Caio Farias – 5 semestre
Lara Lima – Internacionalista
Marcelo Alves – 5 semestre

A pressão global por respostas eficazes às mudanças climáticas posiciona as dinâmicas de produção energética no centro das transformações econômicas e políticas internacionais, marcadas pela substituição progressiva dos combustíveis fósseis por fontes renováveis e tecnologias de baixo carbono. Esse processo desencadeia uma busca predatória de recursos estratégicos como lítio, cobalto, níquel e cobre, fundamentais para a produção de baterias, painéis solares, turbinas e veículos elétricos.


Estes elementos químicos são também chamados de terras raras. A raridade aqui não significa exatamente que são difíceis de serem encontrados na natureza, mas que estão de tal forma misturados em outros elementos ou rochas que exigem tecnologia avançada para extração e para a concentração visando os fins estabelecidos. Dominar esse acesso e essa tecnologia gera altíssimas vantagens competitivas na economia internacional.


A dinâmica cada vez mais urgente de transição energética transforma o mapa geoeconômico mundial, elevando o valor destes insumos e posicionando economias, especialmente alocadas na periferia mundial, como áreas de interesse e estratégicas aos agentes que buscam a adoção do desenvolvimento movido a energia renovável, enquanto intensificam a exploração de recursos naturais, impactando profundamente o meio ambiente e as redes econômicas globais (IRENA, 2019).


Ademais, a necessidade dessa “corrida do ouro verde” no sistema internacional gera nas relações intraestatais uma competição intensa por minerais estratégicos relacionado com energia verde. Entretanto, de 2020 a 2024, a capacidade global de refino desses materiais tornou-se ainda mais concentrada, com a China detendo posição dominante no processamento de minerais críticos, controlando 85-90% do refino global de elementos terras raras e 68% do cobalto mundial (Internacional Energy Agency, 2024).


Com isso, o predomínio e a concentração dessa capacidade de refinação de tais materiais, perpétua e acentua uma dinâmica geoeconômica global no qual baixa parcela de atores obtém o domínio dos principais elos das cadeias de suprimento, aprofundando as desigualdades internacionais.

Grafico 01: Produção e demanda por minerais refinados (2024).

Fonte: Internacional Energy Agency (IEA). 2024. Paris: IEA, 2024

O gráfico acima ilustra visualmente essa concentração, mostrando claramente como a parcela central, sendo os três maiores refinadores, obteve um crescimento ao longo do período. Tal configuração geopolítica atual, eleva a incerteza nos mercados, devido à possibilidade de grandes choques políticos, barreiras comerciais, etc. Destarte, a concentração dos meios de refinação, exacerba a vulnerabilidade internacional em que esses Estados podem impactar significativamente o abastecimento mundial, afetando preços e cadeias globais de produção.


Outrossim, discute-se que essa dependência estrutural intensifica dinâmicas de poder assimétricas entre regiões produtoras e consumidoras. Assim, países periferias, com apenas nichos de mineração, permanecem limitados à extração de matéria‑prima, enquanto as nações centrais capturam os maiores ganhos técnico‑industriais, gerando assim um vínculo de dependência sistêmica.


Além disso, tal assimetria econômica produz profundas consequências socioambientais internacional, enquanto regiões extratoras convivem com degradação e conflitos locais, os ganhos em valor agregado permanecem concentrados nos polos tecnológicos. A partir dessa realidade, aplica-se a Teoria do Sistema‑Mundo de Wallerstein: o que se vê é uma “reinvenção verde” do padrão centro‑periferia.


Apesar do protagonismo concedido aos recursos naturais, a estrutura global reproduz dinâmicas de dominação, onde países centrais dominam o refino e a tecnologia, e os periféricos oferecem apenas insumos, sem romper a subordinação econômica. Em sua obra intitulada “O Sistema Mundial Moderno” (1974), Wallerstein argumenta que as periferias são “propositadamente mantidas em funções marginais e subordinadas”, demostrando os interesses dos países centrais na manutenção dessa assimetria.


Diante desse cenário de assimetrias profundas, torna-se crucial que os países do Sul Global articulem alianças estratégicas entre si, visando fortalecer sua posição nas cadeias globais de valor e ampliar sua capacidade de negociação internacional. A cooperação entre essas nações pode viabilizar investimentos conjuntos em infraestrutura de refino, pesquisa tecnológica e políticas industriais voltadas para o beneficiamento local dos recursos minerais, reduzindo a dependência das economias centrais.


Ao unirem forças, os países periféricos podem não apenas mitigar os impactos socioambientais da exploração predatória, mas também disputar espaços de poder e capturar parte significativa do valor gerado nesse novo modelo de desenvolvimento verde.


A transição energética global, impulsionada pela crescente demanda por minerais estratégicos, tem reposicionado países periféricos como meros fornecedores de matéria-prima. Enquanto isso, as nações mais desenvolvidas concentram as etapas de refino, desenvolvimento tecnológico e captura dos maiores ganhos econômicos. Esse cenário aprofunda as desigualdades estruturais e impõe significativos impactos socioambientais às regiões extratoras, sem modificar a lógica desigual das cadeias globais de produção.

Referências:

FINANCIAL TIMES. Race to control green energy metals sparks refining bottleneck fears. Financial Times, 18 jun. 2025. Disponível em: https://www.ft.com. Acesso em: 12 jul. 2025.

INTERNATIONAL ENERGY AGENCY (IEA). Global Critical Minerals Outlook 2024. Paris: IEA, 2024. Disponível em: https://www.iea.org/reports/global-critical-minerals-outlook-2024. Acesso em: 12 jul. 2025.

INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY. Geopolitics of the Energy Transition: Critical Materials. Abu Dhabi: IRENA, 2023. Disponível em: https://www.irena.org/Publications/2023/Jul/Geopolitics-of-the-Energy-Transition-Critical-Materials. Acesso em: 14 jul. 2025.

WALLERSTEIN, Immanuel. O sistema mundial moderno: a agricultura capitalista e as origens da economia-mundo europeia no século XVI. Trad. Rui Barcellos. 3. ed. São Paulo: Vozes, 2004.