Julia Castro, acadêmica do 7° semestre de Relações Internacionais

Ficha Técnica: 

Ano: 1997 – 2003

Criador: Joss Whedon

Distribuição: 20th Century Fox Television

Gênero: Sobrenatural

País de Origem: Estados Unidos

Baseada no filme homônimo de 1992, “Buffy The Vampire Slayer” acompanha uma jovem escolhida para combater vampiros enquanto tenta viver uma vida normal. A série abriu caminho para diversas outras obras de ficção sobre vampiros, além de romper estereótipos ao dar protagonismo para uma heroína feminina. Misturando ação, terror, comédia e drama, o roteiro explora temas como amadurecimento, identidade e o fardo do destino.

A narrativa acompanha Buffy Summers, uma jovem que descobre ser uma caçadora de vampiros, a única de sua geração escolhida para combater forças sobrenaturais como vampiros, demônios e outras criaturas das trevas. No qual, historicamente no enredo, desde os mais remotos tempos uma garota é destinada a ser a Escolhida, responsável por defender a humanidade eliminando as forças do mal assim, Buffy é a última da linhagem de caçadoras. Sua missão é supervisionada por um Guardião, Rupert Giles, subordinado ao Conselho de Guardiões, grupo formado há séculos para comandar a luta contra as forças malignas (FORTUNATO, 2017).

Após se mudar para a cidade de Sunnydale, localizada sobre a “Boca do Inferno” (um portal místico que atrai forças malignas), Buffy tenta viver uma vida normal enquanto enfrenta batalhas contra vampiros e outros seres. A jovem é apoiada por um grupo fiel de amigos — conhecidos como a “Scooby Gang” — incluindo Willow, Cordelia, Xander e mais tarde personagens como Anya, Tara e Spike. Ao longo da série, Buffy e seus amigos lutam contra as forças do mal enquanto enfrentam desafios típicos da juventude. 

“Buffy” se tornou um marco da cultura pop, sendo pioneira na representatividade feminina e LGBT. O relacionamento entre Willow e Tara foi uma das primeiras representações positivas do amor lésbico na mídia. Além disso, a série ajudou a legitimar a televisão como um campo válido para análise crítica e teórica, sendo utilizada até os dias atuais como base para discussões filosóficas, sociológicas, feministas, entre outras, impulsionando o surgimento do termo “Buffy Studies” (CHAPPET, 2022). Analisando a obra sob um viés internacionalista, autoras da teoria de gênero das R.I, como Cynthia Enloe e J. Ann Tickner, questionam o papel das mulheres no cenário internacional, onde são frequentemente marginalizadas. 

Segundo Cynthia Enloe (apud SARFATI, 2005, p. 299), as mulheres são sistematicamente invisibilizadas nas análises de política internacional, apesar de estarem ativamente envolvidas. Em “Feminist Theory and International Relations For a Postmodern Era” (1994), Enloe argumenta que as mulheres, como agentes das relações internacionais, são como órfãs do universo das Relações Internacionais (SARFATI, 2005 apud SYLVESTER et. al 1994).  A autora destaca a necessidade de incluir as perspectivas femininas para uma compreensão mais completa da política global. Analogamente, Buffy é uma jovem mulher que está no centro do combate às ameaças existenciais da humanidade, sem depender de exércitos, estados ou organizações internacionais. Ela representa a mulher que lida com o mundo doméstico, ao mesmo tempo em que exerce poder no cenário global.

No artigo “Hans Morgenthau’s principles of political realism: A feminist reformulation” (1988), de J. Ann Tickner, a autora chama a atenção para o fato de que existem características que são atribuídas à dualidade de gênero, como razão (masculina) e emoção (feminina). Reitera ainda que as características atribuídas à masculinidade são, de modo geral, mais valorizadas tanto por homens quanto por mulheres (ONUKI et al., 2018 apud TICKNER, 1988). Os monstros e demônios mostrados na série são metáforas para o trauma, a dor e os vínculos pessoais da juventude. Buffy, ao ser “a escolhida”, carrega um fardo semelhante ao de soldados e líderes, mas o faz de maneira profundamente empática. Ela enfrenta essas ameaças sobrenaturais, mas também lida com dilemas emocionais, mostrando que a vulnerabilidade também pode ser uma forma de poder.

Em síntese, “Buffy” oferece debates para pensar as Relações Internacionais a partir de uma lente feminista. Diferente das abordagens tradicionais, que focam em guerras e instituições dominadas por homens, a teoria feminista busca destacar experiências, vozes e estruturas que historicamente foram marginalizadas. “Buffy” ajudou a quebrar o estereótipo de “menina indefesa”, muito presente no gênero do horror, ao mostrar uma jovem forte e determinada com o seu compromisso de salvar o mundo. A força das protagonistas serviu, e ainda serve, de inspiração para diversas garotas se verem como heroínas. 

REFERÊNCIAS:

CHAPPET, M.-C. Why the quietly radical feminism of “Buffy the Vampire Slayer” was so revolutionary. Harper ‘s Bazaar. 2022. Disponível em: https://www.harpersbazaar.com/uk/culture/entertainment/a39294399/buffy-the-vampire-slayer-anniversary-feminism/  

FORTUNATO, E. Buffy: A Caça-Vampiros completa 20 anos sem perder a força. Omelete. 2017. Disponível em: https://www.omelete.com.br/series-tv/buff-a-caca-vampiros-completa-20-anos-sem-perder-a-forca.  Acesso em: 8 abr. 2025. 

ONUKI, Janina e ALBUQUERQUE, Ana Balbachevsky Guilhon e MURTA, Arthur. Resistência e ocupação de espaços: debates feministas e queer em Relações Internacionais. Gênero, direito e relações internacionais: debates de um campo em construção. Tradução. Salvador: EDUFBA, 2018. Acesso em: 8 abr. 2025. 

SARFATI, Gilberto. Teoria das Relações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005.

SYLVESTER, Christine. Feminist theory and international relations in a postmodern era. Vol. 32. Cambridge University Press, 1994

TICKNER, J. Ann. Hans Morgenthau’s Principles of Political Realism: A Feminist Reformulation. Millennium – Journal of International Studies, v. 17, p. 429-440, 1988.