
Caira Queiroz – acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais da UNAMA.
Marcada para este ano, a realização da COP 30 em Belém do Pará já movimenta não apenas a agenda ambiental, mas também o cenário cultural e político da região. Com a expectativa de receber lideranças globais, movimentos sociais e imprensa internacional, a cidade se prepara para mais do que um evento climático — há uma clara articulação em torno da imagem do Brasil, da Amazônia e de seus potenciais simbólicos.
Nesse contexto, cresce também o movimento de atração de grandes eventos musicais internacionais para a capital paraense, o que revela um aspecto menos evidente, mas estratégico: o uso do Soft Power como ferramenta de influência e valorização geopolítica e como a Amazônia está se tornando palco de disputas simbólicas e estratégicas nas Relações Internacionais.
Para aprofundar melhor, evidencia-se que o evento tem sido anunciado como uma oportunidade para destacar a Amazônia no cenário global e promover discussões cruciais sobre mudanças climáticas. Entretanto, observa-se uma tendência preocupante, pois tal parece estar se transformando mais em uma vitrine festiva do que em um fórum efetivo para soluções ambientais.
A realização de grandes eventos musicais internacionais em Belém, como os shows planejados no projeto “Amazônia Para Sempre” e o Festival Global Citizen Amazônia, embora possa atrair atenção para a região, levanta questões sobre o risco de distanciamento dos objetivos reais da COP e a acessibilidade e representatividade das comunidades locais, especialmente aquelas que vivem na própria Amazônia (SOBRAL, 2025).
Pois, embora o festival prometa reunir artistas nacionais, internacionais e indígenas para discutir ações contra a pobreza extrema e a preservação ambiental, há preocupações de que a cultura amazônica possa ser relegada a um papel secundário, servindo apenas como pano de fundo exótico para atrações de maior visibilidade, já que os altos custos de ingressos e a infraestrutura limitada consequentemente excluirão a própria sociedade civil local desses momentos culturais (PORTAL JAMBU, 2025).
Essa exclusão contrasta com o objetivo declarado de promover a cultura local e a conscientização ambiental, destacando a necessidade de políticas que garantam a inclusão e a participação ativa das populações locais nos benefícios trazidos por tais eventos. Ou seja, essas dinâmicas evidenciam um distanciamento preocupante entre os objetivos declarados da COP 30 e as práticas adotadas em sua organização.
Ao priorizar parcerias com grandes produtoras externas e eventos de grande porte, corre-se o risco de marginalizar os verdadeiros protagonistas da Amazônia — seus habitantes e criadores culturais — transformando a conferência em uma vitrine de boas intenções, mas desconectada das realidades e necessidades locais.
Nesse contexto, o Brasil e outros Estados parecem estar utilizando a COP 30 e os eventos culturais associados como ferramentas de Soft Power — teoria desenvolvida por Joseph Nye, que enfatiza a capacidade de um país influenciar outros por meio da cultura, valores e políticas, ao invés de coerção (SILVA, 2025) — para melhorar sua imagem internacional dentro do evento , que está sendo um marco histórico por ocorrer dentro da própria Amazônia. No entanto, essa estratégia corre o risco de ser superficial se não houver uma inclusão genuína das populações amazônicas nas decisões e benefícios decorrentes do evento.
É claro que a confirmação de atrações internacionais em Belém representa um marco significativo para a capital paraense, que historicamente via eventos desse porte concentrados no Sudeste do país. A sociedade civil local demonstra entusiasmo com essas conquistas, reconhecendo-as como oportunidades únicas de projeção cultural por estarem mais próximas de seus ídolos artísticos, além do engajamento em pautas globais.
Mas para que a COP 30 cumpra verdadeiramente seus objetivos, é essencial que as vozes das populações amazônicas sejam ouvidas e consideradas nas decisões para além da “distração” de shows. Assim, a utilização de Soft Power deve ir além da promoção de uma imagem positiva; deve refletir um compromisso autêntico com a inclusão, sustentabilidade e respeito às comunidades locais. Caso contrário, corre-se o risco de transformar uma oportunidade crucial em um evento meramente performático, desconectado das realidades e necessidades da Amazônia e de seus habitantes.
PORTAL JAMBU. COP 30 em Belém: Inclusão ou vitrine para o mundo? Portal Jambu, 2025. Disponivel em: https://portaljambu.com/cop-30-em-belem-inclusao-ou-vitrine-para-o-mundo/#comment-702. Acesso em 02 de abril de 2025.
SILVA, Railson. Pensamentos Internacionalistas – Robert Keohane e o Neoliberalismo Institucional. Site Internacional da Amazônia, 2025. Disponível em: https://internacionaldaamazoniacoms.com/2025/01/07/pensamentos-internacionalistas-robert-keohane-e-o-neoliberalismo-institucional/. Acesso em 02 de abril de 2025.
SOBRAL, Arthur. Belém é confirmada como cidade sede do ‘Global Citizen Festival’, em 2025. Agência Pará, 2025. Disponível em: https://agenciapara.com.br/noticia/61445/belem-e-confirmada-como-cidade-sede-do-global-citizen-festival-em-2025. Acesso em 03 de abril de 2025.
