Nina Roberta Fernandes da Silva – acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais da Unama

A diplomacia verde, ou diplomacia ambiental, faz referência ao uso da diplomacia para a promoção da cooperação internacional em assuntos de cunho socioambiental. Ela vem para simbolizar negociações, acordos e ações conjuntas referente às mudanças climáticas, poluição e perda da biodiversidade. Observa-se que, desde 1968, a temática ambiental é constantemente deliberada em reuniões internacionais. Todavia, um dos principais marcos sobre o assunto ocorreu na Conferência de Estocolmo (1972), com a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio ambiente (PNUMA) (SCABIN, 2025).

Desta forma, é válido ressaltar um outro marco crucial para as Relações Internacionais o qual relaciona-se intimamente às temáticas de Meio Ambiente, sendo esta conhecida como a Conferência das Partes, comumente chamada de COP, que se localiza na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCC), o qual teve sua primeira edição em Berlim, em 1995 (CONFERÊNCIA, [s.d.]). A referida conferência é responsável pela avaliação e tomada de decisões para promover a implementação da convenção e de qualquer outro sistema jurídico que tenha em vista às mudanças climáticas e seus resultados (CONFERÊNCIA, [s.d.]).

Ao trabalhar com os termos, torna-se possível a explanação sobre a conexão que os dois possuem, pois tanto a diplomacia verde quanto a Conferência das Partes têm em suas bases o comprometimento e objetivo de construir uma cooperação internacional, além de que estes são alguns dos maiores referenciais no que concerne às questões ambientais e de sustentabilidade dentro do contexto internacional.

Fazendo uma breve definição: a diplomacia verde se destaca pelo uso de acordos e ações conjuntas com enfoque em assuntos de cunho socioambiental, já na Conferência das Partes ocorre medidas como as avaliações e tomadas de decisões que possuem como função assegurar que as implementações deliberadas venham ser concretizadas (ACORDOS, [s.d.]).

Dessa forma, se torna notório a importância da diplomacia verde e da Conferência das Partes para os assuntos ligados ao meio ambiente e sustentabilidade no cunho das Relações Internacionais. Vale salientar a relação entre elas, visto que ambas possuem, cada uma de sua maneira e em seu recorte histórico-temporal, o anseio para não somente uma deliberação, mas sim mudanças efetivas no que se refere aos Estados e como lidam com as questões socioambientais. 

Além disso, as duas representam eventos extremamente importantes para a implementação (Conferência de Estocolmo) e maior cobrança por parte de organizações internacionais (Conferência das Partes) visto as urgências do tema ambiental no hodierno, dado ao aumento de eventos climáticos devido práticas de desmatamento predatórias desde a Revolução Industrial. Os eventos climáticos chegaram a pontos tão extremos que causaram o risco de um país da Polinésia, Tuvalu, ser engolido pelo mar e desaparecer devido às consequências do aquecimento global (PAULO, 2023).

 Neste sentido, é válido destacar um dos maiores arcabouços teóricos de Relações Internacionais, isto é, a Escola de Copenhague.  Uma escola que foi originada durante os anos 90, principalmente na Universidade de Copenhague, Dinamarca. A escola, que possui Barry Buzan, autor de “People, States and Fear” como um de seus principais pesquisadores, se destaca como sendo o ponto onde a questão ambiental começou a ser trabalhada como uma questão de segurança, onde pautas como o aquecimento global e a perda da diversidade foram elevadas para ameaças plausíveis e, por conta disso, as questões ambientais podem virar motivo de securitização, prática que pode exigir respostas emergenciais e fora da política comum (ADLER, 1999).

A teoria do Construtivismo também pode ser utilizada para fazer uma leitura sobre a diplomacia verde e as Conferências das Partes. O Construtivismo afirma que os Estados não são atores racionais movidos por interesses ou poder, mas sim por crenças, identidades, culturas e instituições. O Construtivismo, portanto, interpreta que os Estados não atuam apenas por cálculos estratégicos, mas, também, com base nas condições ou perspectivas os quais os próprios Estado detém para  se visualizarem e poder se representar e, desta forma, acredita que como normas, culturas e identidades podem vir a sofrerem modificações, os Estados podem, consequentemente, mudar seus comportamentos e suas posturas (DUQUE, 2009).

Após analisar essas duas áreas das Relações Internacionais, se torna claro como a Diplomacia Verde e a COP podem ser estudadas por eles. Na Escola de Copenhague, encontra-se o princípio que o meio ambiente se tornou um possível motivo de securitização, um exemplo prático são os chamados Títulos Verdes, que significam emissões por governos ou empresas para custear projetos que venham carregar consigo impactos ambientais positivos (DUQUE, 2009).

