
Railson Silva (acadêmico do 8º semestre de RI da UNAMA)
A teoria da dependência foi formulada a partir das contribuições do economista argentino Raúl Prebisch, ele representa um dos pilares teóricos mais influentes para a compreensão das assimetrias nas relações econômicas internacionais. Desenvolvida no contexto de pós – 2° Guerra Mundial, a teoria buscou questionar o modelo de desenvolvimento linear proposto pelas economias centrais na qual evidencia os mecanismos de perpetuação do subdesenvolvimento na periferia do sistema capitalista (Furtado, 1961; Prebisch, 1949).
O teórico Raúl Prebisch, em sua atuação na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), desenvolveu uma crítica pertinente ao modelo de comércio internacional com base na teoria das vantagens comparativas de David Ricardo. Segundo Prebisch (1949), a Divisão Internacional do Trabalho (DIT), que destinava aos países periféricos a exportação de commodities e aos países centrais a produção de bens industrializados, gerava um desequilíbrio estrutural. Por conseguinte, enquanto os preços dos produtos manufaturados tendiam a se valorizar, os preços das matérias-primas sofriam deterioração ao longo dos séculos, contribuindo, assim, para a dependência econômica.
Essa ótica ganhou ainda mais força por estudos posteriores, como os de Celso Furtado (1961), que demonstrou como a especialização primário-exportadora limitava a capacidade de industrialização e diversificação produtiva dos países latino-americanos. Além de enfatizar como a dependência tecnológica e financeira em relação aos centros capitalistas consolidava, assim, um ciclo vicioso de subdesenvolvimento.
Prebisch argumentava ainda que a relação centro-periferia não era apenas assimétrica, mas também funcional à acumulação de capital nos países desenvolvidos. Logo, o agravamento dos termos de troca, somada à necessidade de importação de bens de capital, levava a um constante déficit na balança comercial dos países periféricos (Prebisch, 1949). Como solução, propôs a substituição de importações e a industrialização como estratégias para romper com a dependência.
Contudo, como foi apontado posteriormente por teóricos da dependência como Theotônio dos Santos (1970), a industrialização nos países periféricos muitas vezes ocorreu de forma subordinada, dependente de investimentos estrangeiros e de tecnologias controladas por multinacionais. Isso reforçou, em vez de superar, a inserção dependente no sistema capitalista.
Outrossim, embora a globalização tenha alterado algumas dinâmicas econômicas, os pressupostos da teoria da dependência ainda permanecem relevantes e pertinentes. Fatos como a financeirização econômica e a concentração de poder nas corporações transnacionais reproduzem novas formas de desigualdades (Cardoso, 2009). Além disso, a dependência tecnológica e a reprimarização das economias latino-americanas no atual século reacendem o debate sobre as limitações do desenvolvimento periférico.
Em suma, as contribuições de Raúl Prebisch para o campo das Relações Internacionais forneceram um marco analítico essencial para compreender as desigualdades estruturais do sistema capitalista. Sua crítica à degradação dos termos de troca e à industrialização subordinada continua a influenciar estudos sobre desenvolvimento e relações entre os Estados, ainda que, no contexto atual, exija revisões conceituais.
E mesmo com as transformações econômicas das últimas décadas, a relação centro-periferia persiste, agora mediada por cadeias globais de valor e fluxos financeiros especulativos. Portanto, a teoria da dependência não deve ser vista como um modelo ultrapassado, mas como um instrumento crítico para analisar os desafios do desenvolvimento na era da globalização.
Referências:
CARDOSO, Fernando Henrique. Globalização e dependência na América Latina. São Paulo: Paz e Terra, 2009. Disponível em: https://www.academia.edu/documento123
FURTADO, Celso. Desenvolvimento e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1961. Disponível em: https://www.livrosgratis.com.br
PREBISCH, Raúl. O desenvolvimento econômico da América Latina e seus principais problemas. Santiago: CEPAL, 1949. Disponível em: https://archivo.cepal.org/pdfs/cdPrebisch/003.pdf
SANTOS, Theotônio dos. A estrutura da dependência. Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política, 2011. Disponível em: https://revistasep.org.br/index.php/SEP/article/view/886
