Keity Oliveira (Internacionalista formada pela UNAMA)
Lara Lima (acadêmica do 8º semestre de RI da UNAMA)

A Amazônia Azul refere-se a uma vasta extensão marítima sob soberania brasileira, que inclui também os rios e as águas interiores da bacia amazônica. De acordo com Souza (2024), um levantamento da Marinha do Brasil diz que essa área cobre cerca de 5,7 milhões de quilômetros quadrados. Este ecossistema é de extrema importância, não apenas pela sua rica biodiversidade, mas também pelo modo de vida das comunidades que dele dependem.


No entanto, a Amazônia Azul tem sido afetada pela contaminação por óleo, o que tem comprometido este território aquático, provocando graves consequências ambientais. Um caso emblemático ocorreu em 2018, com o derramamento de 1,8 mil litros de óleo na margem esquerda do Rio Negro, na área do porto da Ceasa, no bairro Mauazinho, zona Leste de Manaus (IPAAM, 2018). O desastre foi causado pela empresa J.F. de Oliveira Navegação Ltda., responsável pelo transporte rodo-fluvial da maior parte das cargas da região.


Segundo o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas IPAAM (2018), o óleo atingiu áreas de vegetação natural no igarapé do Mauazinho, considerado uma Área de Preservação Permanente (APP). O acidente aconteceu no dia 27 de agosto, após o naufrágio do empurrador Jean Filho LII, no porto da empresa, pertencente ao grupo Chibatão.


De acordo com o laudo que originou o Auto de Infração n.º 307/18, IPAAM, constatou que o vazamento de óleo se estendeu até o ponto turístico do Encontro das Águas, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O desastre também provocou impactos significativos, atingindo áreas de vegetação natural e comprometendo a balneabilidade, a atividade pesqueira e a flora local.


Outro grave desastre ambiental envolvendo petróleo, já nesse ano de 2025, atinge o Equador, afetando mais de 500 mil pessoas com falta de água potável, rios contaminados e proliferação de doenças. O vazamento ocorreu após o rompimento do oleoduto SOTE, operado pela estatal Petroecuador, e do Oleoduto de Crudos Pesados (OCP), controlado por consórcio privado (Climainfo, 2025). Estima-se que cerca de 200 mil barris de petróleo tenham sido derramados após um deslizamento de terra, contaminando afluentes e o oceano Pacífico, além de comprometer o sustento de comunidades ribeirinhas e turísticas.


O desastre evidencia a ameaça da exploração de combustíveis fósseis na Amazônia, colocando em risco a biodiversidade, a segurança hídrica e o equilíbrio climático da região. A extensão da contaminação e a quantidade de pessoas afetadas reforçam a vulnerabilidade dos territórios amazônicos e a necessidade urgente de responsabilização das empresas e fortalecimento de ações preventivas.


A escritora Patrícia Kallil, denuncia o descaso com as vidas amazônicas e a falta de preparo para enfrentar desastres ambientais que são inevitáveis diante da insistência na extração de petróleo no coração da floresta Amazônia. Segundo ela, a continuidade desses projetos ignora os riscos evidentes e o valor da biodiversidade amazônica.


Kallil (2025) também questiona a postura do país, ao perguntar se “o Brasil ainda considera abrir novos poços de petróleo na foz do rio Amazonas? Com a aproximação da COP30, a reflexão sobre qual futuro queremos para a Amazônia brasileira torna-se ainda mais urgente.” Essa pergunta ecoa em um momento crítico, onde as decisões sobre o uso dos recursos naturais da Amazônia terão implicações profundas para o meio ambiente, as comunidades locais e o futuro do bioma.


Em 2023, o IBAMA negou a licença para a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, destacando os graves riscos ambientais. Ainda assim, a Petrobras seguiu pressionando para a autorização do projeto, defendendo que, em caso de vazamento, o impacto atingiria países caribenhos, como se um desastre ambiental fora do território brasileiro fosse justificável, conforme noticiado por Kalil (2025).

