Por Caira Queiroz, acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

Uma das figuras mais inspiradoras da história política e educacional do Brasil, Antonieta de Barros foi a primeira mulher negra eleita no país e uma das pioneiras no enfrentamento do racismo e da desigualdade por meio da educação e da política. Escritora, jornalista, professora e deputada, Antonieta se destacou como uma voz ativa na luta por justiça social e por uma educação pública acessível e de qualidade — especialmente para os mais pobres e marginalizados.

Nascida em 1901, em Florianópolis (SC), Antonieta era filha de Catarina de Barros, uma mulher negra ex-escravizada (FRANÇA E MORAES, 2022). Foi alfabetizada e formou-se professora pela Escola Normal Catarinense, uma conquista notável pois foi a primeira da família a ter o ciclo escolar completo, em um Brasil ainda profundamente marcado pela exclusão racial e de gênero. Antonieta cresceu em um ambiente de resistência e resiliência, e desde jovem, demonstrou um profundo compromisso com a educação, fundando em 1922 o Curso Particular Antonieta de Barros, voltado para a alfabetização de adultos carentes. (SUPTITZ, 2019).

Além da docência, sua atuação como jornalista também foi notável. Antonieta escreveu crônicas e artigos em diversos jornais catarinenses, assinando seus textos sob o seu nome fictício “Maria da Ilha”. Ela fundou e dirigiu o jornal “A Semana” entre 1922 e 1927, sendo considerada a primeira mulher negra a trabalhar na imprensa catarinense. Sua escrita era marcada por um olhar crítico sobre a sociedade brasileira, especialmente no que se refere à educação, ao papel da mulher e à desigualdade racial. Em 1937, publicou o livro Farrapos de Ideias, uma coletânea de textos que revelam seu pensamento progressista e humanista (TORRES, 2020).

Com o objetivo de revolucionar a educação, Antonieta se candidatou a uma cadeira na Assembleia Legislativa em 1934. Ao ser eleita deputada estadual por Santa Catarina, após a concessão do direito ao voto às mulheres, ela tornou-se a primeira mulher negra a ocupar um cargo legislativo no Brasil. 

Defendeu pautas como a valorização do magistério, o acesso universal à educação e os direitos das mulheres e entre seus inúmeros feitos está a criação do Dia do Professor, em 1948, data que virou lei nacional em 1963. Seu mandato é um marco histórico de presença negra no Legislativo, ainda que raramente lembrado na historiografia dominante (FRANÇA E MORAES, 2022).

Mesmo com feitos históricos, Antonieta enfrentou um ambiente dominado por homens brancos, desafiando as normas de gênero e raça da época. Sua eleição como deputada estadual representou uma ruptura com as estruturas de poder estabelecidas. Segundo Torres:

“Antonieta deveria ser uma espécie de Frida Kahlo brasileira. Foi feminista numa sociedade conservadora, negra e mulher numa terra de oligarquias, mestre de centenas de jovens da elite branca que jamais deixaram de reverenciar sua cultura e personalidade”.El País, 2020. 

Nesse sentido, a vida e a atuação de Antonieta de Barros podem ser analisadas à luz da teoria feminista das Relações Internacionais, que surgiu no final da década de 1980 como uma crítica às abordagens tradicionais da área (RODRIGUES, 2024). Essa teoria denuncia a negligência das questões de gênero e a exclusão sistemática das mulheres dos espaços de poder e decisão, alinhando-se, assim, à trajetória de Antonieta, que rompeu barreiras e reivindicou a presença feminina — especialmente a de mulheres negras — na política institucional.

Sua luta pela educação como ferramenta de emancipação social reflete a ênfase feminista na importância da educação para a igualdade de gênero. Ao fundar o Curso Particular Antonieta de Barros, voltado para a alfabetização de adultos, ela promoveu a inclusão social e o empoderamento das mulheres e dos negros. Sua atuação como jornalista e escritora, permitiu-lhe expressar suas ideias sobre educação, política e a condição feminina, contribuindo para a construção de uma narrativa alternativa que valorizava as experiências das mulheres negras.

Ou seja, Antonieta de Barros, portanto, não apenas desafiou as estruturas de poder de sua época. Sua trajetória é um marco vivo da luta por justiça social, pela valorização da educação e pela presença negra nos espaços de poder. O legado de Antonieta de Barros deve ecoar nas escolas, onde ela acreditava que começava a mudança. Deve inspirar mulheres a ocuparem espaços antes negados e, sobretudo, fortalecer as lutas contra o racismo, o sexismo e todas as formas de exclusão. Que sua memória continue inspirando gerações a reimaginar a política, a educação e o Brasil.

REFERÊNCIAS

SUPTITZ, Laura. Antonieta de Barros. Memória Política de Santa Catarina, 2019. Disponível em: https://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/biografia/68-Antonieta_de_Barros?utm_source=chatgpt.com. Acesso em: 13 abr. 2025.

TORRES, Aline. Antonieta de Barros, a parlamentar negra pioneira que criou o Dia do Professor. El País, 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-10-15/antonieta-de-barros-a-parlamentar-negra-pioneira-que-criou-o-dia-do-professor.html?ssm=whatsapp. Acesso em: 13 abr. 2025.

FRANÇA, Bernardo; MORAES, Laura. Conheça Antonieta de Barros, a primeira mulher negra eleita no Brasil. Revista Galileu, 2022. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2022/03/conheca-antonieta-de-barros-primeira-mulher-negra-eleita-no-brasil.html. Acesso em: 13 abr. 2025.RODRIGUES, Stefany. Pensamentos Internacionalistas – Estudos de Gênero nas Relações Internacionais. Site Internacional da Amazônia, 2024. Disponível em: https://internacionaldaamazoniacoms.com/2024/07/09/pensamentos-internacionalistas-estudos-de-genero-nas-relacoes-internacionais/. Acesso em: 14 abr 2025