Ao passar para a análise construtivista, pode-se observar a mudança de conduta dos Estados, onde aqueles que anteriormente não encaravam a pauta ambiental como prioridade passaram a se engajar no âmbito , estando presentes em reuniões como a Conferência das Partes. Porém, faz-se necessário o recorte que há, sim, interesse estratégico por parte dos Estados estarem presentes nessas reuniões, seja por questões econômicas, prática que sai do seio do construtivismo e retorna ao positivismo das Relações Internacionais com a teoria realista.

Para concluir, ao dar espaço para perspectivas Amazônidas sobre a diplomacia verde rumo à COP 30, é crucial dar voz às referências na área de pesquisa que não são apenas Amazônidas, mas são mulheres Amazônidas. Como, por exemplo, a Professora e Pesquisadora Brenda Cardoso de Castro, a Professora Doutora Tienay Costa, a Professora Doutora Mayane Bento e a Pesquisadora Pollyana de Carvalho Bernardes, servindo tanto de representação para às inúmeras doutoras, pesquisadoras e professoras que a Amazônia já produziu quanto de inspiração para futuras mulheres amazônidas que serão, também, referências em suas áreas de pesquisas e especializações.

Após essa análise, conclui-se o tamanho da importância da valorização e propagação das vozes locais para deliberar sobre Amazônia, perspectivas e COP 30. Em uma perspectiva de quem é da Amazônia, se é destacado que a pauta da realização de uma Conferência das Partes na Amazônia não deveria ser alvo de dúvidas, pois, mesmo contendo suas vulnerabilidades de maior metrópole da floresta, incluir os Amazônidas como presença ativa nas tomadas de decisão é inegociável para que a COP 30 venha a ser bem-sucedida (BERNARDES e CASTRO, 2025).

Referências Bibliográficas:

ACORDOS internacionais sobre as mudanças climáticas. As negociações climáticas: mais de três décadas em busca de consensos para combater as mudanças climáticas. Iberdola, [s.d.]. Disponível em: https://www.iberdrola.com/sustentabilidade/acordos-climaticos-internacionais#:~:text=Tanto%20o%20Protocolo%20de%20Quioto%2C%20no%20in%C3%ADcio%2C,supervis%C3%A3o%20dos%20compromissos%20globais%20baseados%20nesses%20acordos. Acesso em: 25 jun. 2025.

ADLER. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, 1999. O construtivismo no estudo das relações internacionais. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-64451999000200011. Acesso em: 19 jun. 2025. 

BERNARDES; CASTRO. The Conversation, 2025. COP 30 cria possibilidade inédita de inclusão de vozes da Amazônia no debate global sobre o clima. Disponível em: https://theconversation.com/cop-30-cria-possibilidade-inedita-de-inclusao-de-vozes-da-amazonia-no-debate-global-sobre-o-clima-252799. Acesso em: 20 jun. 2025.

CONFERÊNCIAdas Partes (COP). United Nations Climate Change [s.d.]. Disponível em: https://unfccc.int/process/bodies/supreme-bodies/conference-of-the-parties-cop. Acesso: 25 jun. 2025. 

CONFERÊNCIA das Partes. Ministério do Meio Ambiente [s.d.]. Disponível em: https://antigo.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/conferencia-das-partes.html#:~:text=Seu%20objetivo%20%C3%A9%20manter%20regularmente,que%20a%20COP%20possa%20adotar. Acesso em: 19 jun. 2025.  

DUQUE. Scielo, 2009. O papel de síntese da escola de Copenhague nos estudos de segurança internacional. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-85292009000300003. Acesso em: 19 jun. 2025.

PAULO. G1, 2023. Tuvalu: conheça o país que pode ser engolido pelo mar e que tenta sobreviver como nação digital. Disponível em: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2023/12/08/tuvalu-conheca-o-pais-que-pode-ser-engolido-pelo-mar-e-que-tenta-sobreviver-como-nacao-digital.ghtml. Acesso em: 23 jun. 2025. SCABIN. Portal de Educação Ambiental, 2025. Linha do Tempo das principais Conferências e eventos da área ambiental na esfera das nações unidas e os principais documentos resultantes. Disponível em: https://semil.sp.gov.br/educacaoambiental/prateleira-ambiental/linha-do-tempo-das-principais-conferencias-e-eventos-da-area-ambiental-na-esfera-das-nacoes-unidas-e-os-principais-documentos-resultantes/. Acesso em: 19 jun. 2025.