
Discente: Vitória Santos – 3º semestre (UNAMA)
A República Democrática do Congo (RDC) tem sido palco de conflitos prolongados, muitas vezes referidos como a “guerra africana mundial”, devido à participação de múltiplos conflitos entre países e grupos armados. O combate tem raízes profundas na história da região marcada por conflitos e violência étnica, disputa territorial e interesses econômicos ligados à exploração de recursos naturais. A disputa atual é uma continuação da instabilidade do Congo, impulsionada por interesses externos e a luta pelo controle de recursos naturais. As tentativas de mediações internacionais têm sido frágeis, e a violência continua a causar sofrimentos para civis.
A guerra do Congo se intensificou em 2025, com o grupo rebelde M23 (Movimento 23 de Março) capturando cidades estratégicas e agravando crises humanitárias. A RDC acusa Ruanda de apoiar os rebeldes, aumentando as tensões regionais. O grupo avançou rapidamente pelo leste do país, na região de Rubya, uma área rica em minerais, ocupando territórios onde são extraídos o coltan – metal raro, azul-acinzentado e brilhante – com capacidade de manter uma carga alta em comparação ao seu tamanho – além de operar em diferentes temperaturas, fazendo dele um material ideal para capacitores minúsculos que armazenam energia temporariamente.
A autora Susan Strange (1997) desenvolveu a teoria do poder estrutural, destacando que o controle global não depende apenas da força militar ou econômica, mas de estruturas que moldam o Estado e os mercados. Ela identificou quatro dimensões do poder estrutural: produção, que identifica o que se produz; finanças, que define onde se produz; e conhecimento, que controla informações e ideologias. Para Strange (1997), não são apenas os Estados que governam o mundo, mas também empresas, mercados e instituições, perpetuando a desigualdade global.
Sob a perspectiva de Susan Strange (1997), a guerra da República do Congo é resultado da desigualdade no sistema global. O país é explorado por nações poderosas e empresas multinacionais devido à sua riqueza mineral, enquanto sua instabilidade sustenta grupos rebeldes e reforça a dependência econômica. Na segurança, a fragilidade do Estado o torna suscetível a conflitos, no setor produtivo, seus recursos naturais beneficiam corporações estrangeiras, mas não a população local. A estrutura financeira facilita o financiamento ilegal de grupos armados, e a estrutura do conhecimento mantem o Congo à margem do debate internacional. Para Strange, o conflito não é fenômeno isolado, mas também reflexo de um sistema que perpetua desigualdades e favorece atores externos, dificultando uma resolução duradoura.
Portanto, a guerra na República Democrática do Congo é um reflexo claro das profundas desigualdades estruturais presentes no sistema global. A exploração dos recursos naturais do país por potência estrangeira e empresas multinacionais, aliada à fragilidade do Estado e ao apoio externo a grupos armados, perpetua o ciclo de violência e instabilidade. A teoria do poder estrutural de Susan Strange oferece uma lente valiosa para entender estruturas globais, mais do que apenas as ações militares ou políticas diretas, desempenham um papel crucial na manutenção dessas desigualdades.
Dessa forma, ao analisar o conflito do Congo sob essas perspectivas, fica evidente que a solução não pode ser encontrada apenas por meio de intervenções externas ou acordos temporários, mas sim por uma transformação das estruturas globais, que favorecem a exploração e a marginalização. A busca por paz e estabilidade no Congo, exige, portanto, uma reavaliação profunda das dinâmicas internacionais e um compromisso real com a justiça e com o desenvolvimento sustentável para a população global.
REFERÊNCIAS:
BBC NEWS DO BRASIL. O metal raro e essencial para o seu celular que está por trás da guerra sangrenta na África. São Paulo, 9 fev. 2025. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/clykp1p5899o. Acesso em: 23 mar. 2025.
CNN BRASIL. O que está acontecendo na RD Congo e por que há conflito no país. 2025. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/o-que-esta-acontecendo-no-congo-e-por-que-ha-conflitos-no-pais/. Acesso em: 24 mar. 2025.
GWYN, Mared Jones. Conflito no Congo: porque a EU está sendo pressionada para reconsiderar a parceria com Ruanda no domínio dos minerais. 2025. Disponível em: https://pt.euronews.com/my-europe/2025/02/03/conflito-no-congo-porque-e-que-a-ue-esta-a-ser-pressionada-para-reconsiderar-a-parceria-co. Acesso em: 23 mar. 2025.
STRANGE, Susan. Casino Capitalism. Manchester: Manchester University Press, 1997.
O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA RD CONGO E POR QUE HÁ CONFLITO NO PAÍS. CNN Brasil, 2025. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/o-que-esta-acontecendo-no-congo-e-por-que-ha-conflitos-no-pais/ Acesso em: 24 de março de 2025
MARED GWYN, Jones. Conflito no Congo: porque é que a EU está sendo pressionada para reconsiderar a parceria com a Ruanda no domínio dos minerais, 2025. Disponível em: https://pt.euronews.com/my-europe/2025/02/03/conflito-no-congo-porque-e-que-a-ue-esta-a-ser-pressionada-para-reconsiderar-a-parceria-co Acesso em: 23 de março de 2025
