
Gabriela Vaz,
acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais
O passaporte musical desta semana é sobre o DJ e produtor musical, Avicii. O artista misturou vários ritmos em suas canções, no entanto, seu estilo musical é marcado pelo house music, sendo este, um subgênero dentro da música eletrônica. Em suas canções, Avicii aborda amores, a celebração da vida e a resiliência.
Tim Bergling, nasceu em 8 de setembro de 1989, em Estocolmo na Suécia. Ele teve interesse pelo mundo musical na infância, no entanto, apenas na adolescência que começou a produzir suas próprias batidas e melodias. O jovem iniciou a postagem de suas criações na rede social MySpace e deu início, em 2008, ao nome artístico “Avicii”, que significa os diferentes “níveis” do inferno budista (BBC, 2025).
Aos 18 anos, Avicii conheceu o empresário Arash Pournouri, o qual acreditou no sucesso daquele brilhante jovem. A partir daquele momento, o artista começou a apresentar-se em palcos de boates e, em 2010, foi contratado por uma das maiores gravadoras da época, a “EMI Music Publishing” (Antena 1, 2025). Em 2011, participou da criação do single “Sunshine”, com o DJ francês David Guetta. Nesse mesmo ano, Avicii ganhou reconhecimento mundial com a música “Levels“. A qual, em 2024, conquistou o primeiro lugar do Top 1000 da “One World Radio”, rádio oficial do festival “Tomorrowland“ (Beat for Beat, 2024).
Além disso, seus remixes e músicas mais conhecidas são: “Wake Me Up” (2013); “Hey Brother” (2013); “Sky Full of Stars” (2014), remix da canção de “Coldplay”; “The Nights” (2015); “Waiting for Love” (2015); “Taste the Felling” feat. Conrad Sewell (2016), que se tornou conhecida por ser a canção das propagandas da empresa multinacional de bebidas, Coca Cola.
Ao longo de sua carreira, Avicii conquistou vários prêmios, dentre eles: o “American Music Awards” de artista favorito de música eletrônica (2014) e o “Billboard Music Awards” de melhor álbum Dance/Eletrônica (2014). Ainda, o artista possui três documentários abordando sobre a sua carreira, o “Avicii: True Stories” (2017), o “Avicii: Meu Nome é Tim” (2024) e o “Avicii: Meu Último Show” (2024).
Com a agenda lotada e a constante participação em shows de outros artistas, Avicii passou a enfrentar uma intensa pressão profissional. Essa sobrecarga contribuiu para o desenvolvimento de um quadro de ansiedade, levando-o a recorrer ao álcool como uma forma de lidar com o estresse, e passou a utilizar opioides. Sua saúde mental se deteriorou significativamente, e após uma intervenção familiar, ele foi internado em uma clínica de reabilitação. O artista viajou por um tempo e cuidou da sua saúde. No entanto, em 2018, infelizmente, ele foi encontrado sem vida em Omã, país localizado na península arábica. Após sua morte, a família criou a Fundação Tim Bergling, com o objetivo de incentivar debates sobre saúde mental e prevenção ao suicídio (BBC, 2025).
Além de seu talento musical, a trajetória de Avicii levanta reflexões que ultrapassam os limites da música. Assim, pode-se relacionar a história de Avicii às Relações Internacionais (RI) sob a ótica da teoria pós-moderna e do conceito de “Sociedade do Cansaço”, do pensador sul coreano Byung-Chul Han. A teoria pós-moderna de RI detém como característica própria uma concepção fortemente estabelecida em tecer críticas às ideias tradicionais de mundo e desafia a ideia de que as relações internacionais possam ser consideradas uma ciência objetiva, mostrando que é importante revelar os lados parciais ou as influências que existem em qualquer teoria (Sarfati, 2005, p. 240).
Nesse sentido, o conceito desenvolvido pelo pensador pós-moderno Byung-Chul Han, em sua obra “A Sociedade do Cansaço” (2015), aborda os efeitos globais da hiperexposição e da produtividade como sinônimo de sucesso, desencadeando exaustão mental, depressão e ansiedade (Han, 2015). Dessa forma, entende-se como a cultura do desempenho pode afetar o bem-estar da sociedade, sendo necessário reconhecer limites e compreender que não há problema em não conseguir atender a tudo.
Sendo assim, ao conectar os dois, percebe-se que Avicii enfrentou uma profunda exaustão mental, devido à sobrecarga de sua agenda, uma consequência das exigências de um sistema que valoriza o sucesso e a produtividade acima da saúde emocional. Em sua canção “Wake Me Up”, por exemplo, expressa sobre como a vida é um “jogo” que leva o indivíduo a um sentimento de desconexão com o mundo. Assim, o falecimento de Avicii em 2018, tornou-se um símbolo das pressões silenciosas que afetam indivíduos na globalização, mostrando como a sociedade pós-moderna não é apenas objetiva e “maquinizada”, mas sim, marcada por uma produtividade ao extremo que destrói vidas.
REFERÊNCIAS:
ANTENA 1. Avicii. Disponível em: https://www.antena1.com.br/artistas/avicii. Acesso em: 5 abr. 2025.
BBC. Avicii: Electronic dance music DJ dies aged 28. 2025. Disponível em: https://www.bbc.com/news/entertainment-arts-43837956. Acesso em: 05 abr. 2025.
BEAT FOR BEAT. “Levels” de Avicii é a número 1 do Tomorrowland Top 1000. Beat for Beat. Disponível em: https://beatforbeat.com.br/site/levels-de-avicii-e-anumero-1-do-tomorrowland-top-1000/. Acesso em: 5 abr. 2025.
BILLBOARD. Billboard Music Awards Winners: Complete List. Disponível em: https://www.billboard.com/music/music-news/billboard-music-awards-winnerslist-complete full-6092028/. Acesso em: 05 abr. 2025.
EL PAÍS. Avicii, a primeira vítima do negócio da música eletrônica dançante. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/04/21/cultura/1524284710_019905.html?outputType=amp. Acesso em: 5 abr. 2025.
HAN, Byung-Chul. A sociedade do cansaço. 1. Ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2015.
Sarfati, Gilberto. Teoria das Relações Internacionais. São Paulo: Editora Saraiva, Capítulo 20.
Ventas, Leire. BBC NEWS BRASIL. 5 revelações de “Avicii: Eu sou Tim”, documentário da Netflix sobre vida e morte do DJ mais famoso do mundo. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cy53zz6qqkzo.amp. Acesso em: 5 abr. 2025.