Em 2016, cientistas do Museu Goeldi, da UFPA e do IEPA já haviam alertado que a região abriga um dos ecossistemas mais frágeis do planeta, formado por recifes, manguezais e várzeas interligados (Kallil, 2025). Além dos impactos ambientais irreversíveis, a exploração ameaçaria diretamente 13 mil indígenas de 56 comunidades no Oiapoque, que sequer foram consultados, desrespeitando a legislação vigente. Para Kallil (2025), avançar com projetos petrolíferos na atual crise climática é insustentável e juridicamente inaceitável, uma verdadeira tentativa de “tapar o sol com óleo”.


Desse modo, os impactos do petróleo sobre os ecossistemas marinhos são devastadores. Ao entrar em contacto com essa substância, muitos organismos sofrem consequências imediatas e prolongadas (AmbScience, [s,d]).  Os animais marinhos, como peixes, mamíferos e aves, são gravemente afetados pela ingestão de hidrocarbonetos, substâncias tóxicas presentes no petróleo.


Além disso, a contaminação prejudica o isolamento térmico de muitas espécies e, no caso das aves, dificulta o voo, colocando em risco a sua mobilidade e capacidade de sobrevivência.


De acordo com Neves (2025), na terça-feira, 22 de abril, ocorreu um vazamento de óleo no Terminal Portuário de Outeiro, localizado na Baía de Santo Antônio, na ilha de Caratateua, distrito de Outeiro. O desastre foi atribuído ao navio Forte de São Felipe, operado pela empresa Sotave Amazônia Química Mineral S.A., especializada na produção de adubos e fertilizantes. A embarcação atua, principalmente, no transporte de produtos químicos e minerais líquidos a granel.


Segundo denúncias da comunidade local, o derramamento causou graves prejuízos à pesca artesanal, principal fonte de sustento de muitas famílias da região (Neves, 2025). Os pescadores relataram uma queda significativa nas capturas, afetando diretamente a economia e a segurança alimentar das comunidades ribeirinhas.


O ambientalista João do Clima, morador da ilha de Caratateua, relatou que a Polícia Civil, por meio da Demapa, foi acionada após a descoberta do vazamento. Segundo ele, há expectativa de uma perícia técnica para avaliar os danos ambientais (Cruz, 2025). No entanto, ainda não se sabe se a empresa responsável possui licença ambiental válida, tampouco quais são as obrigações previstas em casos de incidentes dessa gravidade.


A falta de informações claras sobre o licenciamento e os protocolos de emergência aumenta a sensação de insegurança entre os moradores locais. João também criticou o histórico de negligência enfrentado por comunidades periféricas diante de crimes ambientais: “A gente que somos os primeiros a sentir os impactos, somos os últimos a ser ouvidos (Cruz, 2025).


Além dos impactos sociais, o óleo derramado já atingiu a ilha de Jutuba, Paquetá, Nova e Cotijuba e continua a espalhar-se pelas águas, colocando em risco a biodiversidade aquática. Espécies de peixes, moluscos e plantas aquáticas estão entre as mais afetadas, comprometendo o equilíbrio ecológico local. A situação tem gerado grande preocupação entre ambientalistas e moradores, que temem pelos efeitos a longo prazo no ecossistema marinho.


O portal de notícias Ver-o-Fato tem tentado estabelecer contato com a empresa Sotave e com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), para obter esclarecimentos sobre o vazamento de óleo em Outeiro, mas até o momento não obteve resposta. A imprensa do portal mantém o espaço aberto para manifestações oficiais.


Enquanto isso, os principais meios de comunicação da região permanecem em silêncio sobre o tema, deixando a responsabilidade da denúncia a cargo das ONGs, ativistas ambientais e das comunidades afetadas, que continuam a lutar para dar visibilidade ao problema.


