Renata Oliveira, acadêmica do 1º semestre de Relações Internacionais

A Confederação Wabanaki reunia diversos povos indígenas de língua algonquina no nordeste da América do Norte, como as tribos Abenaki, Mi’kmaq, Penobscot, Maliseet, e Passamaquoddy. Foi criada como resistência à colonização europeia durante os séculos XVII e XVIII, com o objetivo de proteger suas terras, cultura e autonomia diante da crescente expansão colonial de ingleses e franceses (Prins, 2016).

A estrutura política da confederação era formada por conselhos tribais que se reuniam com frequência para discutir questões comuns, como guerra, paz e alianças, sem que houvesse um líder supremo. As reuniões, conhecidas como “fogueiras do conselho”, aconteciam em aldeias centrais como Panawamskek (Oldtown) ou Odanak (St. Francis), onde as decisões eram tomadas em consenso (Prins, 2016).

As Guerras Wabanaki foram fortemente influenciadas pelo cenário colonial amplo, sobretudo pela rivalidade entre franceses e ingleses. Os Wabanaki aliaram-se aos franceses, que, diferentemente dos ingleses, tinham como interesse principal o controle das rotas de comércio de pele. Esta aliança foi fortalecida pela presença de missionários jesuítas, que converteram muitos Wabanaki ao catolicismo e reforçaram os laços com a França (Britannica, 2025).

Um dos primeiros grandes conflitos foi a Guerra do Rei William (1688-1698), na qual os Wabanaki, aliados aos franceses, atacaram assentamentos ingleses na Nova Inglaterra em resposta à invasão de suas terras e à pressão colonial. Estes ataques eram frequentemente coordenados com os franceses, que forneciam armas e incentivos. Os Guerreiros de Wabanaki embora fossem habilidosos, não puderam conter o avanço dos ingleses, que contavam com mais soldados e armas superiores (Prins, 2016).

Em 1722, quando os Wabanaki, liderados pelo chefe Sagouarrab, tentaram resistir à invasão de suas terras por ingleses, ocorreram combates brutais e massacres como o de Norridgewock, quando tropas inglesas destruíram uma aldeia Abenaki e mataram crianças, mulheres e até um missionário jesuíta (Prins, 2016).

Apesar da resistência, os Wabanaki foram aos poucos enfraquecidos e forçados a negociar. O Tratado de Dunmer (1725-1727), imposto pelos ingleses, exigia sua submissão à Coroa Britânica, mas os Wabanaki, rejeitaram a ideia de se tornarem súditos, insistindo em sua autonomia (Prins, 2016).

O Tratado de Dummer tornou-se um ponto de virada nas relações anglo-wabanaki. Os ingleses interpretaram o tratado como uma submissão dos Wabanaki à Coroa Britânica, enquanto os líderes indígenas, como o orador Loron Sagouarrab, insistiam que haviam apenas concordado com uma paz temporária, sem renunciar à soberania sobre suas terras. Sagouarrab denunciou as distorções nas traduções do tratado, afirmando: “Nunca reconheci seu Rei como meu Rei, nem lhe dei minhas terras” (Prins, 2016).

Essas guerras mostraram o quanto os povos indígenas lutaram para manter sua cultura, seus territórios e sua autonomia diante da expansão colonial. A confederação demonstrou resistência e habilidade diplomática, mesmo enfrentando desafios como a superioridade militar europeia e a divisão interna causada por tratados questionáveis. Sua relação com os franceses era marcada por interesses divergentes, enquanto os Wabanaki os viam como aliados, os franceses priorizavam seus interesses geopolíticos (Prins, 2016).

As Guerras da Confederação Wabanaki foram conflitos marcados por resistência, estratégia e uma busca incansável pela autonomia dos povos. Embora a confederação tenha sido enfraquecida pelo colonialismo, seu legado persiste como um símbolo da luta indígena por direitos e soberania. Como Sagouarrab destacou, os Wabanaki nunca renunciaram à sua visão de liberdade e conexão com a terra (Prins, 2016). Estas guerras não apenas moldaram a história colonial, mas também deixaram lições sobre alianças complexas e o preço da resistência.

REFERÊNCIAS:

PRINS, Harald E. L, Storm clouds over wabanakiak: Confederacy Diplomacy until Dummer’s Treaty (1727). Kansas State University: Department of Sociology & Anthropology, 2016. Disponível em: https://web.archive.org/web/20161106174427/http://www.wabanaki.com/Harald_Prins.htm Acesso em: 20 de jun. 2025.

BRITANNICA. Abenaki. Encyclopaedia Britannica, 2025. Disponível em: https://www.britannica.com/topic/Abenaki Acesso em: 20 de jun. 2025.