Caio Farias – 6 semestre
Lara Lima – Internacionalista
Marcelo Alves – 6 semestre

Ao analisar o Sistema Internacional com o intuito de discorrer acerca dos blocos econômicos, o Mercosul e a União Europeia (UE) se destacam como os principais nomes relacionados a essa temática, devido sua importância continental, internacional e, principalmente, ao elevado nível de integração de ambos os blocos. Dessa forma, parcerias e a criação de acordos que interligam esses dois grandes blocos geram diversos impactos econômicos, tanto no cenário internacional quanto, especificamente, no contexto regional das economias sul-americanas.
O debate em torno de parcerias comerciais entre o Mercosul e a União Europeia tem ganhado relevância, especialmente para a América do Sul, que busca diversificar suas exportações e reduzir a dependência do mercado norte-americano. Essa discussão se intensificou em 2025, após a imposição de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros por parte do presidente Donald Trump (AGÊNCIA BRASIL, 2025), além de outras sanções aplicadas a membros de ambos os blocos, o que acabou impulsionando o avanço da parceria.
Além disso, as retomadas das negociações e reafirmação do compromisso de assinatura deste acordo ocorrerá em um momento de modificação da estrutura do sistema internacional onde a busca por novos mercados e a proteção de suas economias se torna essencial, por isso o plano de efetivação da abertura de mercado, redução das barreiras tarifárias e ampliação de acesso a bens e serviços acontecerá de forma gradual e progressiva, visando a adequação dos mercados a novas competições. (GOV, 2024)

Fonte: AGÊNCIA SENADO, 2019.

Como evidenciado no gráfico acima, as trocas comerciais entre o Mercosul e a União Europeia apresentaram crescimento consistente a partir dos anos 2000, com nova retomada a partir de 2017. Esse movimento consolidou a União Europeia como um dos principais parceiros comerciais do bloco sul-americano, destacando o comércio entre as organizações como um dos maiores volumes de intercâmbio comercial entre blocos econômicos no sistema internacional.
Com isso, pesquisas como do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), afirmam que o acordo entre as organizações representa uma oportunidade de acréscimo no PIB e maior quantidade de investimento nos principais setores de exportação dos países membros do Mercosul, como exemplo o Brasil, com um aumento no PIB de 0,46%, representando US$ 9,3 bilhões. Além de um aumento estimado de 1,49% no investimento externo, abrangendo quase todos os segmentos do agronegócio. (GOV, 2019)
Ademais, os países do Mercosul buscam expandir as trocas comerciais com a União Europeia como estratégia para fomentar o desenvolvimento industrial, por meio da importação de tecnologias europeias, ampliando a capacidade produtiva, modernizando setores estratégicos e, simultaneamente, fortalecendo as exportações de matérias-primas, promovendo maior integração às cadeias globais de valor.
Entretanto, caso não sejam tomadas as medidas de proteção necessárias, o acordo pode representar o oposto das expectativas, como a perpetuação de um sistema de dependência e subdesenvolvimento na América do Sul, de acordo com os pensamentos do teórico Raúl Prebisch (1949), que afirma que o sistema de trocas internacionais é desigual, argumentando que os países da periferia mundial exportam produtos de baixo valor agregado e importam bens industrializados do centro, o que mantém a posição subordinada desses países na economia global.
Portanto, o acordo pode ser interpretado como um mecanismo de perpetuação das assimetrias estruturais que historicamente marcam o sistema internacional, reafirmando a lógica das trocas desiguais e aprofundando a dependência externa. A entrada facilitada de produtos europeus tende a fragilizar as cadeias produtivas nacionais, dificultando o fortalecimento da indústria local, limitando as possibilidades de desenvolvimento autônomo e aumentando o desemprego em áreas menos preparadas para competir no mercado global.
Além disso, dados da CNN (2024) indicam o decréscimo em alguns setores industriais, como o de equipamentos elétricos (-1,6% na produção), máquinas e equipamentos (-1,0%), produtos farmacêuticos (-0,6%), têxteis (-0,5%) e produtos metalúrgicos (-0,4%).
O acordo entre o Mercosul e a União Europeia revela-se uma iniciativa de grande impacto, com potencial para estimular o crescimento econômico dos países sul-americanos. Entre os principais benefícios estão o aumento do PIB, a ampliação das exportações e a atração de investimentos externos, sobretudo no agronegócio e na modernização da indústria por meio da incorporação de tecnologias europeias. Essas oportunidades podem contribuir para inserir a região de forma mais competitiva nas cadeias globais de valor, promovendo maior integração ao comércio internacional.
No entanto, esse cenário otimista convive com riscos estruturais relevantes. A abertura comercial ampla pode agravar a dependência econômica em relação aos países europeus, enfraquecendo setores industriais locais e gerando impactos negativos no emprego e na produção, especialmente em segmentos menos preparados para enfrentar a concorrência externa.
Nesse contexto, é fundamental que os países do Mercosul implementem políticas públicas voltadas à proteção e fortalecimento de suas economias, a fim de equilibrar os efeitos do acordo e evitar o aprofundamento das assimetrias históricas que marcam as relações entre centro e periferia no sistema internacional. No atual contexto das relações comerciais internacionais, com a imposição de pesadas tarifas dos EUA aos seus parceiros comerciais, é alvissareira a possibilidade desse acordo entre Mercosul e UE, bem como a ampliação de portfólio comercial com países do sul global.

Referências:

AGÊNCIA BRASIL. Em carta a Lula, Trump anuncia tarifa de 50% a produtos brasileiros. 2025. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2025-07/em-carta-lula-trump-anuncia-tarifa-de-50-produtos-brasileiros. Acesso em: 23 jul. 2025.


AGÊNCIA SENADO.Acordo Mercosul-UE deve baratear produtos, mas forçar eficiência e produtividade. Brasília.2019. disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2019/08/acordo-mercosul-ue-deve-baratear-produtos-mas-forcar-eficiencia-e-produtividade Acesso em: 24 jul. 2025.


CNN. Estudo do Ipea aponta quem ganha e quem perde no acordo UE-Mercosul. Brasília. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/estudo-do-ipea-aponta-quem-ganha-e-quem-perde-no-acordo-ue-mercosul Acesso em: 24 jul. 2025.


GOV. Acordo de Parceria Mercosul-União Europeia. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Brasília. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/mdic/pt-br/assuntos/noticias/2024/dezembro/acordo-de-parceria-mercosul-uniao-europeia Acesso em: 24 jul. 2025.


GOV.Acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia traria benefícios econômicos para o Brasil. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasilia. 2024. disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/categorias/45-todas-as-noticias/noticias/14875-acordo-de-livre-comercio-entre-mercosul-e-uniao-europeia-traria-beneficios-economicos-para-o-brasil Acesso em: 24 jul. 2025.


PREBISCH, Raúl. O desenvolvimento econômico da América Latina e seus principais problemas. Santiago: CEPAL, 1949. Disponível em: https://archivo.cepal.org/pdfs/cdPrebisch/003.pdf Acesso em: 24 jul. 2025.