O petróleo é amplamente conhecido pelo seu potencial poluente, no entanto, continua sendo indispensável na fabricação de inúmeros produtos do cotidiano e mantém-se como pilar econômico essencial para muitos países. Contudo, os derramamentos de óleo, sejam eles frutos de acidentes ou de práticas ilegais, geram consequências ambientais severas, prejudicando diversos ecossistemas.


Nesse sentido, quando óleos combustíveis e lubrificantes entram em contato com os rios da Amazônia, formam uma camada na superfície da água que bloqueia a troca gasosa com a atmosfera e reduz significativamente o nível de oxigênio dissolvido. Essa barreira também impede a penetração da luz solar, prejudicando o fitoplâncton, organismo fundamental para o equilíbrio da vida aquática, conforme Neves (2025).


Como resultado disso, há a morte ou deslocação de espécies como peixes, plantas e outros seres vivos, provocando profundas alterações na cadeia alimentar e comprometendo a estabilidade ecológica da região.


Além dos danos ambientais, o vazamento de óleo atinge diretamente as populações tradicionais, que dependem dos rios para pescar, se alimentar, transportar bens e manter práticas culturais. Para essas comunidades, o petróleo representa mais do que uma ameaça ao meio ambiente: é um risco real à sobrevivência (Casa.org, 2025). A escassez de peixes e a contaminação da água resultam em insegurança alimentar, perda de renda e problemas de saúde relacionados ao contacto com substâncias tóxicas.


Para muitos povos indígenas e ribeirinhos, os rios são considerados seres vivos, com espíritos e identidade próprios. Ver essas águas cobertas por óleo é experienciar uma agressão que não é apenas física, mas também espiritual, abalando a autoestima coletiva e ameaçando a preservação das tradições e da cultura ancestral.


Desse modo, as empresas que utilizam petróleo em seus processos de produção devem possuir planos de contingência bem definidos.


A legislação brasileira exige que companhias petrolíferas, ou que empregam a substância em suas atividades, apresentem Planos de Emergência Individual (PEI), de Área (PA), Regional (PR) e o Plano Nacional de Contingência (PNC) para incidentes de poluição por óleo em águas sob jurisdição nacional (AmbScience, [s,d]). Esses planos devem ser submetidos e aprovados pelo órgão ambiental competente. Em caso de vazamento, é essencial que a resposta seja rápida, com equipes capacitadas e equipamentos adequados para a contenção e remoção das manchas de óleo.


Em síntese, é urgente que políticas públicas sejam reforçadas para garantir o monitoramento, a prevenção e a responsabilização efetiva dos responsáveis pelos danos ambientais. A defesa da Amazônia Azul exige vigilância permanente, cooperação ativa entre as instituições e, principalmente, o reconhecimento das comunidades locais como protagonistas na preservação desse ecossistema essencial.


Diante da temática exposta, recomenda-se a palestra do cineasta Jorge Bodanzky, com o título “Amazônia, a nova Minamata?”, onde o mesmo discorre sobre o resgate da história do desastre de Minamata, no Japão, denominação dada ao envenenamento de centenas de pessoas por mercúrio ocorrido na cidade japonesa e que originou o nome da Doença de Minamata, uma síndrome neurológica causada por severos sintomas de envenenamento por mercúrio. Bodanzky resgata a história ocorrida em 1956 sob o viés da contaminação de minérios na Amazônia hoje, demonstrando o real tamanho dessa ameaça para a floresta e seus habitantes.


Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=C43jXqZQXvs&ab_channel=Territ%C3%B3riodasArtes-ITA >
Versão em Libras: < https://www.youtube.com/watch?v=Tj13zGl3v28&t=868s&ab_channel=Territ%C3%B3riodasArtes-ITA >


Também se destaca o trabalho feito pelo Observatório da Mineração, fundado em 2015 pelo jornalista Maurício Angelo. É um centro de jornalismo investigativo, análise crítica, pesquisa e mentoria sobre a mineração, as violações socioambientais, a crise climática e transição energética, as relações políticas e o lobby do setor mineral. Para mais informações sobre, acesse:


