
Sthephanye Caldeira – 5° semestre
Desde a criação de Israel em 1948, o povo palestino sofre um processo contínuo de expulsão e violência que ficou marcado historicamente como a “Nakba”, uma expressão em árabe que significa “catástrofe”. A ofensiva militar israelense que vem acontecendo desde outubro de 2023 intensificou drasticamente esse ciclo de violência, apresentada como uma justificativa com base em “segurança”, os atos do governo de Israel têm gerado efeitos avassaladores, principalmente para as crianças e adolescentes que vivem na Faixa de Gaza. As denúncias de genocídio têm ganhado força, com um número crescente de países e organizações internacionais apoiando, porém, mesmo com a grande repercussão, há uma desumanização (AGÊNCIA BRASIL,2023).
A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do Alto-Comissário para os Direitos Humanos, Volker Turk, condenou os ataques contra os civis da Palestina, como “uma grave violação do direito internacional e um crime de guerra” (NAÇÕES UNIDAS, 2025). Paralelamente, em uma declaração marcante, Edouard Beigbeder, Diretor Regional do UNICEF para o Oriente Médio e Norte da África, ressaltou a gravidade da situação ao afirmar:
“Essas crianças, vidas que nunca devem ser reduzidas a números, agora fazem parte de uma longa e angustiante lista de horrores inimagináveis: as graves violações contra crianças, o bloqueio de ajuda, a fome, o constante deslocamento forçado e a destruição de hospitais, sistemas de água, escolas e casas. Em essência, a destruição da própria vida na Faixa de Gaza.” (UNICEF, 2025).
Ele também destacou que “desde o fim do cessar-fogo em 18 de março, 1.309 crianças foram mortas e 3.738 feridas. No total, mais de 50.000 crianças foram mortas ou feridas desde do início desse conflito em 2023.” (UNICEF, 2025).
O teórico de relações internacionais Hugo Grotius, considerado o pai do direito internacional, defendia na sua obra mais famosa De Jure Belli ac Pacis (1625) que a soberania dos Estados é limitada pelo direito natural e pelas leis da guerra (GROTIUS, 2004). Segundo Grotius, mesmo em tempos de conflito, existem normas que proíbem ataques indiscriminados a civis, especialmente crianças e adolescentes. Entretanto, é notável que isso não parece ser lembrado em meio ao contexto Israel-Palestiana, que pode se entender como um massacre sistemático de populações civis, e não um “efeito colateral da guerra”. Durante uma sessão do Conselho de Segurança da ONU em janeiro de 2025, o embaixador da Palestina, Riyad Mansour, emocionou-se profundamente ao relatar a situação crítica em Gaza. Ele destacou que, por 15 meses, os palestinos em Gaza viveram um verdadeiro inferno, abandonados à própria sorte, e apelou à comunidade internacional para que não esquecesse das vítimas e agisse para salvar vidas (G1,2025)
Em 23 de maio de 2025, um ataque aéreo israelense devastou a residência da família al-Najjar em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, resultando na morte de nove dos dez filhos do casal de médicos Hamdi e Alaa al-Najjar. O pai, Hamdi, que havia acabado de retornar de uma visita ao trabalho da esposa, também sucumbiu aos ferimentos dias depois. A única sobrevivente da tragédia familiar foi Adam, de 11 anos, que permanece hospitalizado em estado grave (CNN Brasil, 2025). Este é só mais um episódio chocante de muitos. Os números indicam não apenas um massacre acontecendo, mas também as evidentes violações do direito internacional humanitário e escancara a ineficácia das organizações e da comunidade internacional diante da magnitude desse triste embate. Diante desse acontecimento, o atual presidente brasileiro Lula, tem se posicionado de forma crítica em relação às ações de Israel em Gaza. Ele condenou o genocídio infantil e defendeu a necessidade de uma solução pacífica para o conflito (BRASIL, 2025).
Dado o exposto, o massacre de crianças e adolescentes em Gaza representa uma hedionda tragédia humanitária que desafia os princípios fundamentais do direito internacional defendido pelos pensamento grotianos e pelos direitos humanos. É imprescindível que a comunidade internacional, incluindo governos, organizações e indivíduos, denuncie essas atrocidades e pressione por ações urgentes, que de fato solucionem e protejam as mais vulneráveis vítimas dessa guerra. A revolta palestina, nesse sentido, não é apenas legítima, mas necessária. Como Malala Yousafzau proferiu em seu pedido por um cessar-fogo “a guerra não poupa crianças”.
REFERÊNCIAS:
AGÊNCIA BRASIL. Entenda o que foi a Nakba, a catástrofe do povo palestino. Agência Brasil, 13 nov. 2023. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2023-11/entenda-o-que-foi-nakba-catastrofe-do-povo-palestino. Acesso em: 2 jun. 2025.
BRASIL. Presidência da República. Morte de nove irmãos em ataque do governo de Israel na Faixa de Gaza. Brasília: Planalto, 25 maio 2025. Disponível em: https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/notas-oficiais/notas-a-imprensa/morte-de-nove-irmaos-em-ataque-do-governo-de-israel-na-faixa-de-gaza. Acesso em: 3 jun. 2025.
CNN Brasil. Bombardeio em Gaza atinge casa de médica e mata nove de seus 10 filhos. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/bombardeio-em-gaza-atinge-casa-de-medica-e-mata-nove-de-seus-10-filhos/. Acesso em: 3 jun. 2025..
GROTIUS, Hugo. O Direito da Guerra e da Paz. Ijuí: Unijuí, 2004.
G1. Embaixador da Palestina na ONU bate na mesa e chora ao falar de crianças que morreram em Gaza: ‘É insuportável’. 28 maio 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/05/28/embaixador-da-palestina-na-onu-bate-na-mesa-e-chora-ao-falar-de-criancas-que-morreram-em-gaza-e-insuportavel.ghtml. Acesso em: 3 jun. 2025
NAÇÕES UNIDAS. Alto comissário de Direitos Humanos da ONU condena ataques mortais a civis que aguardavam ajuda alimentar. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2025/06/1849111. Acesso em: 3 jun. 2025.
UNICEF. “Horrores inimagináveis: mais de 50.000 crianças supostamente mortas ou feridas na Faixa de Gaza.” 29 de maio de 2025. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/horrores-inimaginaveis-mais-de-50000-criancas-supostamente-mortas-ou-feridas-na-faixa-de-gaza. Acesso em: 2 jun. 2025.
