Maysa Lisboa- acadêmica do 7º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

A Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá em Belém do Pará, durante os dias de 10 até 21 de novembro de 2025, representa um marco importante para o Brasil e para a agenda climática global. Este evento, sediado pela primeira vez na Amazônia, destaca-se como uma oportunidade única para discutir a transição energética em um contexto de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável.

A COP 30 ocorre em um momento crítico para a governança climática global. Com o aumento da frequência de desastres climáticos e a urgência de limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, as discussões sobre transição energética tornam-se centrais. O setor energético é responsável por cerca de 76% das emissões globais de gases de efeito estufa, o que exige ações decisivas para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e expandir fontes renováveis como solar, eólica e biomas (CLIMA E SOCIEDADE, 2024). Sendo assim, o evento precisa superar frustrações anteriores, como as da COP 29, que falhou em definir mecanismos claros de financiamento climático.

A COP 30 terá o desafio de implementar metas do Acordo de Paris, incluindo a triplicação da capacidade mundial de energia renovável até 2030 e avanços rumo à neutralidade global de carbono até 2050. Nesse contexto, exemplifica a importância das instituições internacionais como arenas de cooperação, mesmo em um sistema internacional marcado pela anarquia. Como afirma Keohane (1984, p. 67), “a cooperação não depende da existência de uma autoridade central, mas pode ser promovida por regimes internacionais que estabelecem normas e procedimentos estáveis”.

Além disso, a crise climática pode ser compreendida sob a ótica da segurança internacional. Segundo Buzan et al. (1998), a segurança ambiental surge quando questões ecológicas são tratadas como ameaças existenciais que exigem respostas políticas urgentes. Dessa forma, a transição energética ganha status de prioridade internacional, integrando-se à agenda de segurança dos Estados, sobretudo daqueles vulneráveis às mudanças climáticas.

O Brasil possui uma matriz energética predominantemente renovável, destacando-se por sua capacidade de produzir energia limpa. Fontes como hidrelétricas, biomassa e energia solar posicionam o país como líder potencial na transição energética. No entanto, desafios permanecem, como a necessidade de diversificar ainda mais essa matriz com tecnologias como a energia nuclear. Projetos como Angra 3 e os reatores modulares (SMRs) podem contribuir para uma estratégia mais robusta de descarbonização (BRAZIL ECONOMY, 2025).

Vale notar que iniciativas locais já estão sendo discutidas no Pará para garantir uma COP sustentável. Entre elas, estão soluções híbridas envolvendo hidrogênio no transporte urbano e fluvial, além da desmobilização de usinas termelétricas, que podem reduzir significativamente as emissões anuais do estado (AGÊNCIA PARÁ, 2024). Essas ações não apenas atendem às demandas do evento, mas também deixam um legado duradouro para a região.

A COP 30 também será marcada por uma mudança no protagonismo climático global. Com os Estados Unidos fora do Acordo de Paris e flexibilizações na União Europeia, os países do BRICS+ emergem como atores relevantes na agenda climática. Apesar das divergências internas quanto à velocidade da transição energética, blocos como o BRICS+ têm potencial para liderar compromissos mais ambiciosos (BRASIL DE FATO, 2025).

A realização da COP 30 em Belém do Pará representa não apenas um marco geográfico e político para a diplomacia ambiental brasileira, mas também uma oportunidade concreta para fortalecer o protagonismo do Sul Global na governança climática. Ao reunir líderes mundiais em plena Amazônia, o evento amplia as possibilidades de cooperação internacional e reafirma a importância das instituições multilaterais no enfrentamento da crise ambiental global.

 Conforme destaca Keohane (1984), a cooperação pode emergir mesmo em um sistema internacional anárquico, desde que sustentada por regimes estáveis e compromissos coletivos. Além disso, à luz da teoria de segurança ambiental de Buzan et al. (1998), a transição energética deve ser tratada como uma questão urgente de segurança global, exigindo ações integradas e inclusivas. O Brasil, com sua matriz energética renovável e iniciativas locais inovadoras, tem o potencial de liderar uma transição energética justa, articulando sustentabilidade, soberania e justiça climática para além da COP 30.

Referências

AGÊNCIA PARÁ. Estado avança em discussões sobre energia renovável na COP 30. 2024. Disponível em: https://www.agenciapara.com.br/noticia/59065/estado-avanca-em-discussoes-sobre-energia-renovavel-na-cop-30. Acesso em: 14 abr. 2025.

BRASIL DE FATO. Cenários para a COP30: após saída dos EUA do Acordo de Paris, o BRICS no rumo da liderança climática global. 2025. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/colunista/observatorio-de-politica-externa/2025/04/08/cenarios-para-a-cop30-apos-saida-dos-eua-do-acordo-de-paris-o-brics-no-rumo-da-lideranca-climatica-global/. Acesso em: 14 abr. 2025.

BRAZIL ECONOMY. COP 30 no Brasil: estamos prontos para uma transição energética sustentável? 2025. Disponível em: https://brazileconomy.com.br/2025/03/cop-30-no-brasil-estamos-prontos-para-uma-transicao-energetica-sustentavel/. Acesso em: 14 abr. 2025.

BUZAN, Barry; WÆVER, Ole; DE WILDE, Jaap. Security: a new framework for analysis. Boulder: Lynne Rienner, 1998.

CLIMA E SOCIEDADE. COP30: Brasil, e daí? 2024. Disponível em: https://climaesociedade.org/artigo/cop30-brasil-e-dai/. Acesso em: 14 abr. 2025.

KEOHANE, Robert O. After hegemony: cooperation and discord in the world political economy. Princeton: Princeton University Press, 1984.