcada por processos de exploração e expropriação, é também um espaço de resistência, onde mulheres desempenham um papel central na luta por direitos, justiça socioambiental e preservação dos territórios. O protagonismo feminino na região vai além do ativismo político, mas abrange também a atuação em comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas, na defesa dos corpos-territórios e na busca por melhores condições de vida, educação e reconhecimento social.
Quando se aprofunda dentro da Amazônia, pode-se analisar a mobilização de mulheres indígenas e quilombolas na defesa de sua existência plena. Dentro desse contexto, o protagonismo feminino emerge como uma força transformadora, desafiando tanto os discursos coloniais quanto as estruturas de poder tradicionais, evidenciando o empoderamento feminino.
A noção de corpo-território (Miranda, Barroso. 2023) sustenta que a exploração da Amazônia segue uma lógica colonialista que impacta diretamente as mulheres, cujos corpos e territórios são simultaneamente alvo de violências estruturais e resistências políticas. Essa perspectiva feminista é vital para entender como a devastação ambiental está intrinsecamente ligada às opressões de gênero, uma vez que mulheres indígenas e quilombolas assumem a linha de frente na defesa dos modos de vida amazônidas. (Miranda, Barroso. 2023)
A Marcha das Mulheres Indígenas, realizada em 2019, simboliza essa luta ao adotar o lema “Território: nosso corpo, nosso espírito”, reforçando a ideia de que a luta pela terra é também a luta pela própria existência dos povos originários. Além disso, a participação de mulheres indígenas na COP 27 reforçou a importância de seu protagonismo na denúncia dos impactos ambientais e na proposição de soluções sustentáveis. Às vésperas da COP 30, que será sediada na Amazônia, a importância do ativismo é cada vez mais evidenciado, quando a conexão e força de nossa ancestralidade e cultura se chocam. (Miranda, Barroso. 2023)
A construção identitária dos povos indígenas é historicamente marcada por um reconhecimento equivocado, onde diferenças culturais frequentemente são demonizadas e utilizadas como instrumento de opressão. Essa marginalização se intensifica para as mulheres indígenas, que enfrentam a vulnerabilidade de serem mulheres pertencentes a grupos étnicos. Desse modo, a colonização e o patriarcado são mecanismos de exclusão que reforçam a imposição de padrões que desvalorizam suas vivências culturais e de gênero. (Almeida, Angelin, Veronese. 2021)
Nessa conjunção, a teoria feminista das Relações Internacionais aborda o sistema de opressão e como ele se intersecciona com dinâmicas de poder, meio ambiente, capitalismo e estruturas que são dominadas pelo patriarcado. Cynhtia Enloe, teórica dessa vertente, oferece uma lente de análise essencial para a devida compreensão do sistema de poder global. Ao enfatizar a importância dos espaços cotidianos e a interseção entre o público e privado, sua abordagem permite perceber como mulheres, mesmo em contextos historicamente marginalizados, atuam na defesa de seus territórios e na contestação de práticas excludentes, contribuindo para a análise de movimentos de mulheres indígenas, que buscam, além do reconhecimento identitário, transformar as estruturas que perpetuam a violência e a marginalização. (Lenine, 2024)
A liderança feminina na Amazônia não apenas denuncia desigualdades, mas também propõe alternativas para um desenvolvimento mais justo e sustentável, pautado na defesa dos territórios e na valorização das culturas locais.
O protagonismo das mulheres na Amazônia se manifesta em diversos campos, da luta ambiental à educação, evidenciando a interconexão entre território, corpo e resistência. Ao desafiar as estruturas de dominação e ao construir formas alternativas de organização política e social, essas mulheres reafirmam seu papel como agentes de transformação.
O reconhecimento de suas lutas não é apenas uma questão de justiça histórica, mas uma necessidade para repensar modelos de desenvolvimento que considerem a preservação ambiental e os direitos humanos. É urgente a necessidade de visibilidade a essas trajetórias e contribuir para uma narrativa mais plural sobre a Amazônia e seus povos, para que haja uma mentalidade que possa fazer crescer um âmbito de resistência maior a esta questão.
Referências:
Almeida, Jaqueline Reginaldo. Identidade, diferença e reconhecimento: Um olhar sobre movimento de mulheres indígenas no Brasil e a pauta de enfrentamento à violência de genêro. Rev. Direito e Práx., Rio de Janeiro, 2021.
Lenine, Enzo. Curiosidade feminista nas Relações Internacionais: Olhares, Vozes e Reflexões para Além do Cânone. DADOS, UERJ., Rio de Janeiro, 2024.
Miranda, Cynthia Mara. Barroso, Milena Fernandes. Mulheres na Amazônia: Lutas em defesa de seus corpos-territórios. Rev. Estudos Feministas., Florianópolis, 2023.