Site Institucional: < https://observatoriodamineracao.com.br/ >


Instagram: < https://www.instagram.com/obsmineracao/ >


Facebook: < https://www.facebook.com/observatoriodamineracao >


Twitter: < https://twitter.com/obsmineracao >


Por fim, se destaca o Movimento dos Atingidos por Barragens, criado na década de 1980, por meio de experiências de organização local e regional, enfrentando ameaças e agressões sofridas na implantação de projetos de hidrelétricas. Mais tarde, se transformou em organização nacional e, hoje, além de fazer a luta pelos direitos dos atingidos, reivindica um Projeto Energético Popular para mudar pela raiz todas as estruturas injustas da sociedade. Para mais informações, acesse:


Site Institucional: < https://mab.org.br/ >


Instagram: < https://www.instagram.com/atingidosporbarragens/ >


Facebook: < https://www.facebook.com/mabbrasil/ >


Twitter: < https://twitter.com/MAB_Brasil >


REFERÊNCIAS:


CLIMAINFO. Vazamento de petróleo no Equador já atinge meio milhão de pessoas. Publicado em: 19 de mar. 2025. Disponível em: <https://climainfo.org.br/2025/03/19/vazamento-de-petroleo-no-equador-ja-atinge-meio-milhao-de-pessoas/&gt;. Acesso em: 28 abr. 2025.


CRUZ, Fabio. Moradores denunciam vazamento de óleo em ilha de Belém. Revista Cenarium. Publicado em: 28 abr. 2025. Disponível em: https://revistacenarium.com.br/moradores-denunciam-vazamento-de-oleo-em-ilha-de-belem/. Acesso em: 29 abr. 2025.


INSTITUTO de Proteção Ambiental do Amazonas. IPAAM aplica multa de R$ 2,5 milhões em empresa por vazamento de óleo no Mauazinho. Públicado em: 20 de set. 2018. Disponível em: <https://www.ipaam.am.gov.br/ipaam-aplica-multa-de-r-25-milhoes-em-empresa-por-vazamento-de-oleo-no-mauazinho/&gt;. Acesso em: 28 abr. 2025.


KALLIL, Patrícia. Petróleo na Amazônia: desastre no Equador expõe riscos que o Brasil insiste em ignorar. ENVOLVERDE. Publicado em: 10 de abr. 2024. Disponível em: <https://envolverde.com.br/politica-publica/petroleo-na-amazonia-desastre-no-equador-expoe-riscos-que-o-brasil-insiste-em-ignorar/&gt;. Acesso em: 28 abr. 2025.


NEVES, Jorginho. Exclusivo – Ribeirinhos denunciam derramamento de óleo em Outeiro; vídeos. VER-O-FATO. Públicado em: 24 abr. 2025. Disponível em: <https://ver-o-fato.com.br/exclusivo-ribeirinhos-denunciam-derramamento-de-oleo-em-outeiro-videos/.&gt; Acesso em: 27 abr. 2025.


SOUZA, Beto. Amazônia Azul: entenda por que o Brasil é maior do que está no mapa. CNN Brasil. Publicado em: 24 do jun. 2024. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/amazonia-azul-entenda-por-que-o-brasil-e-maior-do-que-esta-no-mapa/&gt;. Acesso em: 27 abr. 2025.


Fundo CASA SOCIOAMBIENTAL. RIOS irmãos: articulações locais para proteção dos rios Teles Pires e Juruena. Fundo Casa Socioambiental. Publicado em: 14 de mar. 2025. Disponível em: <https://casa.org.br/rios-irmaos-articulacoes-locais-para-protecao-dos-rios-teles-pires-e-juruena/&gt;. Acesso em: 27 abr. 2025.


AMBSCIENCE. VAZAMENTO de petróleo: impactos na fauna e flora. AmbScience [S.d]. Disponível em: <https://ambscience.com/vazamento-de-petroleo/.>Acesso em: 27 abr. 2025.