
Giovanna Palheta – Acadêmica 1º Semestre de Relações Internacionais da Unama.
A Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolveu em setembro de 2015 a Agenda 2030, que é composta por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), divididos em 169 metas, tendo como escopo a erradicação da pobreza, promoção da vida digna, fortalecimento da paz mundial e a garantia de um processo harmônico de desenvolvimento político-econômico. Este artigo abordará profundamente o ODS 3, que visa garantir o acesso amplo a saúde de qualidade para todos, em todas as idades, contando com 13 metas para serem cumpridas até o ano de 2030. Visto que o Brasil sediará a COP30 neste ano de 2025 em Belém, faltando 5 anos para a agenda expirar, é de suma importância analisar os obstáculos que se mantém presentes e a trajetória para o cumprimento desse plano (ONU BRASIL, 2025).
Diante desse cenário, a BBC News Brasil prometeu acompanhar o desenvolvimento de 5 crianças durante 15 anos, tempo de conclusão prevista na agenda, incluindo uma criança indígena paraense, chamada Tainá dos Santos, que sofre com invasões a sua terra. No entanto, 4 das 5 crianças vivem em países subdesenvolvidos ou emergentes, enquanto 1 delas, um jovem ucraniano, vive em um país cujo índices de desenvolvimento são exorbitantemente melhores do que os anteriormente citados, além do fato que todas as formas de buscar a vida saudável são elitizadas a partir disso, surge a primeira problemática: somente países desenvolvidos (ou emergentes, com muito esforço) possuem verdadeiras condições econômicas de cumprir com as metas da ODS 3, pois, epidemias, mortes maternas e infantis envolvem problemas de infraestrutura, saneamento básico e, o mais importante, questões socioeconômicas (BBC, 2015).
É de suma importância montar uma linha de raciocínio concreta, uma das formas de alcançar as metas mundialmente é, claramente, o investimento na saúde e áreas conectadas, porém, esse investimento não ocorre por diversos motivos, muitos citariam a corrupção, o que não deixa de ser uma razão, mas as Relações Internacionais devem analisar além do simples conceito de “desviar dinheiro”.
Primeiramente, estuda-se na ciência política, em Thomas Hobbes, na sua obra Leviatã, Cap. X que “A riqueza, adquirida ou herdada, também é poder, porque um homem rico é capaz de obter ajuda de muitos.”, coloquialmente falando, dinheiro é poder e economia é política, isso significa que o que traz esse privilégio na sociedade atual é a acumulação de capital e relações comerciais. Nesse mesmo viés, Thomas Piketty afirma em sua obra O Capital no Século XXI (2013) que a desigualdade social era uma consequência do capitalismo, justamente devido a concentração de riqueza e poder na mão da classe dominante, que, majoritariamente, não fala ou decide em nome das massas. Ao citar as massas, ou a classe trabalhadora, também é válido ressaltar que a sociedade é movida pelo trabalho desde os primórdios, mas as relações trabalhistas mudaram drasticamente (WILSON CANO, 1998).
Diante das ideias apresentadas, surgem duas perspectivas: a primeira perspectiva, onde pode-se enxergar pela óptica do interesse, ou seja, não é interessante para o explorador investir no país que é explorado, como diversos países da África, pois a dependência por ele precisa ser mantida, tampouco é interessante investir em um grupo social que não trabalhará para movimentar a economia do governo, como no caso da indígena Tainá, visto que as tribos indígenas costumam explorar somente sua própria terra e trabalhar para subsistência, o que não é benéfico do ponto de vista da acumulação de recursos. Karl Marx, na sua obra O Capital, Volume III (1894), critica esse ato com a teoria da catástrofe inevitável, dizendo que isto levaria a uma crise geral e ao fim do sistema em si mesmo, diante do fim da sociedade burguesa.
Em suma, a questão de saúde e bem-estar vai além dos pequenos ensinamentos divulgados pela mídia, existe uma grande questão política, econômica e social que impossibilita, ou, no mínimo, dificulta a realização de todos os projetos que englobam o ODS 3, vale, portanto, um momento de reflexão acerca da posição social individualmente e, diante disso, planejar formas de pressionar quem deveria trabalhar para as massas antes de buscar pelos seus interesses socioeconômicos.
REFERÊNCIAS
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3: Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades. Brasil, s.d. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/3. Acesso em: 05 de abril. 2025.
BBC NEWS BRASIL. ONU adota objetivos globais; entenda o que é a agenda e o que ela tem a ver com você. 25 set. 2015. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150925_criancas_onu_objetivos_lab. Acesso em: 05 de abril. 2025.
HOBBES, Thomas. Leviatã: ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Tradução de Alexandre Franco de Sá. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2011-2017. 3 v.
CANO, Wilson. Introdução à economia: uma abordagem crítica. 1. ed. São Paulo: Editora Unesp, 1998.
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Tradução de Monica Baumgarten de Bolle. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.
